20/04/2024 - Edição 540

Brasil

Número de focos de queimadas na Amazônia em 2019 não é o menor desde 1998

Publicado em 29/08/2019 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Não é verdade que os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) indiquem que o número de focos ativos de queimadas na região amazônica seja o menor desde 1998, como afirmam publicações que circulam nas redes sociais. Apesar de apresentarem um gráfico com números reais do órgão, as postagens (veja aqui) erram ao estabelecer uma comparação entre os números registrados entre janeiro e agosto de 2019 com os aferidos entre janeiro e dezembro dos anos anteriores.

Em comparação que considere o mesmo período (o intervalo entre janeiro e agosto), é possível observar que o número de focos de incêndio na Amazônia em 2019 é superior ao verificado em 2018 e 2017, por exemplo.

Difundida principalmente no Twitter, a publicação foi compartilhada cerca de 4.600 vezes na rede social. No Facebook, onde também circulou em perfis pessoais, as publicações tiveram cerca de 100 comparilhamentos, todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento da plataforma (veja como funciona).

FALSO – Site do Inpe. Em 2019 é o ano de MENOR queimada desde 1998!!!

Com números reais do Inpe apresentados em um gráfico, publicações que circulam nas redes sociais argumentam que a quantidade de focos de queimadas na Amazônia em 2019 é a menor desde 1998. No entanto, os dados apresentados na série histórica mostram apenas oito meses de 2019 (janeiro a 21 de agosto) e 12 meses completos dos anos anteriores. Para que a comparação fosse correta, seria preciso considerar os números de períodos equivalentes.

Quando observados os dados do Inpe de janeiro a julho (último mês completo deste ano), 2019, com 15.924 focos de queimadas na Amazônia, já é o ano com maior número desde 2016, quando foram registrados 17.993. Em comparação com 2018, o número deste ano já apresenta um crescimento de 35,6%.

Mesmo com o mês incompleto, agosto de 2019 também tem o maior número de focos de queimadas para o mês desde 2010. De janeiro ao último dia 22, foram registrados 39.601 focos de incêndio na Amazônia. Esse total é superior ao registrado nos oito primeiros meses completos do ano desde 2010.

Também não é correto afirmar que as queimadas deste ano estejam em consonância com a média histórica. Considerando os valores dos sete primeiros meses fechados do ano, chegamos a um total de 15.924 focos de incêndio. A soma é maior do que a média registrada nos últimos 20 anos, que é de 14.197.

No Twitter, um dos disseminadores da gráfico foi o empresário catarinense Luciano Hang, cuja publicação foi retuitada ao menos 600 vezes. No Facebook, deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também fez postagem semelhante e obteve mais de 4.000 compartilhamento. Aos Fatos entrou em contato com os dois para que comentassem a publicação, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

100 mil ONGS

Publicações nas redes sociais (veja aqui) enganam ao citar que a Amazônia tem hoje mais de 100 mil organizações não governamentais em atuação, ao passo que não há nenhuma na região Nordeste. Nos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão), existem 15.919 ONGs. O Nordeste tem 44.496 delas. Os dados foram coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2016, e são os últimos disponíveis do instituto.

Há variações da peça de desinformação (veja aqui) que atribuem o número de 100 mil ONGs somente ao estado do Amazonas, que, na verdade, conta com 1.462 organizações em atuação, segundo o IBGE.

Já de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que contabiliza o número de organizações da sociedade civil, enquanto o Estado do Amazonas possui 11.632 OSCs e a Amazônia Legal 105.931, o Nordeste tem 205.182.

As publicações que trazem os números falsos circulam juntamente com imagens e textos nas redes sociais. Só no Facebook, elas acumulavam ao menos 6.000 compartilhamentos até a tarde desta sexta-feira (23). Todas as publicações foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).O material também foi enviado por leitores do Aos Fatos no WhatsApp como sugestão de checagem (inscreva-se aqui).

FALSO – Amazonas: 100 mil ONGs. Nordeste: 0 ONGs.

Pelo menos duas peças de desinformação circulam nas redes sociais afirmando que há 100 mil ONGs em atuação na Amazônia. Uma delas se refere especificamente ao estado do Amazonas e diz, ainda, que o Nordeste não tem nenhuma organização do tipo. No entanto, de acordo com a edição mais recente da pesquisa “As fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil”, produzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2016, existem 1.462 fundações e associações sem fins lucrativos no Amazonas, 15.919 nos nove Estados da Amazônia Legal — Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão — e 44.496 no Nordeste.

Se levarmos em consideração apenas as entidades que, segundo o IBGE, atuam nas áreas de meio ambiente e proteção animal, defesa de direitos de grupos e minorias, outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos, há apenas 517 ONGs nos Estados compreendidos pelo bioma, 38 delas no Amazonas. Em comparação, o Nordeste tem 1.231 ONGs nas áreas citadas, sendo 169 atuantes na proteção do meio ambiente.

Esta é a quarta edição do estudo feito pelo IBGE, que publicou levantamentos também em 2002, 2005 e 2010. Os dados utilizados pelo instituto foram retirados do CEMPRE (Cadastro Central de Empresas) e estão disponíveis no SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática).

O Mapa das OSCs (Organizações da Sociedade Civil) do Ipea também traz números que desmentem o boato. Segundo a base de dados, em 2016, o Estado do Amazonas possuía 11.632 organizações em todas as áreas de atuação, enquanto o Nordeste tinha 205.182. Se considerarmos todos os nove estados da Amazônia Legal, há 105.931 organizações na região em todas as áreas de atuação.

Vale ressaltar ainda que ONGs não possuem natureza jurídica. O nome é dado às entidades do terceiro setor que realizam atividades de fins públicos sem integrar o governo. Em 2016, com a lei nº 13.019/2014, as entidades privadas sem fins lucrativos foram nomeadas como OSC (Organizações da Sociedade Civil).

Origem do número. O dado de 100 mil ONGs na Amazônia aparece em uma nota da Câmara dos Deputados de 2007. Segundo o texto, o Ministério da Defesa estimava, na época, que este seria o número de organizações atuando no bioma, mas que apenas 230 estavam cadastradas. Aos Fatos requisitou o levantamento ao ministério e questionou como foi feita a estimativa, mas, até a publicação desta checagem, não houve retorno.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *