20/04/2024 - Edição 540

Brasil

Após cancelar contrato de radares fixos em rodovias, Bolsonaro quer acabar com radares móveis

Publicado em 24/05/2019 12:00 -

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O presidente Jair Bolsonaro disse na quinta-feira (23) que  conversou com o ministro Sergio Moro , da Justiça e Segurança Pública, para "acabar" com radares móveis em rodovias. Isso porque a Polícia Rodoviária Federal (PRF) é subordinada à pasta de Moro. A conversa com jornalistas e apoiadores no Paraná foi divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência.

“Tô agora conversando com o Sergio Moro, que a PRF tá no comando dele, nós queremos acabar com os radares móveis também, que é uma armadilha para pegar os motoristas”, disse o presidente, repetindo a decisão já anunciada de não renovar radares fixos nas estradas: “Tomei a decisão, entrei em contato com o ministro Tarcísio (Freitas), que é da Infraestrutura. Quando conversei com ele, por coincidência, tinha oito mil e poucos novos pedidos de radar em rodovias federais do Brasil todo. Nós engavetamos aquilo lá”.

O presidente disse que acertou com o ministro que qualquer radar ou "pardal" não será revalidado ao término do prazo de validade dos contratos. Ele também citou a redução de acidentes em rodovias no feriado da Semana Santa — de 11% em relação ao mesmo período do ano passado — para argumentar contra os radares. “Você tem que estar preocupado com a sinuosidade da estrada, e não se um tem um pardal escondido atrás da árvore”.

O presidente reiterou que deve se encontrar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para acertar mudanças no Código de Trânsito, entre elas o aumento do número de pontos necessários para perder carteira e validade da carteira de habilitação. A ideia, segundo ele, é passar de 20 para 40, mas "o ideal" seria 60. Ele admitiu, contudo, que enfrentaria dificuldades nessa hipótese.

Bolsonaro afirmou que pretende acabar também com os simuladores usados no processo de habilitação. “É um absurdo gastar quase R$ 2 mil pra uma carteira de motorista —reclamou o presidente”.

Em sua transmissão semanal no Facebook, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o cancelamento de radares fixos em rodovias. “Não tem local de risco. Ninguém é otário de ter uma curva na frente, uma ribanceira, o cara entrar a 80, 90, a 100 por hora. Não é otário, não faz isso aí. Não precisa ter um pardal para multar o cara lá”.

Enquanto isso, no mundo real…

O trânsito mata cinco pessoas e manda para o hospital 20 pacientes a cada hora no Brasil. Ao todo mais de 1,6 milhão de pessoas ficaram feridas em dez anos ao custo de R$ 3 bilhões ao SUS (Sistema Único de Saúde) e 438 mil pessoas morreram no período.

Os dados serão apresentados hoje pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), que realiza em Brasília um evento nacional para tratar do problema. De acordo com o estudo, a imprudência é a principal razão para os desastres, que atingem principalmente os homens, 80% das vítimas, a maioria formada por jovens.

Em 60% dos casos, quem morre tem idade entre 15 e 39 anos, enquanto 8,2% têm de zero a 14 anos e 8,4% são maiores de 60 anos. "Esses acidentes não são obra do acaso. A maioria é provocada por imprudência passível de prevenção", afirma o médico Antônio Meira, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) e membro do CFM.

Nas regiões Sul e Sudeste os óbitos caíram, respectivamente, 15% e 18% entre 2007 e 2016. Na região Norte, a mortalidade por acidentes subiu 30%, enquanto no Nordeste o crescimento foi de 28%. Na região Centro-Oeste, a alta foi de 7%.

Um número impressionante vem do Piauí: mortes saltaram de 670 para 1.047 entre 2007 e 2016, ou um aumento de 56%. A razão para esses aumentos pode ser a motocicleta.

"Provavelmente os números no Norte e Nordeste se devem ao aumento exponencial da moto. Ela substituiu o cavalo nessas regiões nos últimos anos", diz Meira. "É um meio de transporte barato, fácil de ser financiado, mas é também mais vulnerável a acidentes graves, já que os pilotos são menos visíveis no trânsito, disputam espaço com veículos maiores e, sem proteção, sofrem lesões graves, sujeitas a internações."

Acidentes lotam hospitais

Entre 2009 e 2018, as internações por acidente de trânsito cresceram 33% em todo o Brasil. Tocantins viu suas estatísticas explodirem: saiu de 60 internações, em 2009, para 1.348 no ano passado, 2.147% de aumento. É seguido por Pernambuco, com salto de 725% na última década. Apenas Maranhão (-40%), Rio Grande do Sul (-22%), Paraíba (-20%), Distrito Federal (-16%) e Rio de Janeiro (-2%) registraram queda nesse índice.

Meira lembra que "essas internações são mais onerosas para o Estado" porque estão relacionadas a "politraumas", responsáveis por cirurgias complexas, como neurológicas, vasculares e ortopédicas. "Eles ficam mais tempo internados, precisam de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e, por isso, geram mais prejuízo financeiro."

Prejuízo de R$ 3 bilhões ao SUS

As 20 internações por hora causadas por acidentes no trânsito custaram R$ 3 bilhões ao SUS em dez anos, R$ 290 milhões por ano, apenas para os cofres federais. "Não entra na conta o custo para os hospitais municipais e estaduais", diz Meira.

A solução, diz, também é investir em alertas. "A cada 1 dólar gasto com prevenção, economiza-se 6 dólares", calcula. "O Ministério da Saúde deveria participar de campanhas de prevenção. Isso diminuiria as internações e reduziria as pensões para segurados que recebem benefício pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por ficarem incapacitados para o trabalho."

Ele sugere que parte dos R$ 3 bilhões economizados com prevenção deveria ser reinvestida "em fiscalização para diminuir a impunidade no trânsito". "Como não será possível evitar todos os acidentes, outra sugestão é investir no atendimento pré-hospitalar, resgate e tratamento dos lesionados."


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