24/04/2024 - Edição 540

Especial

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Publicado em 19/08/2014 12:00 -

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Embora os benefícios proporcionados pelo avanço tecnológico sejam indiscutíveis, a questão envolvendo tecnologias digitais e privacidade ainda é permeada por uma série de paradoxos, cada um deles com sérias implicações para consumidores, empresas e os fornecedores de tecnologia, conforme revela o Índice EMC de Privacidade, estudo global realizado pela EMC, fornecedora de soluções de armazenamento e gerenciamento da informação, que avalia as atitudes dos consumidores em relação à privacidade online.

O estudo, para o qual foram entrevistadas 15 mil pessoas, revela que os pontos de vista sobre privacidade variam muito conforme a região e o tipo de atividade realizada online. No caso do Brasil, que ficou na 5ª posição entre os 15 países avaliados, 26% dos entrevistados disseram estar dispostos a negociar a privacidade para maior conveniência online, enquanto 56% declararam que não trocariam a privacidade pela conveniência e desejam mais controle sobre seus dados pessoais.

Usuários de mídias sociais revelaram ter a menor confiança na ética e nas habilidades das organizações em relação à proteção de sua privacidade.

Assim como nos demais países, no Brasil, os usuários de mídias sociais revelaram ter a menor confiança na ética e nas habilidades das organizações em relação à proteção de sua privacidade. O estudo mostra que 58% declaram ter confiança nas habilidades dos fornecedores para proteger dados pessoais e 53% disseram ter confiança na ética dessas organizações, o que coloca o país entre os menores índices de confiança.

O uso de sites de mídia social continua explosivo, apesar de os entrevistados brasileiros suporem que sua privacidade será mais difícil no futuro. No geral, a confiança na privacidade no país é baixa. Dos entrevistados no Brasil, 71% disseram que sentem ter menos privacidade agora do que há um ano. Além disso, 73% acreditam que a privacidade será mais difícil de manter nos próximos cinco anos. Para 89% dos usuários brasileiros de mídias sociais devem existir leis que proíbam as empresas de comprar e vender dados pessoais, sem consentimento.

No Brasil, 76% dos entrevistados relataram já ter sofrido violação de dados (conta de e-mail invadida; dispositivo móvel perdido ou roubado; conta de mídia social invadida, etc.), embora muitos deles não tenham tomando medidas para se proteger — 56% não trocam as senhas regularmente; 19% não personalizam as configurações de privacidade nas redes sociais; e 33% não usam proteção por senha nos dispositivos móveis.

Paradoxos globais

Entre os paradoxos apontados pelo Índice EMC de Privacidade está o do "queremos tudo". Os consumidores querem todas as conveniências e benefícios da tecnologia digital, embora digam que não estão dispostos a negociar sua privacidade para obtê-los. Segundo o levantamento, 91% dos participantes valorizam o benefício de "acesso mais fácil à informação e ao conhecimento" que a tecnologia digital proporciona, mas apenas 27% dizem estar dispostos a trocar parte da privacidade por maior conveniência e facilidade online.

Além disso, 85% dos entrevistados disseram valorizar "o uso da tecnologia digital para proteção contra atividade terrorista ou criminosa". Entretanto, apenas 54% se dizem dispostos a trocar parte de sua privacidade por essa proteção. Os participantes acima de 55 anos, em uma amostragem de países, dizem estar menos dispostos a trocar a privacidade pela conveniência e desejam mais controle sobre seus dados pessoais.

Outra contradição está no que a empresa classifica como "não tomar atitude". Embora os riscos à privacidade afetem diretamente muitos consumidores, a maioria diz que não toma praticamente nenhuma atitude especial para proteger sua privacidade — em vez disso, transferem o ônus para os que lidam com suas informações, como o governo e as empresas.

Mais da metade dos entrevistados relatou já ter sofrido violação de dados, embora a maioria não tenha realizado as ações necessárias para proteger sua privacidade — 62% não trocam as senhas regularmente; quatro em cada dez pessoas não personalizam as configurações de privacidade nas redes sociais; e 39% não usam proteção por senha nos dispositivos móveis.

Riscos à privacidade

Entre os principais riscos para o futuro da privacidade, os participantes listaram empresas que usam, vendem ou negociam dados pessoais para obter ganho financeiro (51%) e a falta de atenção do governo (31%). De modo similar, "a falta de supervisão e atenção das pessoas comuns como eu" teve uma classificação muito baixa (11%). Em uma amostragem com pessoas acima de 55 anos, foi relatado que elas são muito menos propensas a proteger com senha seus dispositivos móveis ou a alterar as configurações de privacidade em suas redes sociais.

Por fim, há o paradoxo do "compartilhamento social". Os usuários de sites de mídia social afirmam valorizar a privacidade, embora compartilhem livremente grandes volumes de dados pessoais — apesar de manifestarem falta de confiança na proteção que essas instituições dão a suas informações.

Há uma convicção entre os consumidores de que as instituições têm pouca habilidade e ética para proteger a privacidade dos dados pessoais em sites de mídia social — apenas 51% declaram ter confiança nas habilidades desses fornecedores para proteger dados pessoais e apenas 39% declaram ter confiança na ética dessas organizações.

A grande maioria dos consumidores (84%) afirma não gostar que alguém saiba qualquer coisa a seu respeito ou sobre seus hábitos, a menos que a decisão de compartilhar essas informações seja sua. Em outra amostragem, os entrevistados acima de 65 anos estão significativamente mais preocupados com sua privacidade e revelam ter pouquíssima disposição para permitir que outras pessoas conheçam seus hábitos online.

Ética de rede

Advogado por formação, Ronaldo Lemos fez seu nome e carreira no setor de tecnologia. É considerado um dos pais do recém aprovado Marco Civil da Internet, e está envolvido – ao menos indiretamente – em debates delicados: da questão da privacidade na web a novas formas de criar uma rede mais aberta, segura e inovadora.

Para ele, não há nada que possamos fazer hoje para evitar sermos monitorados  – pelas empresas, pelo governo ou por qualquer outro indivíduo na rede. Pelo menos não sob uma perspectiva individual. A privacidade já é uma exigência do passado. Em meio a polêmicas recentes envolvendo espionagens e experimentos do Facebook, Ronaldo defende a importância da pesquisa ampla com dados – algo essencial ao "desenvolvimento do Brasil". Ao mesmo tempo, vê alternativas para lidar com o ônus da falta de segurança e privacidade. A solução não tem que ser pensada individualmente, acredita. É algo que só seria possível com a mobilização da sociedade e a luta por leis de proteções de dados, por exemplo. Neste caminho, também defende iniciativas das próprias empresas de tecnologia. Para ele, a criação de conselhos de ética é uma boa solução para evitar abusos e avaliar até que ponto dados pessoais podem ser utilizados em experimentos corporativos. 

Ronaldo reflete sobre os dilemas causados pelo uso de dados pessoais por empresas e governos – e como poderíamos lidar com eles. Lemos também fala sobre o cenário de inovação brasileiro e sobre a falta de incentivo aos "nossos jovens empreendedores". "Fico impressionado ao ver que as eleições estão chegando e este não é o tema principal das campanhas. Quem quiser pensar o Brasil estrategicamente, precisa pensar nesses jovens. São eles que irão desenvolver os modelos de negócios que serão relevantes neste século". 

9 conselhos para proteger sua privacidade na internet

São tempos difíceis para a privacidade. A NSA nos vigia, e falhas de segurança gigantescas, como o famoso Heartbleed, deixam em evidência o quanto somos vulneráveis na rede. Todos os dias, contas de e-mail são invadidas, conversas são espiadas e arquivos são roubados com o objetivo de nos assediar ou chantagear.

Isso ocorre, na maior parte das vezes, devido nossas distrações ao usar a internet. Mas são erros que podemos evitar: com muito pouco esforço, é possível impedir quase totalmente os rastreamento, inclusive de governos. Não se trata de fugir, mas sim de se fazer menos visível e de deixar rastros pouco evidentes.

Use múltiplas contas e identidades

Você é uma pessoa com nome e sobrenome, e é normal que isso seja assim também na internet. Mas nem sempre. Assim, seu correio eletrônico pessoal e seu perfil no LinkedIn podem usar seu nome real. Mas você não deve sacrificar esse nome.

Abra contas alternativas que não possam ser ligadas à sua pessoa. Use senhas distintas e salve-as em um gerenciador de códigos secretos como o Keepass. Procure acessá-las fora dos lugares habituais.

Uma forma cômoda de gerenciar múltiplas identidades em um mesmo browser é por meio dos perfis do navegador. No Chrome, é uma função padrão, e no Firefox deve ser ativada pelo usuário.

Leve arquivos e apps na sua memória USB

Quando você usa programas em um PC público, como o de uma biblioteca ou o de um cybercafé, está se expondo ao roubo de seus dados por meio dos rastros que deixa no PC ou de programas modificados.

Compre uma memória USB e preencha-a com as versões portáteis de seus programas favoritos: ao executá-los a partir do pendrive, você minimiza o risco de deixar pegadas por onde passe e mantém o controle sobre os programas usados.

Também há sistemas operacionais que são iniciados a partir de uma memória USB preparada para isso (por exemplo, com o Yumi). O mais recomendado é o TAILS, que usa a rede Tor para tornar toda a navegação anônima.

Quando você usa programas em um PC público, como o de uma biblioteca ou o de um cybercafé, está se expondo ao roubo de seus dados.

Feche perfis abandonados ou pouco usados

Quantas contas você tem? Tente se lembrar. Talvez muitas delas estejam abandonadas. Talvez ainda sejam usadas esporadicamente. Mas essas contas estão na rede e alguém poderia usá-las para encontrá-lo.

O que é pior: uma conta social, um blog ou um velho site podem supor um golpe à sua reputação online. Quem busca seu nome no Google poderia encontrar todo tipo de informações sobre seu passado e usá-las contra você.

Faça uma limpeza. Feche as contas que você não usa. Peça que seus dados sejam apagados. Quando algo é publicado na internet, pode se multiplicar até que seja impossível de apagar.

Aprenda a cifrar suas comunicações

A maioria de seus dados está desprotegida. Qualquer um poderia acessá-los e ler esses materiais se conseguir acesso físico ou remoto ao seu PC ou telefone. Mas é possível evitar ou dificultar o problema recorrendo à criptografia.

Cifrar ou criptografar significa transformar seus dados para que ninguém mais possa lê-los. Usam-se chaves e tecnologias sofisticadas, algumas das quais nem os países mais poderosos podem romper. Uma criptografia forte garante sua privacidade.

A criptografia já é usada em muitos aplicativos que você acessa diariamente, mas, quase sempre, de modo invisível. Se você usa a criptografia dos dados, dispõe de uma proteção adicional.

Use um PC sem conexão para assuntos confidenciais

Se você tem documentos realmente importantes e não quer correr nenhum risco associado à conexão de internet, pode usar um PC desconectado (em inglês, esta prática se chama air gap ou air wall, literalmente “muro de ar”).

Para mover os documentos do PC isolado a outro computador conectado, você pode usar memórias USB. Também é útil desabilitar totalmente o Wi-Fi e utilizar apenas CD e DVD para transferir arquivos.

Um computador velho que tenha em casa é o candidato ideal para o air gap: você pode eliminar os programas desnecessários, manter o velho sistema e continuar usando-o para editar documentos que não deseja que vazem na internet.

Não compartilhe arquivos de forma irresponsável

Compartilhar arquivos tem um lado bom e outro ruim. O lado bom é que você põe uma foto ou um documento ao alcance de outras pessoas. O outro é que, junto com esse arquivo, está dando também informações ocultas.

Seja consciente de que muitos arquivos contêm metadados, dados invisíveis como o lugar no qual você fez uma foto ou quem é o autor do documento. Limpe os metadados antes de compartilhar com utilitários como Doc Scrubber e MetaStripper.

Um risco adicional vem dos apps que sincronizam dados sem a sua permissão. Desative a publicação automática de fotos e arquivos nos teus apps favoritos. No Android, por exemplo, você pode desativar a sincronização automática com o Google+.

Desconfie de mensagens e ofertas incríveis

Se algo parece muito bonito para ser verdade, desconfie. O uso de promessas atrativas é uma técnica muito empregada pelos cibercriminosos para levar você a compartilhar informações pessoais.

Trata-se, afinal, de ter bom senso. A internet é um reflexo do mundo, não um parque de diversões. Não preencha nunca formulários de maneira irresponsável e desconfie de e-mails suspeitos. Nas redes sociais como o Twitter, não clique em todos os links.

Golpes e enganos no Facebook e em outros sites estão na pauta do dia. Sua missão não é clicar em tudo o que vir, mas sim apenas no que o interessar e transmitir confiança. Se você se enganar, denuncie o fato para que outros não passem pela mesma situação.

Se algo parece muito bonito para ser verdade, desconfie. O uso de promessas atrativas é uma técnica muito empregada pelos cibercriminosos.

Restrinja o acesso ao seu PC e telefone celular

Entre 30 e 60% das pessoas não usam sistemas de bloqueio em seus celulares. Ao não habilitar sistemas de bloqueio (como PIN, padrões ou senhas), milhões de pessoas expõem seus dados a roubos.

Aprenda a bloquear o PC e o telefone celular. Se tem uma memória ruim para números e senhas, não se preocupe, pois existem sistemas bastante intuitivos como os padrões do Android e as senhas fotográficas do Windows 8.

Para os mais preguiçosos, existem sistemas de bloqueio que não exigem a memorização de nada, como a identificação do rosto (Blink) ou o uso de uma memória USB como chave de segurança (Predator).

Comporte-se como se estivesse em público

Nenhum aplicativo, por mais seguro que pareça, pode garantir privacidade total. Se fizer isso, está mentindo. Você deve considerar todos os sistemas de comunicação como potencialmente inseguros.

O que é mais eficaz é agir como se você estivesse em público: com naturalidade, bom senso e discrição. E às vezes, com máscara, como expliquei no primeiro ponto. Não chame a atenção e não faça besteiras.

Comece a reconquistar sua privacidade

É tentador pensar que nossa privacidade não está em perigo. Afinal, quem se importa com o que fazemos e dizemos na rede? Pela minha experiência, este tipo de pensamento a curto prazo tem mais inconvenientes que vantagens. Quando você menos esperar, a despreocupação pode mostrar seus efeitos negativos.

Você não tem porque seguir todos estes conselhos. E pode aplicar os que mais se encaixem na sua situação ou os que pareçam mais simples. Inclusive, pode optar por não seguir nenhum deles, sempre e quando fique com a mensagem principal de que qualquer coisa que diga ou faça na rede pode ser usada contra você algum dia.


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