27/04/2024 - Edição 540

Brasil

Brasil, um ‘gigante’ de plástico

Publicado em 16/05/2019 12:00 -

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Nos supermercados do Brasil, o quarto maior produtor de plástico do mundo, as sacolas são desperdiçadas. Caixas e clientes as usam para guardar um único produto: uma escova de dentes, um pacote de chicletes, um refrigerante. É um fenômeno generalizado, uma característica quase cultural de um país em que 1,5 milhão de sacolas são distribuídas por hora.

"No Brasil, o desenvolvimento do mercado de produção de plásticos baseou-se na necessidade de maior praticidade no dia-a-dia, mas quase nada do que é fácil não venha com um custo incorporado. Hoje estamos nos dando conta do grande problema em que chegamos, que é o direcionamento de plásticos para a natureza ", explica à RT Vinícius Nora analista de Conservação Marinha do WWF Brasil.

Garrafas, copos, roupas, mesas, cadeiras, brinquedos: como em muitos países, no Brasil, o plástico está em toda parte, apesar dos contínuos avisos de que "está afogando o planeta".

Um estudo realizado pela WWF, intitulado "Solução ao Plástico: Contaminação Assumindo Responsabilidades", indica que a soma do plástico produzido globalmente antes de 2000 é a mesma que a gerada nos últimos 16 anos. Em 2016, a produção atingiu 396 milhões de toneladas, o que significa um consumo de 53 quilos de plástico por pessoa. São dados alarmantes e, no entanto, continuamos consumindo-o.

Na cabeça, os principais produtores de plástico são os EUA, China, Índia e Brasil, que com 209 milhões de habitantes consomem 11,3 milhões de toneladas por ano, dos quais apenas 145 mil toneladas se reciclam, ou 1,28%.

Segundo Nora, o grande desenvolvimento comercial que o Brasil experimentou nas últimas décadas foi em grande parte devido aos plásticos de uso único (canudos, copos, pratos, talheres, recipientes para alimentos…).

Mar de plástico

A maneira de se livrar do plástico normalmente é incinerá-lo, lançando-o de forma irregular em lixões ou aterros sanitários, onde leva até 400 anos para se decompor. Mas muito acaba no mar.

O WWF estima que todos os anos despejamos oito milhões de toneladas de plástico no mar, o que equivale a descarregar um caminhão de lixo nos mares a cada minuto.

As consequências são desastrosas para a vida selvagem, os ecossistemas e o clima. Cerca de 100 mil animais morrem asfixiados por plástico ou envenenados todos os anos. Tartarugas e aves marinhas confundem plástico com comida, enquanto humanos se alimentam de animais que ingerem microplásticos. As previsões sugerem que em 2050 haverá mais plástico do que peixes no mar.

"O Brasil tem uma rede imensa de bacias hidrográficas, talvez a maior do mundo, o plástico chega aos oceanos, na maioria dos casos, aqui, pelos rios", diz Nora.

Infelizmente, diz ele, cenas de pessoas brincando com sacos de lixo no rio ou grandes depósitos de lixo perto de canais ainda são comuns. O destino deste lixo é a praia, o mar, os mangues ou o estômago de uma tartaruga.

Por sua vez, Alexandre Turra, professor do Instituto Oceanográfico do Brasil, enfatiza que não há estatísticas específicas sobre o nível desse tipo de lixo no mar. "Nos locais que foram avaliados, principalmente praias, há uma predominância de produtos plásticos, como no resto do mundo, com um percentual que varia entre 80% e 90%".

O exemplo das latas de alumínio

Para Nora, o único caminho possível é transformar a cadeia produtiva do plástico em um sistema de economia circular, ou algo similar. "Como fizemos com a reciclagem de latas de alumínio, por exemplo, é preciso aumentar nossa taxa de reciclagem e garantir políticas públicas", afirma.

Além da campanha global "Oceano sem Plástico", lançada pelo WWF e apresentada na Assembleia do Meio Ambiente da ONU em Nairóbi (Quênia), alianças estão sendo feitas com o setor privado, empresários e designers para encontrar soluções em negócios, políticas públicas e campanhas de engajamento que contribuam para melhorar o problema.

No ano passado, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira a proibir o uso de canudos, iniciativa insuficiente para Turra, que acredita que, além disso, os municípios devem garantir um sistema seletivo de coleta, reciclagem e economia circular que previne a poluição ambiental.

"Uma das formas de combater o lixo marinho é produzir riqueza e distribuí-la para que não haja pessoas morando em áreas marginais, como manguezais, costas, áreas próximas a rios que não atinjam os serviços de coleta e destinação final de resíduos", diz o cientista.

São nesses lugares, diz ele, onde se acaba gerando um contingente de lixo que acaba no mar. "Tudo isso junto, é claro, com a questão de uma educação ambiental que faz a população refletir para que possa tomar decisões autônomas sobre como lidar com materiais, recursos e resíduos."


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