19/03/2024 - Edição 540

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‘Não sou economista, já falei que não entendia de economia’, diz Bolsonaro após intervir no preço do diesel

Publicado em 12/04/2019 12:00 -

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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que não é intervencionista, nem quer fazer “as políticas que fizeram no passado”, mas ligou para o presidente da Petrobras pedindo explicações sobre a proposta de reajuste de 5,7% sobre o preço do diesel e pedindo que recuasse da decisão.

A fala aconteceu após a inauguração do novo aeroporto de Macapá, nesta sexta-feira (12). Essa foi a primeira visita do presidente ao Amapá, o único estado que não visitou durante a campanha eleitoral, segundo ele. 

Bolsonaro disse que convocou funcionários da petroleira para conversar na próxima terça-feira (16), para esclarecer a política de preços adotada. Bolsonaro questiona o porquê de o aumento ficar acima da inflação, projetada para 3,90% em 2019 (segundo o Boletim Focus do BC). Citou  também os caminhoneiros para justificar a decisão.

“Não sou economista, já falei que não entendia de economia, quem entendia afundou o Brasil, tá certo? Estou preocupado também com o transporte de cargas no Brasil, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimentam as riquezas, de norte a sul, leste a oeste e que tem que ser tratados com devido carinho e consideração. Nós queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse ele.

A categoria chegou a ameaçar uma nova greve este ano. Em entrevista ao jornal Folha de SP, na quinta, o líder dos caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, agradeceu a Bolsonaro pela decisão.

O presidente disse que precisa entender a política de preços da empresa. Segundo ele, quer perguntar a funcionários como o percentual é calculado, quanto custa um barril de petróleo que é retirado no Brasil em comparação com outros países.

“Onde é que nós refinamos, a que preço, a que custo, eu quero o custo final. Mostrar para a população também, que sempre critica o governo federal, o ICMS é altíssimo, tem que cobrar de governador também, não só do presidente da República”, afirmou ele.

Depois do recuo, as ações da Petrobras operam em queda de mais de 7%.

Foi ele

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, confirmou que partiu de Bolsonaro a decisão de que a Petrobras recuasse do reajuste do preço do óleo diesel.

Segundo ele, a interferência nos preços da estatal é "pontual" e o governo não deve repetir política adotada pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Toda decisão tem fatores positivos e negativos. Eu não tenho domínio dos fatos todos que levaram o presidente a tomar essa decisão. Eu não sei quais são as pressões que ele estava sofrendo ou a visão que ele tinha do que poderia acontecer nesse exato momento com esse aumento um pouco maior do diesel e que obviamente o levou a tomar essa decisão", disse Mourão em entrevista à rádio CBN na manhã desta sexta-feira (12).

Durante a entrevista, Mourão disse que Bolsonaro deve ter optado pelo consenso e que certamente o presidente buscará nova linha de ação.

"Tenho absoluta certeza de que ele não vai praticar a mesma política da ex-presidente Dilma Rousseff no tocante à intervenção do preço do combustível e da energia", afirmou.

Segundo auxiliares de Bolsonaro, ele procurou o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para discutir o assunto na noite de quinta (11). Pesou na decisão de interferir no preço do diesel o fato do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) ter informações de que as chances de nova paralisação dos caminhoneiros aumentaria se a estatal mantivesse a alta do combustível.

Com queda de popularidade em apenas três meses de governo, Bolsonaro busca evitar uma nova crise e vê na possibilidade de nova greve o risco de se repetir o cenário visto no país entre maio e junho de 2018, com falta de abastecimento em todo o país.

A medida tomada pelo presidente vai na contramão da política econômica liberal defendida pelo ministro Paulo Guedes (Economia), que está fora no Brasil esta semana para participar de reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Washington, nos EUA.

Para evitar um mal-estar e comparações com a política energética adotada nos governos do PT, o Palácio do Planalto trata a interferência como "pontual" e auxiliares dizem que novas medidas para conter a greve estão sendo estudadas pela equipe do presidente.

O mercado financeiro entendeu o recuo como uma interferência do governo Bolsonaro na estatal, algo que foi duramente criticado durante a gestão de Dilma Rousseff (PT).

Na quinta, a Petrobras havia anunciado o reajuste do preço do diesel em 5,7%, que seria aplicado a partir desta sexta. Horas depois, porém, a companhia afirmou que “em consonância com sua estratégia para os reajustes dos preços do diesel divulgada em 25 de março, revisitou sua posição de hedge [proteção] e avaliou ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel”.

Mourão disse ainda acreditar que esse é um fato isolado.

"Justamente pelo momento que estamos vivendo. Eu tenho visto alguns dados que tem me chegado da pressão do lado dos caminheiros. Acredito que o presidente está buscando a melhor solução para equacionar o problema", afirmou.

O vice-presidente disse ainda que "em tese" há uma contradição de um governo que se autodenomina como liberal na economia fazer uma interferência na política de preços de uma estatal.

"Em tese é. Agora, como eu respondi, os fatos que chegaram ao conhecimento do presidente não são do meu domínio, portanto, eu acredito no bom senso dele e que tomou essa decisão buscando o bem maior."

Mourão não soube confirmar se a decisão de segurar o preço do diesel teve relação direta com a possibilidade de uma nova greve de caminhoneiros, como aconteceu no primeiro semestre de 2018, mas trata o tema como uma possibilidade.

"Já faz algum tempo que esses dados (de possível greve de caminheiros) vêm chegando. Mas são dados, não há uma confirmação. Então temos que tratar com cuidado e eu acho que foi essa a visão do presidente e de quem o assessorou nessa decisão."

Prejuízo

O recuo no reajuste do preço do diesel representa uma redução de receita para a Petrobras de aproximadamente R$ 14 milhões por dia, considerando o volume médio de vendas do combustível em 2018. Representantes do setor de combustíveis dizem que a interferência prejudica a atração de investimentos.

O cálculo das perdas foi feito pela Abicom, entidade que representa as empresas importadoras de combustíveis, e considera que a Petrobras deixará de arrecadar R$ 0,123 por litro vendido após o recuo. O reajuste, de 5,7%, elevaria o preço de R$ 2,1432 para R$ 2,2662.

Em 2018, o país consumiu 42 bilhões de litros de diesel, uma média de 3,5 bilhões de litros por mês. Assim, ao abrir mão dos R$ 0,123 por litro, a Petrobras está deixando de arrecadar R$ 430 milhões por mês. O governo não deixou claro por quanto tempo manterá os preços congelados.

O valor atual vem sendo praticado desde o dia 22 de março. No dia 26, a Petrobras anunciou alteração em sua política de preços, estabelecendo o prazo mínimo de 15 dias para reajustes. Na quinta (11), o 16º dia após o anúncio, decidiu aumentar o preço em 5,7%.


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