26/04/2024 - Edição 540

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Queiroz completa 40 dias sem apresentar assessores informais de Flávio

Publicado em 12/04/2019 12:00 -

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Mais de 40 dias após afirmar ao Ministério Público do Rio de Janeiro que coordenava uma “desconcentração de remuneração” no gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Fabrício Queiroz ainda não entregou a lista dos funcionários informais que atuavam para o então deputado estadual e hoje senador.

Na petição entregue em 28 de fevereiro à Promotoria, a defesa de Queiroz havia informado que disponibilizaria nomes e endereços dos beneficiários “com o fito [objetivo] de comprovar todas as questões aduzidas”.

Alvo de investigações cível e criminal por movimentação financeira atípica, o ex-assessor de Flávio disse por meio de sua defesa que recolhia parte do salário dos funcionários do gabinete para distribuir a outras pessoas que também trabalhavam para o então deputado estadual. Segundo ele, Flávio não tinha conhecimento da prática.

Embora tenha se comprometido a fornecer as informações sobre os “assessores de base”, como chamou, Queiroz não tem prazo nem sequer é obrigado a apresentar os nomes ao Ministério Público. A versão é vista com reservas por investigadores.

Único ex-assessor de Flávio a prestar depoimento presencial, o policial militar Agostinho Moraes da Silva não relatou a prática de “desconcentração de salários”. Silva disse aos promotores em janeiro que repassava quase dois terços de seu vencimento para investimento na compra e venda de carros que rendiam, segundo o relato, até 18% ao mês.

A versão de Queiroz sobre a contratação de assessores informais para Flávio teve como objetivo explicar a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 identificada pelo Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras).

Além do volume movimentado, chamou a atenção a forma de operação, com seguidos depósitos em dinheiro em espécie de altos valores e saques subsequentes. A entrada do dinheiro ocorria logo após as datas de pagamentos dos servidores da Assembleia, o que levantou a suspeita da prática da “rachadinha” —devolução de parte do salário do funcionário.

O Coaf também identificou transferência de ao menos dez funcionários do gabinete de Flávio para Queiroz, incluindo a filha e a mulher do PM aposentado. Todos foram intimados a depor no fim do ano passado e são alvo das investigações cíveis e criminais —incluindo mulher e a mãe do ex-PM Adriano da Nóbrega, foragido apontado como chefe da milícia de Rio das Pedras.

Os dois procedimentos são sigilosos, motivo pelo qual o Ministério Público não se pronuncia sobre seu andamento.

Não foram feitas novas intimações para depoimento desde o ano passado. Os promotores ainda aguardam o levantamento de informações cadastrais de investigados para avaliar o andamento.

O mesmo trabalho está sendo feito nos procedimentos que envolvem outros 26 deputados e ex-deputados estaduais mencionados no relatório do Coaf. Há políticos de 13 partidos sob investigação, incluindo DEM, MDB, PSC, PSOL e PT —este último, envolvendo o presidente da Assembleia, André Ceciliano (PT).

A defesa de Queiroz afirmou "que já prestou os esclarecimentos necessários e aguarda o momento processual adequado para se manifestar novamente".

"A defesa de Fabrício Queiroz se surpreende que, por mais que existam 20 inquéritos instaurados, o único que desperta a curiosidade insaciável de parte da mídia é o seu, chegando a desprezar fatos muito mais relevantes, como por exemplo a movimentação de uma assessora de mais de R$ 50 milhões", afirmou, em nota, a defesa de Queiroz.

O senador Flávio Bolsonaro disse que não iria comentar o caso.

As relações

Michelle Bolsonaro com Jair Bolsonaro

Mulher de Jair Bolsonaro. Foi assessora do então deputado federal

Jair Bolsonaro com Fabrício Queiroz

Amigos de longa data e a quem o presidente diz ter emprestado dinheiro (R$ 40 mil)

Jair Bolsonaro com Adriano da Nóbrega

Na Câmara, em 2005, o então deputado federal defendeu Adriano, um “brilhante oficial”

Fabrício Queiroz com Michelle Bolsonaro

Depositou cheque de R$ 24 mil na conta de Michelle, alegando pagamento de dívida

Fabrício Queiroz com Flávio Bolsonaro

Motorista e assessor de Flávio Bolsonaro de 2007 a 15.out.2018

Fabrício Queiroz com Adriano da Nóbrega

O assessor foi colega de batalhão de Adriano da Nóbrega e pediu que Flávio Bolsonaro homenageasse Adriano na Alerj

Nathalia com Jair Bolsonaro

Trabalhou para o então deputado em Brasília, apesar de estar constantemente no RJ como personal trainer

Nathalia com Flávio Bolsonaro

Assessorou o então deputado estadual na Alerj

Evelyn com Flávio Bolsonaro

Substituiu Nathalia como assessora do deputado na Alerj

Marcia com Flávio Bolsonaro

Foi assessora de Flávio Bolsonaro, junto com Evelyn

Jair Bolsonaro com milícia

Em 2008, criticou a CPI das Milícias, da Alerj, e disse que policiais estavam sendo confundidos com milicianos por organizar a segurança

Flávio Bolsonaro com milícia

Na CPI de 2008, na Alerj, o deputado minimizou a gravidade das milícias e disse que “não raro é constatada” a felicidade em áreas dominadas por milicianos

Milícia com Marielle Franco

Há suspeita de que a vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos pela milícia que atua na zona oeste do Rio

Adriano da Nóbrega com Marielle Franco

Seis testemunhas citam Adriano no caso da morte de Marielle, de acordo com The Intercept Brasil

Adriano da Nóbrega e milícia

Foragido da polícia, o ex-policial é acusado de liderar o Escritório do Crime, milícia suspeita de ligação com as mortes de Marielle e Anderson Gomes

Fabrício Queiroz com Raimunda

A mãe de Adriano da Nóbrega é, segundo o Coaf, uma das pessoas que depositavam dinheiro na conta de Queiroz (R$ 4.600)

Fabrício Queiroz com Danielle

O assessor indicou a mulher de Adriano para o gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj

Flávio Bolsonaro com Raimunda

De 29.jun.2016 a 13.nov.2018, o então deputado estadual teve Raimunda como assessora de gabinete na Alerj

Flávio Bolsonaro com Danielle

A mulher do ex-PM também trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, de 2007 a 13.nov.2018

Flávio Bolsonaro com Adriano da Nóbrega

Homenageou o ex-PM em out.2013 e em jun.2015 (Adriano estava preso na data), dando a ele a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Alerj

Jair Bolsonaro com Flávio Bolsonaro

Pai chama o filho de 01

Ministério Público do RJ com Flávio Bolsonaro

Investiga a movimentação financeira atípica de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, com base no Coaf

Ministério Público do RJ com Fabrício Queiroz

Investiga movimentações atípicas na conta do então assessor apontadas pelo Coaf e pode ajuizar ação penal


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