25/04/2024 - Edição 540

Poder

Bolsonaro visita Trump para selar aliança conservadora

Publicado em 15/03/2019 12:00 -

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O presidente Jair Bolsonaro se reunirá na próxima na terça-feira (19) com o colega americano, Donald Trump, na Casa Branca, para selar uma nascente aliança conservadora hemisférica, que busca aumentar a pressão sobre Nicolás Maduro na Venezuela e fortalecer seus laços econômicos.

Em seu programa semanal no Facebook, Bolsonaro explicou que a visita, a primeira de caráter bilateral que realizada desde sua posse, em 1º de janeiro, terá como prato forte a assinatura de um acordo que permitirá o lançamento de satélites americanos da base de Alcântara, no Maranhão.

Décadas de relações que não passavam de cordiais entre Brasília e Washington ficaram para trás com a chegada ao poder em janeiro do capitão da extrema direita, apelidado de “Trump dos trópicos” por sua admiração e sintonia ideológica com a agenda nacionalista e “antiglobalista” do americano.

Acompanhado de seis ministros, entre eles o chanceler Ernesto Araújo, e de seu filho e deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro – muito ativo nas articulações com representantes da onda neoconservadora mundial -, o presidente brasileiro estará em Washington de domingo a quarta-feira e se hospedará na Blair House, residência oficial para hóspedes, situada em frente à Casa Branca.

Além de manter uma “reunião privada” com Trump prevista para a terça-feira no Salão Oval, o presidente aproveitará sua estada na capital americana para se reunir com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e participará de vários fóruns sobre as oportunidades oferecidas pela economia brasileira.

Na noite de domingo, participará de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington com “vários formadores de opinião”, ao qual comparecerão o escritor brasileiro residente nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro, e Steve Bannon, controverso ex-assessor do presidente americano.

Cerco à Venezuela

Adeptos da comunicação direta via Twitter, de uma retórica polêmica e críticos da imprensa, Trump e Bolsonaro abordarão um dos temas que mais os une: sua ferrenha oposição à “ditadura” da Venezuela e a vontade de tirar Maduro do poder.

Os Estados Unidos estão à frente dos mais de 50 países – entre eles o Brasil – que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino, e aplicaram sanções econômicas e um embargo ao petróleo venezuelano, crucial para a sua economia, que começará a vigorar em 28 de abril.

Trump afirmou reiteradas vezes que todas as opções estão sobre a mesa e não exclui uma intervenção militar na Venezuela.

Mas Bolsonaro, que participou da frustrada operação de entrada de ajuda humanitária à Venezuela pelas fronteiras de Brasil, Colômbia e Curaçao, segue a linha do Grupo de Lima – formado por uma dezena de países latino-americanos e o Canadá – partidário de apertar o cerco econômico e diplomata sobre Maduro sem recorrer à força.

“É pouco provável que o Brasil adote ações militares para resolver a situação na Venezuela, mas é possível que Bolsonaro adote uma postura mais firme publicamente depois desta viagem a Washington”, explicou à AFP Roberta Braga, diretora associada do centro latino-americano do Atlantic Council, com sede em Washington.

Apesar de seu repúdio à via militar, Trump se interessa em ter um aliado de peso como o Brasil “para seguir exercendo pressão sobre Maduro e garantir que esta onda de apoio que Guaidó recebeu não diminua com o passar do tempo”, avaliou Thomaz Favaro, analista da Control Risks.

Acordo espacial

Ao seu lado no programa semanal do Facebook, o chanceler disse que na visita serão assinados vários acordos, entre eles o que dará salvaguardas tecnológicas para que os Estados Unidos possam usar a base de lançamento de satélites de Alcântara.

A base Alcântara tem uma localização ideal para os lançamentos, pois está muito próxima à linha do Equador, o que permite economizar até 30% do combustível ou levar mais carga.

Mas setores nacionalistas brasileiras veem neste acordo risco de perda da soberania.

Segundo o chanceler Ernesto Araújo, sem o acordo não seria possível o uso de tecnologia americana, e sem tecnologia ninguém faz lançamento de satélites.

“A assinatura de Alcântara é outra mostra do alinhamento do Bolsonaro com os Estados Unidos, como já fez ao aceitar o acordo entre Boeing e Embraer”, explicou à AFP o internacionalista Paulo Wrobel, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Os analistas esperam que os dois presidentes também discutam medidas para aumentar o comércio bilateral – sem reduzir limites que o Mercosul impõe no caso do Brasil – e a entrada do país na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Depois de sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro visitará o Chile e no fim do mês para Israel, em uma demonstração clara de sua tentativa de aproximação a governos que considera comprometidos com suas opções ideológicas conservadoras e economicamente liberais.

Economia

Trump deve frustrar algumas das principais pautas comerciais que o governo brasileiro espera conquistar na visita de Bolsonaro a Washington. Autoridades norte-americanas já avisaram membros da administração Bolsonaro que dificilmente Washington realizará um endosso enfático às ambições brasileiras de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

A entrada na OCDE é um pleito brasileiro desde 2017. O argumento é que o ingresso no chamado clube dos países ricos melhoraria a confiança dos investidores internacionais no Brasil. Por isso, um dos maiores defensores da incorporação do Brasil ao organismo é o ministro da Economia, Paulo Guedes.

No entanto, a expansão da OCDE encontra forte resistência dentro do governo dos Estados Unidos. Segundo negociadores brasileiros, os EUA têm questionamentos sobre o modelo de governança da organização e querem critérios mais claros para candidaturas de novos países.

Hoje, membros do governo brasileiro avaliam que os norte-americanos não devem aceitar incluir numa declaração escrita o aval de Washington à candidatura do Brasil.

Apesar disso, pontuam que o tema deverá ser tratado na conversa privada de Bolsonaro com Trump, cujo resultado é imprevisível. Os brasileiros apostam que a conversa entre os dois possa resultar num aceno positivo do mandatário norte-americano às pretensões brasileiras.

A adesão do Brasil ao clube dos países ricos é um dos principais objetivos da política externa do chanceler Ernesto Araújo.

Além desse pleito, ao menos outros dois acordos que poderiam melhorar o ambiente comercial entre os dois países — e que geravam expectativa do lado brasileiro — não serão assinados na terça-feira.
O primeiro deles é o acordo de reconhecimento mútuo de operadores econômicos autorizados, que facilita os trâmites de exportação e importação para um grupo pré-selecionado de empresas.

Não houve tempo hábil para a conclusão desse acordo, mas a ideia é que Brasil e EUA se comprometam a impulsionar as conversas para fechá-lo no curto prazo. O outro texto que não será assinado na terça é o chamado Global Entry, que agiliza a entrada em território norte-americano de viajantes frequentes.

Essa medida visa atender empresários e viajantes de alta renda que tenham negócios e propriedades nos EUA. Os EUA toparam celebrar esse entendimento, mas ele encontra entraves ainda não solucionados pelas próprias autoridades brasileiras e só poderá ser assinado depois da visita de Bolsonaro a Trump.

No agronegócio, tampouco deve haver uma sinalização positiva no sentido de reabertura do mercado dos Estados Unidos para a carne bovina in natura brasileira, um dos principais pedidos da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

No último dia 12, Tereza Cristina disse que espera “boa vontade” dos EUA e que o Brasil já havia cumprido “tudo o que foi pedido” para a retomada das exportações.

Os norte-americanos, entretanto, informaram Brasília que trata-se de um tema de controle fitossanitário, que precisa respeitar dinâmicas próprias que impossibilitam um anúncio na terça-feira.

Os EUA, por exemplo, precisam agendar uma visita de inspeção no Brasil para a liberação da carne brasileira, o que ainda não aconteceu.

O tema gera forte ansiedade entre produtores brasileiros, uma vez que os Estados Unidos vêm pressionando para que o Brasil reduza suas barreiras para a entrada de três produtos daquele país: etanol, trigo e carne de porco.

A possível entrada dessas mercadorias norte-americanas no Brasil sem a conquista de mercado para produtos brasileiros é considerada prejudicial por produtores rurais.


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