19/03/2024 - Edição 540

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Extremista de direita mata mais de 50 pessoas em mesquitas na Nova Zelândia

Publicado em 15/03/2019 12:00 -

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Ataques a tiros em duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, deixaram 49 mortos nesta sexta-feira (15, noite de quinta no Brasil), e ao menos 48 feridos por disparos, inclusive crianças.

O massacre foi transmitido ao vivo pelo atirador na internet, que publicou um manifesto após o ataque, no qual chamou imigrantes de "invasores".

Testemunhas afirmaram que por volta das 13h40 local (21h40 de quinta no horário de Brasília) um homem branco vestido com trajes militares invadiu a mesquita Al Noor, no centro da cidade, e começou a atirar.  Uma delas disse que o atirador era branco, loiro e usava capacete e colete à prova de balas.

Pessoas que estavam no local afirmaram que tiveram que sair correndo para escapar dos ataques, muitos descalços —é costume tirar os sapatos dentro da mesquita. Sexta é um dia no qual os templos costumam estar mais cheios, por ser um dia especial de orações para os muçulmanos.

As testemunhas descreveram ao jornal local New Zealand Herald um cenário com muito sangue e com diversos corpos espalhados pelo chão.

O atirador teria percorrido todas as salas do local, disparando contra os frequentadores, que tentavam fugir. Mais de 200 pessoas estavam no local no momento que os tiros começaram, incluindo um time de críquete de Bangladesh, que conseguiu escapar.

Depois, houve tiros no centro islâmico Linwood. Não há confirmação de que um mesmo atirador tenha agido nos dois lugares. 

Na mesquita de Al Noor, 41 pessoas foram mortas. Outras sete morreram na de Linwood e uma no hospital. O hospital, aliás, recebeu quase 50 feridos, incluindo crianças.

A polícia também encontrou explosivos em dois carros. A bomba em um deles foi detonada em segurança, e a outra segue em processo de neutralização.

Perto da meia-noite de sábado na Nova Zelândia (8h de sexta em Brasília), policiais protegiam mesquitas, hotéis e outros possíveis alvos na cidade. Todas as escolas de Christchurch fecharam as portas e toda a região central da cidade, de 404 mil habitantes, a terceira maior da Nova Zelândia, entrou em toque de recolher.

Quatro pessoas foram presas por envolvimento na ação, mas uma delas pode não ter nada a ver com o caso, segundo a polícia. Um homem, com cerca de 30 anos, foi indiciado por assassinato. Seu nome não foi revelado. 

O atirador que transmitiu as imagens online identificou a si mesmo como Brenton Tarrant, 28, um australiano. Ele publicou um manifesto de 74 páginas em uma rede social, no qual elenca líderes racistas americanos como seus heróis. 

No manifesto, Tarrant disse que suas motivações incluíram "criar uma atmosfera de medo" e incitar a violência contra muçulmanos. Ele descreve o ataque como um ato terrorista e disse que transmitiria a ação pela internet. 

Transmissão ao vivo

Um vídeo, transmitido ao vivo pelo Facebook durante o ataque, mostra uma pessoa carregando um fuzil em um carro. Enquanto isso, ouvia uma canção chamada "Serbia Strong" (Sérvia Forte, em tradução livre), um cântico nacionalista que louva Radovan Karadzic, ex-presidente da Sérvia condenado por crimes de guerra e contra a humanidade devido ao massacre de Srebrenica, na Bósnia, em 1995.

Em determinado momento, ele chega até uma mesquita, entra no local e começa a atirar contra os frequentadores. Mesmo após matar muitas pessoas, o atirador volta a disparar contra os corpos no chão.  A câmera, colocada no capacete, emula a visão de jogos de games de tiro.​

As autoridades neozelandesas criticaram a divulgação das imagens, que seguiam disponíveis em redes sociais horas após o ocorrido. Facebook, Google e Twitter disseram que estão trabalhando para remover o material, mas foram questionadas pela demora em tomar providências. A polícia pediu aos usuários para não compartilharem esse tipo de conteúdo.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, afirmou que o episódio é um dos mais sombrios da história do país. "Claramente o que aconteceu aqui é um ato impressionante e sem precedentes de violência”, afirmou em entrevista coletiva. Ela classificou o ato como terrorista.

Ela não quis comentar se a ação poderia ser considerada um crime de ódio. Segundo a primeira-ministra, “muitas das pessoas diretamente afetadas pelo ataque podem ser imigrantes, podem ser refugiados, eles escolheram fazer da Nova Zelândia sua casa”.

Casos semelhantes são pouco comuns no país. O último massacre a tiros que se tem registro na Nova Zelândia aconteceu em 1990, quando 13 pessoas foram mortas por um atirador.

Mesquitas se tornaram alvo de ataques em diversos países recentemente. Em junho de 2017, um homem foi morto e dez ficaram feridos quando uma van avançou sobre um grupo que estava em uma mesquita no norte de Londres. 

O manifesto do atirador cita Darren Osbourne, numa referência ao nome de um terrorista que atacou a mesquita em Londres e cumpre prisão perpétua, e também o assassino em massa norueguês Anders Behring Breivik, terrorista de extrema-direita que realizou ataques em 2011 que deixaram 77 mortos. 

Na Nova Zelândia, a venda de armas é liberada para maiores de 16 anos e não há registro dos armamentos.

O número de mortos no massacre, 49, é maior do que a soma do total de assassinatos no país ao longo de um ano inteiro. Em 2017, houve 35 homicídios em todo a Nova Zelândia, que tem 4,7 milhões de pessoas. Neste século, o ano com mais assassinatos no país foi 2009, com 68 casos.

Como comparação, o Brasil teve 63.880 mortes violentas em 2017. O país tem 209 milhões de habitantes. 

Brenton Tarrant deixou manifesto em que se diz fascista e contrário a imigrantes

O australiano Brenton Tarrant, 28, suspeito de ser o autor dos ataques trabalhou como personal trainer que atendia crianças de forma gratuita, segundo pessoas próximas a ele ouvidas pelo site australiano ABC.

Tarrant teria sido o responsável por transmitir ao vivo, pelo Facebook, cenas de um ataque com armas a uma mesquita. Ele também teria publicado um manifesto de mais de 70 páginas em uma rede social, no qual se descreveu como "etnonacionalista e fascista".

Ele disse ainda ser "um homem branco comum, de uma família comum", que nasceu na Austrália em uma família trabalhadora e de baixa renda, além de ressaltar sua origem europeia. "As origens da minha língua são europeias, minha cultura, minhas crenças filosóficas, minha identidade é europeia e, mais importante, meu sangue é europeu", escreveu, apontando vir de uma linhagem de escoceses, irlandeses e ingleses.

No manifesto, conta que levou dois anos planejando o ataque, e que sua intenção é fazer com que menos pessoas queiram migrar para "terras europeias" e "mostrar aos invasores que nossas terras nunca serão as terras deles, enquanto um homem branco viver, e que eles nunca irão substituir nosso povo". Ele disse ainda que queria passar a mensagem de que não há lugar seguro no mundo.

Tarrant trabalhou em uma academia na cidade de Grafton, a 612 km de Sidney, na Austrália, entre 2009 e 2011. Segundo sua chefe à época, ele era um profissional dedicado, que levava os exercícios físicos muito a sério. Ele participava de um programa voluntário para treinar as crianças do bairro. 

Seu pai morreu aos 49 anos, vítima de câncer. Após a perda, ele partiu em uma viagem pelo mundo que durou sete anos.

A viagem pela Europa e pela Ásia foi paga com dinheiro que ele ganhou ao investir em moedas virtuais, chamadas de bitcoins. Pessoas próximas acreditam que sua radicalização tenha ocorrido durante esse período.

Em uma dessas viagens, ele chegou a Coreia do Norte. O australiano foi fotografado durante uma visita a um monumento do país.

No manifesto, Tarrant diz que escolheu ChristChurch como alvo há três meses. "Eu só vim para a Nova Zelândia para viver temporariamente enquanto eu planejava e treinava, mas logo vi que o país era um alvo", escreveu. 


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