28/03/2024 - Edição 540

Poder

Jean Wyllys volta a sofrer ameaças de morte após desistir do mandato e deixar o país

Publicado em 01/02/2019 12:00 -

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O anúncio da desistência do mandato e da decisão de deixar o Brasil não inibiram os ataques ao deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). O parlamentar e seus irmãos receberam duas ameaças nos últimos dias 26 e 28. "O Jean pode estar exilado na Europa, 'seguro', mas não podemos dizer o mesmo de vocês. Em 2020 faremos novos contatos com sicários, em 2021 também e assim sucessivamente", diz o trecho de uma das mensagens.

"Bixa desgraçada! Sei que você está na [diz o nome do país onde o deputado estaria] e provavelmente está atrás de mim. Saiba que estou armado e pronto para lhe matar. Você é a escória, você é o lixo. Você mudou-se para […] e deixou todos os seus parentes no Bostil. Saiba que meu maior desejo é te decapitar e postar o vídeo na Deepweb. Você e sua querida mãe", afirma o trecho de outra.

As novas mensagens foram encaminhadas pela assessoria jurídica de Jean Wyllys à Polícia Federal, ao Ministério da Justiça e à Polícia Legislativa da Câmara, com pedido de investigação. Embora tenham sido enviadas de e-mails distintos, ambas são assinadas pelo “Comando Virtual Marcelo Valle”. Para a equipe de Jean, a assinatura é uma forma de tentar confundir os investigadores.

O nome é uma referência a um estudante da Universidade de Brasília (UnB) condenado pela Justiça Federal do Paraná a 41 anos de prisão por crimes como racismo, terrorismo e divulgação de pedofilia. Preso desde maio, ele é apontado pela Polícia Federal como um dos autores de ameaças a Jean Wyllys. Marcello atuava no chamado submundo da internet.

As duas novas mensagens foram enviadas para todos os e-mails oficiais e pessoais de Jean, para os endereços eletrônicos de seus irmãos e para integrantes de sua equipe. Um dos textos traz os números dos documentos pessoais dos irmãos do deputado e diz que integrantes da família dele serão mortos até setembro.

A prisão de Marcelo Valle foi citada pela PF em nota divulgada pela assessoria do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em resposta a críticas feitas na véspera por Jean como desdobramento das investigações feitas a partir das denúncias feitas pelo deputado. A assessoria do parlamentar afirma, no entanto, que Marcello foi preso por outros crimes e não pelas ameaças que fazia contra ele.

Corresponsabilização de Bolsonaro

Por meio de seus assessores, Jean Wyllys oficializou, no dia 29, na Câmara, sua decisão de renunciar ao terceiro mandato consecutivo que exerceria na Casa em razão das ameaças de morte que vem sofrendo. Um ato em defesa do deputado será realizado no início desta noite na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Os ex-candidatos a presidente Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (Psol), além de Manuela D’Ávila (PCdoB), que era vice de Haddad, confirmaram presença.

O partido de Jean prepara uma ofensiva na Justiça contra autores de mensagens que difamam e incitam o ódio contra o deputado. O Psol reuniu 4 mil comentários feitos nas redes sociais desde a última sexta-feira que tentam associar o deputado ao atentado contra o presidente Jair Bolsonaro em 6 de setembro, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

Em nota, a legenda diz que Bolsonaro estimulou seus seguidores a seguirem com os comentários e, por isso, deve ser considerado “corresponsável” por qualquer ato de violência que Jean e seus familiares venham a sofrer em virtude dessas “novas mentiras amplamente divulgadas”.

Fake news

O partido afirma que o presidente foi irresponsável ao compartilhar uma mensagem com os “passos de Adélio Bispo, ex-filiado do PSOL”, autor da facada, fazendo referência ao registro de entrada dele na Câmara, no momento em que a hasthag #InvestigaJeanWillis era o assunto mais comentado do Twitter, após ser lançada pelo músico Lobão, cabo eleitoral do presidente.

O Psol cita três notícias falsas disseminadas depois que ele anunciou que estava deixando o país: uma delas faz referência à fictícia descoberta de um depósito bancário feito pelo deputado a Adélio Bispo; outra diz que ele estava jurado de morte por colegas de partido por saber demais; e uma terceira afirma que ele fugiu após ser flagrado desviando milhões de reais para movimentos sociais e organizações não governamentais.

“Ao colaborar com essa onda caluniosa, o presidente da República se torna corresponsável por qualquer ato de violência que Wyllys e seus familiares, vítimas de ameaças de morte, possam vir a sofrer como consequência destas novas mentiras amplamente divulgadas. Não aceitaremos tamanha agressão: nosso Jurídico já está tomando todas as medidas cabíveis”, afirma o partido.

Desistência do mandato

Jean Wyllys anunciou que abria mão do novo mandato em razão das ameaças de morte na última quinta-feira em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo. Em carta enviada ao partido, ele criticou o que chamou de silêncio do Estado brasileiro em relação às ameaças que vinha sofrendo e às recomendações de medidas protetivas sugeridas pela Ordem dos Estados Americanos (OEA). Ele andava há meses sob escola da Polícia Legislativa da Câmara.

Ele afirma que a decisão foi tomada após as revelações de que o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, empregava familiares de um policial militar acusado de liderar um grupo de milicianos suspeito de participar do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, sua amiga e companheira de partido.

"Foi a semana em que notícias começaram a desnudar o planejamento cruel e inaceitável da brutal execução de nossa companheira e minha amiga Marielle Franco. Vejam, companheiras e companheiros, estamos falando de sicários que vivem no Rio de Janeiro, estado onde moro, que assassinaram uma companheira de lutas, e que mantém ligações estreitas com pessoas que se opõem publicamente às minhas bandeiras e até mesmo à própria existência de pessoas LGBT”, escreveu.

Veja a íntegra da nota:

“COMUNICADO SOBRE AS OFENSAS AO DEPUTADO JEAN WYLLYS

Desde que anunciou oficialmente, na última quinta-feira (24.01), que desistira de cumprir o terceiro mandato para o qual foi eleito no pleito de 2018, em função da insegurança causada por milhares de ameaças de morte e a displicência com que o Estado brasileiro vem tratando a situação, o deputado federal Jean Wyllys se tornou alvo de uma nova onda de crimes contra a sua honra. A Liderança do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na Câmara dos Deputados vem a público denunciar e repudiar mais esta violência contra o deputado.

Pelo menos três novas mentiras (fake news) vêm sendo espalhadas na internet e nas redes sociais por páginas que fizeram e fazem propaganda para os membros da família Bolsonaro e, durante as últimas eleições, atuaram intensamente contra a candidatura do deputado do PSOL/RJ, e todos os setores progressistas em geral. As mentiras variam nos detalhes, mas em essência são as seguintes:

1)    “A Polícia Federal descobriu que o deputado Jean Wyllys fez uma transferência de R$ 50 mil para a conta de um dos advogados de Adélio Bispo de Oliveira, o homem que teria tentado assassinar Jair Bolsonaro, por isso ele desistiu do mandato e fugiu do país”. Obviamente a suposta transferência nunca existiu, nem há nenhuma investigação da Polícia Federal, Ministério Público Federal ou qualquer outro órgão público que envolva o deputado Jean Wyllys nesse episódio do ataque ao então candidato à presidência.

2)    “O deputado Jean Wyllys está ameaçado de morte por seus colegas de partido, pois sabe demais sobre o ataque a Bolsonaro, que foi encomendado pelo PSOL, e corre o risco de ser eliminado por seus correligionários”. Não existe nenhuma investigação contra qualquer membro do PSOL nesse sentido, e as patéticas fake news tentando associar Adélio Bispo de Oliveira ao partido foram suficientemente desmascaradas.

3) “Jean Wyllys desviou milhões de reais para movimentos sociais e ONGs, crime que foi descoberto e que o fez desistir do mandato e fugir do país”. O deputado não tem nenhuma conta ou aspecto de sua atuação questionado, nem jamais fez qualquer "desvio" financeiro desse tipo.

A nova campanha de difamação continua usando robôs, contas fake, sites apócrifos e correntes de Whatsapp. Tem a ajuda espúria de figuras públicas de extrema direita que reproduziram o boato em suas contas oficiais, como o músico Lobão, que conseguiu levar a hashtag #InvestigaJeanWyllys ao trending topics do Twitter no Brasil e instalar a mentira abominável do envolvimento de Jean com o esfaqueador. A Liderança do PSOL recebeu, em menos de três dias, mais de quatro mil denúncias dessas ofensas, que serão apuradas judicialmente.

O deputado do PSOL tem sido vítima dessa política de difamação sistemática durante anos e teve sua reputação afetada por uma infinidade de notícias falsas: diversos e absurdos projetos de lei inexistentes atribuídos a ele, entrevistas falsas com declarações jamais feitas, vídeos editados, fotos adulteradas que mostravam o deputado exibindo cartazes com legendas ridículas, textos falsos atribuídos a ele.

Uma das fake news mais graves e mais usadas por esta quadrilha de difamadores profissionais tentava constantemente associar o deputado à prática ou à defesa da pedofilia, um crime repulsivo. E muitas outras envolviam, de diferentes maneiras, algum tipo de risco às crianças.

Não é por acaso: associar uma pessoa homossexual à pedofilia ou apresentar essa pessoa como perigosa para as crianças é perverso, mas efetivo, porque utiliza os medos e preconceitos já existentes numa sociedade homofóbica para alcançar seu objetivo de transformar essa pessoa em pária e inimigo público.

As mentiras absurdas que tentam envolver o Jean com o atentado contra o presidente não param de se espalhar. Dessa forma, tenta-se abafar a repercussão da denúncia feita pelo deputado e corroborada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que analisou as provas sobre as graves ameaças contra sua vida e as de seus familiares, e declarou a incompetência do Estado brasileiro em manter sua segurança e integridade física. A OEA divulgou Medida Cautelar contra o Brasil, fundamentada na omissão e negligência do Estado diante da iminência de Jean Wyllys e/ou sua família sofrerem algum tipo de atentado.

As calúnias contra Jean Wyllys são inseridas e replicadas na rede social pelas mesmas contas e sites que costumam agir de maneira positiva para a família Bolsonaro. O próprio presidente tuitou uma mensagem fazendo uma acusação criminosa contra o PSOL, envolvendo o partido no atentado, na mesma hora em que os robôs virtuais faziam essa mesma associação com Jean Wyllys.

Ao colaborar com essa onda caluniosa, o presidente da República se torna corresponsável por qualquer ato de violência que Wyllys e seus familiares, vítimas de ameaças de morte, possam vir a sofrer como consequência destas novas mentiras amplamente divulgadas. Não aceitaremos tamanha agressão: nosso Jurídico já está tomando todas as medidas cabíveis.”


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