Saúde
Publicado em 29/01/2019 12:00 -
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Crianças estão entre as mais vulneráveis à hanseníase, e enfrentam desafios como deficiências físicas e estigma associados à doença negligenciada, disse uma especialista em direitos humanos das Nações Unidas.
A hanseníase, também conhecida como lepra, pode ser facilmente curada se detectada e tratada em estágio precoce. Caso contrário, pode levar a danos irreversíveis nos nervos, membros e olhos.
Houve 210.671 novos casos de hanseníase relatados à Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017, principalmente em Índia, Brasil, Indonésia, Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Madagascar, Moçambique, Mianmar, Nepal, Nigéria e Filipinas.
“Crianças afetadas pela hanseníase permanecem invisíveis e muitos casos não são detectados. Os dados disponíveis sobre deficiências relacionadas à hanseníase em crianças são vergonhosamente altos, indicando um fracasso dos sistemas de saúde em controlar a hanseníase e proteger crianças da doença”, disse Alice Cruz, relatora especial da ONU sobre eliminação da discriminação contra pessoas afetadas pela hanseníase e seus familiares, em comunicado marcando o Dia de Combate e Prevenção da Hanseníase, no último domingo de janeiro.
Cruz afirmou que leis arcaicas em muitos países discriminam pessoas afetadas, tratando-as como párias. A relatora especial elogiou a decisão recente da Suprema Corte da Índia de promover a inclusão social de pessoas afetadas pela hanseníase. Ela pediu ainda mais revisões legais para acabar com a discriminação e reiterou seu desejo de visitar e fornecer assistência a Estados.
Brasil lidera registros na AL
O Brasil concentra mais de 90% dos casos de hanseníase da América Latina, sendo o segundo país no mundo com a maior incidência, ficando atrás apenas da Índia.
“A hanseníase está classificada entre as doenças negligenciadas, que são doenças da pobreza, junto com a leishmaniose, esquistossomose, tracoma. A rigor, todas as pessoas estão em risco. O que acontece é que a maior parte dos seres humanos apresentam uma resistência natural à doença. Portanto, mesmo entrando em contato com a bactéria que causa a hanseníase, não adoecem”, afirma a dermatologista Sandra Durães, coordenadora da Campanha Nacional de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de casos passou de 25 mil em 2016 para 26 mil em 2017, o que corresponde a um aumento de 5,8%. Mas, para a pasta, isso representa uma maior detecção da doença.
Causada por bactéria
A hanseníase é uma doença infecciosa causada por um bacilo – bactéria chamada Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. A transmissão se dá por meio de convivência muito próxima e prolongada com o doente da forma transmissora, chamada multibacilar, que não se encontra em tratamento, por contato com gotículas de saliva ou secreções do nariz. Tocar a pele do paciente não transmite a hanseníase. Cerca de 90% da população têm defesa contra a doença.
Por atacar os nervos, o paciente pode ter diminuição da sensibilidade à dor, ao calor, ao frio e ao toque, além de apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas em qualquer parte do corpo.
A hanseníase tem cura, pois os antibióticos matam a bactéria, no entanto, a doença se diagnosticada tardiamente é incapacitante. Os medicamentos não revertem os danos nos nervos periféricos, como fragmentos das pontas dos pés e das mãos. Porém, essa perda irá ocorrer quando o diagnóstico é tardio.
A doença raramente causa morte. Sua maior incidência no Brasil, conforme a SBD, está nos estados do Maranhão, Pará e Mato Grosso.
Preconceito
Os registros de surgimento da hanseníse tem mais de 2 mil anos. Na década de 1930, o Brasil seguindo modelo da Europa, buscava com polícia os doentes em casa e os confinava em leprosários. Havia 18 leprosários públicos.
A hanseníase deixou de ser ser chamada de lepra, a partir dos anos 1980, quando foi instituída a poliquiometerapia (PQP), o uso de mais de um medicamento para tratá-la. Desde então, extinguiu-se o isolamento.
A partir da ingestão da primeira dose de medicamento, a carga bacilar cai em 90%.
Diagnóstico e tratamento
A hanseníase apresenta um período longo de incubação – de três a sete anos.
O diagnóstico e o tratamento da hanseníase são oferecidos nas unidades básicas de saúde do SUS. São considerados exames complementares o exame baciloscópico, que mede a carga bacilar, e a biópsia.
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