28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Amanhã vai ser outro dia

Publicado em 23/01/2019 12:00 - Victor Barone

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A decisão do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) de desistir do novo mandato e deixar o Brasil pegou o país de surpresa e abalou aqueles que enxergam no deputado um dos poucos baluartes de resistência ao obscurantismo que domina a política nacional e fatia importante da sociedade. O que causa espanto não é a desistência em si – qualquer cidadão que exerça cargo público tem o direito de repensar sua vida e partir pra outra – mas os motivos que o levaram a esta decisão.

Wyllys percebeu que sua vida estava ameaçada, no sentido físico mesmo, e, também, no que a vida tem de alegria quando livre. Vítima do ódio constante de uma extrema direita organizada nas redes, do fundamentalismo religioso, da homofobia e do que há de mais horrendo nesta fauna de descerebrados representada por Frotas, Lobões, Rogers, Kins e acéfalos quetais, Wyllys percebeu que sua liberdade estava em jogo. O medo de ir as ruas e ser agredido, acossado, ofendido: o terror da intolerância, que se instala a passos largos entre nós, foi demais para ele. Não seria para mim, para você?

O que aconteceu com Jean Wyllys é grave. Mostra que parcela significativa dos brasileiros não percebe que a democracia está sendo agredida a cada clique em que se compartilha uma inverdade sobre alguém, quando a coisificação do outro diante de sua diferença transforma seres humanos em sub-humanos passíveis de serem eliminados, quando permitimos a exclusão e gargalhamos da violência contra ela.

O jornalista Leonardo Sakamoto foi cirúrgico nesta análise: “Jean Wyllys foi vendido, ao longo dos anos, como uma dessas pessoas descartáveis, que ameaçam a existência de ‘homens e mulheres de bem’. Nesse sentido, o agressor pode ser qualquer um. A discussão não é entre direita e esquerda, mas entre civilização e barbárie. Com o exílio de Jean Wyllys por medo de morrer, a barbárie marca mais um ponto.”

Civilidade

“Você não precisa gostar de Jean Wyllys ou concordar com ele para entender que uma democracia pressupõe a garantia que pessoas não sejam ameaçadas de morte por aquilo ou por causa daqueles que defendem. Principalmente quando essas pessoas são políticos eleitos pelo voto popular para falar em nome de uma parcela dos cidadãos no Congresso Nacional. Porque, quando isso acontece, não é apenas o representante que está sendo expulso pelo clima de terror contra ele, mas é a opinião de cada eleitor e eleitora que está sendo amordaçada e violentada”, resumiu Leonardo Sakamoto.

Democracia doente

Na entrevista à Folha, em que o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) anunciou sua decisão de desistir do terceiro mandato e abandonar o Brasil, o parlamentar afirmou que tem recebido várias ameaças de morte nos últimos meses e explicou que preservar sua integridade física também é uma forma de luta política. O assassinato da colega de partido, a vereadora Marielle Franco, pesou na decisão, assim como as revelações de que o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) contratou, quando era deputado estadual, familiares do ex-PM suspeito de chefiar a milícia investigada por sua execução.  "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", disse.

Desprotegido

Para a relatora especial do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Antonia Urrejola Noguera, o governo brasileiro falhou em proteger o parlamentar e não foi capaz de garantir que ele exerça com segurança suas funções. “A Comissão Interamericana decretou uma medida cautelar para que o Estado tomasse medidas de proteção a favor de Jean e a resposta foi que ele já tinha medidas de proteção. Mas, eram exatamente essas medidas que o deputado indicava que eram insuficientes. Ele seguia recebendo ameaças”, diz. 

Preocupação

Em nota, a AJD (Associação Juízes para a Democracia) manifestou preocupação com a decisão de Jean Wyllys de deixar a vida pública. E exigiu do Ministério da Justiça providências que garantam a integridade física de qualquer parlamentar que seja alvo de ameaças. "Não há verdadeira democracia sem respeito aos partidos e aos parlamentares de oposição, a suas manifestações, suas opiniões e à integridade física. Qualquer ameaça ou intimidação visando constranger ou calar a oposição deve ser prontamente rechaçada pelas instituições democráticas".

Indigna

A desembargadora Marília Castro Neves, que defendeu a execução de  Jean Wyllys (PSOL) em um grupo de magistrados, divulgou nas redes sociais um meme no qual um homem que veste uma camisa vermelha entra em uma loja de armas, pede um “38” e recebe como resposta que o local “não vende para petista”. Na cena seguinte, o comprador pergunta “O que você tem contra petistas?”. Reação: “Pistola, revolver, bazuca, metralhadora, granada…”.

O lixo

Parlamentares da base do presidente Jair Bolsonaro (PSL) comemoraram nas redes sociais a notícia de que o deputado Jean Wyllys (PSOL), decidiu deixar o país após ameaças. Deputados como Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), Joice Hasselmann (PSL-SP), Alexandre Frota (PSL-SP) e Carlos Jordy (PSL-RJ) foram ao Twitter para fazer piadas. 

Na luta

O vereador carioca e suplente de deputado David Miranda (PSOL-RJ) mandou um recado ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) minutos após a divulgação da notícia de que assumirá o mandato na Câmara no lugar de Jean Wyllys. Pelo Twitter, David cobrou de Bolsonaro respeito ao colega e prometeu forte oposição. “Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”, escreveu o vereador. Foi uma resposta a outra mensagem, de apenas duas palavras, publicada instantes antes por Bolsonaro: “Grande dia!”.

Moleque

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) também respondeu a provocação do presidente: “Que tal você começar a se comportar como presidente da República e parar de agir como um moleque? Tenha postura”, disse Freixo.


Não é da sua conta

Lally Weymouth, filha da lendária publisher Katharine Graham, foi falar com Bolsonaro em Davos para o Washington Post. Perguntou sobre “o escândalo envolvendo seu filho”, que teria “empregado pessoas com laços estreitos com membros de gangues”.

Resposta: “Este não é um assunto de governo —ou da sua conta— mas eu vou dar minha opinião. Seu nome de família, Bolsonaro, é a razão. É resultado de acusações políticas ao meu governo”.

Weymouth também perguntou se ele podia “assegurar à comunidade LGBT que eles têm lugar no seu Brasil”. Bolsonaro disse que “todos têm lugar no nosso Brasil”.

Pouco depois da entrada no ar da entrevista, outro filho seu festejava no Twitter o exílio do deputado Jean Wyllys. Que o mesmo WP, o Guardian, a Bloomberg e outros noticiaram sublinhando ser devido às “ameaças de morte” de bolsonaristas.

A Bloomberg lembrou que, ao entrevistar o presidente brasileiro no dia anterior em Davos, ele havia dito: “Eu não tenho nada contra gays”.

MEDO E DELÍRIO EM DAVOS

Depois do discurso, possivelmente o mais curto já proferido por um chefe de Estado no Fórum Econômico Mundial, Jair Bolsonaro pagou outro mico em Davos. É que a coletiva de imprensa que ele e os três ministros que o acompanham dariam foi cancelada 40 minutos antes de começar. Os jornalistas estrangeiros chegaram a esperar no local, até serem avisados do cancelamento. E tem mais: a primeira justificativa dada para a abrupta mudança de planos foi a “abordagem antiprofissional da imprensa”. Isso em meio à repercussão dos desdobramentos do escândalo envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro. Folha conta que depois que a informação foi publicada, a comitiva brasileira mudou essa versão não uma, mas duas vezes. Primeiro, disse que o presidente quis se poupar de uma agenda cheia. Como todos os outros compromissos foram mantidos, veio outra desculpa: Bolsonaro teria ido ao hotel trocar a bolsa de colostomia… Os ministros Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) que não têm, pelo que consta, nenhuma condição de saúde, não apareceram. A foto das cadeiras vazias já virou meme na internet. 

E para fechar com chave de ouro…

O assessor da Presidência, Tiago Pereira Gonçalves, que divulgou a primeira versão para a imprensa foi tirar satisfações com o jornal por ter publicado a informação. “Exaltado, ele abordou a reportagem ao lado do bar do lobby do hotel em que a delegação está hospedada. No fim da altercação, tocou levemente o ombro do jornalista (…), mas não fez ameaças nem o intimidou. Foi conduzido para fora do ambiente por outros repórteres que estavam no local e por funcionários do estabelecimento”, descreve a Folha.

Vazio e raso

Jair Bolsonaro dispunha de 45 minutos para discursar no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Falou por apenas seis minutos. Poderia ter aproveitado sua estreia internacional para seduzir chefes de Estado, presidentes de corporações globais, diretores de órgãos multilaterais e dirigentes de ONGs. Mas preferiu despejar sobre a audiência uma retórica de redes sociais. Disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Espremido, todo conteúdo de sua fala fornece um sumo que caberia em meia dúzia de tuítes. Foi constrangedor.

Medo, interesse e certa satisfação

Foi assim que empresários, economistas e a elite da finança internacional receberam, no Fórum Econômico Mundial, em Davos o discurso do presidente de Jair Bolsonaro – que, em menos de dez minutos, tentou convencer o mundo de que o Brasil “mudou”. “O Brasil é um grande país. Merece alguém melhor”, disse o americano Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia. “Ele me dá medo”, insistiu.

Para o Le Monde, Bolsonaro “se satisfez em fazer o mínimo” e seu discurso “não deve ir para os anais” de Davos. Ficou “se agarrando aos cartões, levados ao palco por auxiliar”, e “escapou das perguntas”.

O Financial Times afirmou que foi uma “aparição breve e controlada”. Que Bolsonaro, “consciente de sua reputação, fez um discurso curto e, quando respondeu perguntas, se agarrou aos cartões”.

O New York Times descreveu o presidente brasileiro como “a face do populismo” em Davos, alguém que copia o americano Donald Trump até na insistência em “vestir casaco de inverno, apesar de falar numa sala aquecida”.

O Wall Street Journal anotou, no meio de texto sobre o ambiente “quieto” no fórum esvaziado, a observação de um ex-vice-secretário do Tesouro dos EUA, sobre Bolsonaro: “Não foi de levantar plateia”.

No Twitter, a avaliação foi menos contida. Sylvie Kauffmann, que escreve no Le Monde e no NYT, falou em “fiasco [flop] de Bolsonaro em Davos”, com “curto discurso de campanha” e “evitando dar respostas concretas”.

Heather Long, do Washington Post, resumiu: “Big fail”, grande fracasso.

Risos de Haddad

Enquanto Jair Bolsonaro estava em Davos, Fernando Haddad, candidato derrotado nas eleições presidenciais de outubro estava em Portugal. Ele ridicularizou os seis minutos do discurso de Bolsonaro no Fórum Econômico (dizendo que iria falar “um pouco mais de seis minutos, apesar do padrão estabelecido pelo presidente”).

Pavor

A cada aparição do presidente Jair Bolsonaro a impressão é que ele foi convidado para um jantar de muitos talheres e não parece à vontade ao manusear a parafernália. É garfo de peixe ou de carne? Para que tantos copos? Percebe-se o seu desconforto em situações oficiais, apesar dos quase 30 anos de vida pública. Era pavor o que havia em seus olhos no breve discurso em Davos e na entrevista que se seguiu. Jair acreditava que só precisava se cercar de especialistas para governar e talvez tenha percebido apenas agora que são necessários talentos que ele não tem, como gerir uma equipe, administrar crises, comunicar-se com outros líderes, e também com a população, de forma clara e assertiva. A análise é da Jornalista e roteirista de TV Mariliz Pereira Jorge.

Meio ambiente

Depois das muitas ameaças e do tardio recuo sobre a saída do Brasil do Acordo de Paris, o meio ambiente foi um dos temas abordados em Davos. Bolsonaro disse que somos “o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária”.

Folha apresentou o discurso, na íntegra, comentado e “corrigido”. Nesse trecho, aponta que na real o Brasil não é o país que mais preserva o meio ambiente e ainda por cima é o que mais desmata. Também não somos o país com mais florestas e, no ranking em percentual de áreas protegidas, ficamos em 52º lugar. A Deutsche Welle também falou disso, lembrando que o Brasil já desmatou em três décadas um total de 783 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica (duas Alemanhas) e que no ano passado a taxa de desmatamento da Amazônia foi a mais alta da última década. Bolsonaro disse ainda que “nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis”.

Filho a bordo

Eduardo Bolsonaro foi o único deputado federal a integrar a comitiva presidencial a Davos, na Suíça. O filho de Jair Bolsonaro viajou junto com o pai e os ministros no avião presidencial. Ele postou no Twitter foto em que aparece ao lado do pai e próximo a ministros como Sérgio Moro, Paulo Guedes e Ernesto Araújo. A presença do filho no avião presidencial levou a uma série de comentários críticos no post do deputado. Eleitores cobraram as críticas do passado aos “voos da alegria” no “AeroLula” feitos nos governos do PT pela família Bolsonaro.


Vai cair

Jair Bolsonaro usou o Twitter para dar publicidade a uma afirmação de usuário da rede que desejou que seu avião caísse no oceano.  Ele compartilhou uma mensagem da conta “Ódio do Bem”, que afirmou: “Bolsonaro mal embarcou e a galerinha ´do bem´ já começou a se manifestar”, em referência a uma postagem que dizia: “Esse avião do Bolsonaro podia cair no Atlântico, hein?”. Em resposta, o presidente disse: “tudo bem por aqui! obrigado pela força! um grande abraço!”. 

Olha o rabo

Em Davos, na Suíça, Jair Bolsonaro, alheio ao derretimento da imagem do seu primogênito, queixou-se de ter herdado "o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica." Espremido entre as desculpas esfarrapadas do filho e o cinismo do pai, Sergio Moro emprestou sua respeitabilidade e sua boa imagem para serem utilizadas por espertos, diz Josias de Souza.

Conivente

Em Davos, Moro participou de um painel sobre combate à corrupção. Ao final, foi inquirido por um repórter a respeito da movimentação bancária suspeita de Fabrício Queiroz, o ex-faz-tudo de Flávio Bolsonaro. Refugiou-se atrás de evasivas: "Não me cabe comentar sobre isso, mas as instituições estão funcionando.".

FLÁVIO: PASSAGEIRO DA AGONIA

A revelação de que Flávio Bolsonaro (PSL) empregou a mãe e a mulher de um ex-policial militar suspeito de comandar milícias no Rio elevou o patamar da crise que absorveu o filho mais velho do presidente. No Planalto, a ordem é tentar blindar Jair Bolsonaro. Mas há o reconhecimento tácito de que as falas complacentes do presidente a milicianos e seu silêncio após a morte de Marielle Franco (PSOL), em março de 2018, dão munição mais do que suficiente para a oposição.

Reprise

Não é a primeira vez que laços entre o gabinete de Flavio e milicianos aparecem. Uma outra assessora do hoje senador eleito, que é tesoureira do PSL no estado, teve dois irmãos PMs acusados de extorsão presos em setembro do ano passado, como revelou o Estado de S. Paulo.

R$ 4,2 milhões em imóveis em 3 anos

Documentos obtidos em cartórios mostram que o então deputado estadual e hoje senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) registrou de 2014 a 2017 a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões. Em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos. Flávio começou na vida pública em 2002, tendo como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens. – Folha de S. Paulo

A verdade deles

Pendurado nas manchetes de ponta-cabeça, o senador eleito Flávio Bolsonaro concedeu um par de entrevistas para restabelecer "a verdade" sobre o pedaço do seu movimento bancário que o Coaf considerou suspeito (veja aqui e aqui). O primogênito do presidente da República brandiu documentos. Mas se negou a entregá-los. Recusou-se até mesmo a folhear a papelada diante das câmeras. De resto, sonegou à plateia um esclarecimento singelo: por que despreza a transferência bancária eletrônica?

Coisa de amigos meus

O presidente em exercício, Hamilton Mourão, concedeu entrevista à agência Reuters em que diz que o caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo. “É preciso dizer que o caso Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo”, afirmou, emendando, em seguida, que é preciso aguardar o andamento dos fatos e investigações antes de se tirar conclusões.

Silêncio em Curitiba

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a “república de Curitiba” por estar em silêncio em relação às movimentações atípicas identificadas pelo Coaf nas contas bancárias do ex-assessor de Flavio Bolsonaro, Fabrício Queiroz. No Twitter, Gleisi acusou o grupo de usar o combate à corrupção apenas como caminho para chegar ao poder. “Fazem alianças políticas para conquistar o comando. A luta contra a corrupção é mero palavrório”, escreveu. A deputada eleita também se mostrou incomodada com a possibilidade de que Deltan Dallagnol seja indicado como novo procurador-geral da República em setembro.


Mais 27 políticos citados pelo Coaf

Além de Flavio Bolsonaro, outros 21 deputados e seis ex-deputados da Alerj tiveram movimentações bancárias atípicas citadas em comunicações do Coaf. Os nomes dos 27 políticos estão em um relatório produzido pelo conselho e enviado ao MPF em junho do ano passado, seis meses depois da lista em que aparece, Fabrício de Queiroz, ex-assessor de Flavio. O filho do presidente Jair Bolsonaro não é citado no relatório de 128 páginas sobre os 27 políticos com passagem na Alerj.

Amigos do peito

Um dos alvos da operação Intocáveis, que prendeu milicianos suspeitos de participarem do assassinato da vereadora Marielle Franco (PESOL) no ano passado, o major da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ronald Paulo Alves Pereira, foi homenageado pelo senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) em 2004, quando este era deputado estadual na Alerj. Na época, Flávio fez uma Moção de Louvor e Congratulações que homenageasse o policial por “importantes serviços prestados ao Estado do Rio de Janeiro quando da operação policial realizada no Conjunto Esperança no dia 22 de janeiro de 2004”, um confronto que teria resultado na morte de três pessoas.

Datas não batem

As datas dos pagamentos em dinheiro de um imóvel vendido por Flávio Bolsonaro registradas em escritura divergem dos 48 depósitos fracionados de R$ 2.000, no total e R$ 96 mil, encontrados pelo Coaf em sua conta em junho e julho de 2017. As divergências constam de reportagem do jornal O Globo, que teve acesso à escritura. Lá está consignado que R$ 600 mil dos R$ 2,4 milhões da venda do imóvel foram pagos em dinheiro, respectivamente em março e agosto daquele ano. As datas, portanto, não coincidem com os 48 depósitos pingados.

O comprador, Fábio Guerra, procurado pelo jornal, reafirmou que parte dos R$ 600 mil foi paga aos poucos, em datas das quais diz não se recordar exatamente, ao longo de dois ou três meses. “Eu dei assim em dois ou três meses. Não dei R$ 100 mil de uma vez só não, entendeu? Eu vendi um imóvel no passado para poder pagar ele. Eu peguei parte em dinheiro (da venda) também e dei para ele.”

Meu garoto

Em entrevista à Record, o presidente Jair Bolsonaro disse acreditar na inocência do filho Flávio, deputado estadual eleito senador pelo PSL do Rio de Janeiro. Segundo o presidente, as suspeitas levantadas contra seu filho têm como objetivo atingir o seu governo. “Acredito nele. A pressão em cima dele é para tentar me atingir. Ele tem explicado tudo o que acontece com essas acusações infundadas, que teve sim seu sigilo quebrado”, afirmou. "Nós não estamos acima da lei. Pelo contrário, estamos abaixo da lei. Agora, que se cumpra a lei, não façam de maneira diferente para conosco. Não é justo atingir o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir", acrescentou.

Tem que pagar…

Em entrevista para a agência de notícias Bloomberg, o presidente Jair Bolsonaro disse que se o senador eleito Flávio Bolsonaro , seu filho mais velho, errou e se isso for provado, ele terá que pagar pelos atos dele. “Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”.

O jeito com que Jair Bolsonaro falou de Flávio Bolsonaro parece a de um pai reclamando que seu filho mais velho serviu chope sem colarinho, queimou as panquecas do café da manhã, saiu para correr num dia frio sem fazer aquecimento. Ou roubou no Banco Imobiliário.

Nesse sentido, a palavra "erro" é muito benevolente e compreensiva para tratar de "movimentações atípicas" no valor de milhões de reais, compras e vendas de imóveis que podem ter sido usadas para encobrir a origem da renda, dezenas de depósitos estranhos em caixas eletrônicos, indícios de recolhimento de parte dos salários dos cargos de confiança na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional usando laranja e até contratação de familiares de um miliciano para trabalharem em seu gabinete – miliciano tão poderoso que pode não ter ordenado, mas deve saber quem planejou e executou Marielle Franco e Anderson Gomes.

Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou nas redes sociais, por intermédio de sua assessoria, uma mensagem questionando a autoridade moral do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para se manifestar sobre a Venezuela. Lula afirma que "Bolsonaro não cuida nem do filho e quer cuidar da Venezuela".  O ex-presidente está atualmente preso em Curitiba cumprindo pena. 


Haddad

Fernando Haddad voltou a criticar as recentes suspeitas que atingem o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente, e comparou as acusações com as feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Eu conheço bem o caso do Lula. Eu acho que a sentença condenatória é frágil, que não tem elementos de prova que passem nem perto com o que está acontecendo com o filho do atual presidente. O que está acontecendo [com Flávio Bolsonaro] é muito mais sério, é muito mais grave do que tudo o que foi apurado em relação ao ex-presidente Lula em 30 anos de vida pública”, disse.

Lei pra todos…

O vice-presidente, Hamilton Mourão, defendeu, enquanto ainda era presidente em exercício, a continuidade da investigação do MP-RJ sobre as movimentações financeiras atípicas do senador eleito Flávio Bolsonaro. “Tenho dito seguidamente que essa questão pertence ao Flávio. O Flávio era deputado estadual no Rio de Janeiro. Os fatos estão ligados lá no Rio. Acho que devemos esperar a investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro”, disse em entrevista à GloboNews. “Deixando claro: a lei é para todos.”

VENEZUELA

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta quinta-feira (17), ao lado de representantes da oposição venezuelana, que o Brasil é parcialmente responsável pela crise política na Venezuela. Ele citou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT), que apoiaram o chavismo.

Ex-presidente

Em publicação feita na sua conta oficial do Twitter, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, já se refere a Nicolás Maduro como “ex-presidente da Venezuela”. O governo brasileiro e outros países da América Latina não reconhecem a legitimidade da reeleição de Maduro. Na sua postagem, Ernesto repassou a informação de que o “Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela apela ao povo e às Forças Armadas venezuelanas para que não mais reconheçam a autoridade do ex-Presidente Nicolás Maduro e se subordinem à autoridade legítima exercida pela Assembleia Nacional”.  


TODO MUNDO TREPADO

O vice-presidente general Hamilton Mourão afirmou à Rádio Gaúcha, que o decreto que facilita a posse de armas, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada, não é uma medida de combate à violência. Mourão disse ainda que o ministro da Justiça, Sergio Moro, tem “medidas para segurança pública” a serem anunciadas, informou o Broadcast Político. “Esta questão da flexibilização da posse de armas, eu não vejo como uma medida de combate à violência. Eu vejo apenas, única e exclusivamente como o cumprimento de promessa de campanha e que vai ao encontro aos anseios, em grande parte, de parte de eleitorado dele”, afirmou Mourão.

BOLSONARO NAS REDES

As suspeitas sobre o ex-assessor de Flavio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, têm sido motivo de desgaste para o grupo de apoio a Jair Bolsonaro nas redes sociais.  Dentre as dez postagens que citam Flavio com maior engajamento no Facebook nos últimos três dias, somente duas são em defesa do senador eleito – uma do próprio Flávio e uma da deputada eleita Joice Hasselmann (PSL). O monitoramento realizado pelo Estadão Dados utilizando a ferramenta Crowdtangle mostra que, após o 2.º turno das eleições de 2018, o engajamento de apoiadores muito ativos durante o período eleitoral, teve queda em todos os espectros ideológicos. Por ter a maior e mais volumosa rede, Bolsonaro sofreu a maior queda absoluta. Passou de 7,8 milhões de interações em seu auge, na semana anterior ao 1.º turno, para 1,7 milhão hoje, ou seja, tem apenas 22% da força de antes.

PRESENTINHO

Michel Temer concedeu a segunda maior anistia tributária da história a empresas, perdendo apenas para Lula. O último Refis, aprovado em seu governo, perdoou débitos tributários de R$ 47,4 bilhões e parcelou outros R$ 59 bilhões em até 175 vezes, beneficiando 131 mil contribuintes. Os dados foram divulgados pelo Estadão. Esse Refis generoso foi aprovado em outubro de 2017. Os dados já estão com a equipe de Paulo Guedes, que tem dito que o aumento de arrecadação tributária será uma das receitas do ajuste fiscal. Jair Bolsonaro disse que não fará mais Refis.

SABE MUITO

Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL) e deputado federal pelo DEM-SP, virou motivo de piada nas redes sociais após divulgar um vídeo em que comete um erro crasso de história. Anti-comunista, o jovem afirmou que o filósofo alemão Karl Marx “percebeu” seus erros na Primeira Guerra Mundial. De acordo com o deputado, que se considera “escritor”, Marx teria percebido seus erros pois, na guerra, o proletariado pegou em armas para guerrear com o próprio proletariado. Acontece que o filósofo morreu em 1883 – ou seja, 31 anos antes do conflito. O vídeo rapidamente viralizou pelo deslize e, diante da repercussão negativa, Kim o apagou das redes sociais. Pelo Twitter, o líder do MBL tentou minimizar. “É que eu vi o Maduro dizendo que foi pro futuro e viu uma Venezuela feliz, pensei que Marx pudesse ter feito a mesma coisa”, escreveu.

Assista, abaixo, o vídeo em questão.


COM BRASILEIRO É NA PORRADA

A visita de uma comitiva de parlamentares eleitos pelo PSL à China continua a render polêmica. Em vídeo publicado nas redes sociais, o deputado eleito Daniel Silveira (RJ) usa palavrões para rebater as críticas feitas por aliados do presidente Jair Bolsonaro à viagem do grupo e diz que o “brasileiro só funciona na porrada” e que é preciso “odiar o brasileiro”.

NEGRAIADA

A Justiça Federal de São Paulo mandou a Universidade Presbiteriana Mackenzie aceitar o estudante de Direito Pedro Baleotti, 25 anos, de acordo com o Coletivo AfroMack, que acompanhava o caso. O rapaz foi expulso da faculdade no dia 12 de dezembro de 2018, depois que vídeos gravados por ele mesmo com falas racistas viralizaram nas redes sociais. As publicações foram feitas logo após o segundo turno das eleições e, nelas, o aluno aparecia usando uma camiseta do presidente recém-eleito Jair Bolsonao (PSL) e posava com uma arma, dizendo que estava indo votar no capitão reformado. Na sequência, em outra gravação, ele ameaçava “matar a negraiada”.

A juíza Federal Sílvia Figueiredo Marques concedeu a liminar solicitada pelo advogado Norman Prochet Neto, que decretou a suspensão da “decisão de desligamento do impetrante”, segundo a Justiça Federal da 3 Região, em São Paulo.  O argumento é de que o Mackenzie não respeitou o Código de Decoro Acadêmico da Universidade, que aponta que “a Comissão Sindicante deveria ser formada por cinco membros, sendo três professores, um membro do corpo técnico administrativo e o Corregedor Disciplinar Universitário, o que não ocorreu”. Para a juíza, a suspensão foi uma medida correta, porém a expulsão extrapolou o estatuto interno.

O Coletivo AfroMack anunciou, com “profunda consternação” que o aluno Pedro Baleotti poderá voltar à frequentar o campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

SE MATAM MAIS DO QUE SÃO MORTOS

Uma reportagem da Folha fala de policiais militares afastados por transtornos psiquiátricos em São Paulo. Entre janeiro e setembro do ano passado, foram 555 e, desde 2010, foram 11.126. E nem todos os que estão com problemas chegam a pedir afastamento. No estado, o número de PMs mortos por suicídio supera o de mortos em confronto. 

CHAMA OS UNIVERSITÁRIOS

O repórter Jamil Chade, do Estadão, teve um quase café da manhã com o presidente Jair Bolsonaro na manhã de quarta-feira, 23, em Davos, na Suíça. Sentado à mesa ao lado no restaurante do hotel, o repórter acompanhou cerca de 20 minutos da conversa da comitiva com o presidente, assessores, o chanceler Ernesto Araújo e o filho Eduardo Bolsonaro. Assuntos estratégicos foram tratados, assim como a repercussão na imprensa do discurso de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, além de questões corriqueiras e mesmo brincadeiras.

Dois momentos chamam atenção. O primeiro, é quando o tema da conversa foi a situação do Enem. “Pode ter certeza que alguém do PT vai vazar a prova”, disse Bolsonaro, num dos trechos da conversa que está gravado. “Vai vazar”, repetiu, insistindo para a facilidade que seria “tirar uma foto”. O outro, foi quando Eduardo perguntou ao grupo: “Trilionário e bilionário têm (a letra) H?”. “Não, né?”.

DELAÇÃO NO CASO MARIELLE

O Ministério Público do Rio negocia a delação premiada do major da Polícia Militar do Rio de Janeiro Ronald Paulo Alves Pereira, preso na Operação Os Intocáveis nesta terça-feira e considerado o segundo na hierarquia da milícia conhecida como Escritório do Crime, para que revele informações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março do ano passado. Ele já é pressionado por ser réu em um júri popular marcado para abril, informa O Globo.

OUTRA DE DAMARES

O repórter Eduardo Goulart de Andrade conta na Vice uma história bizarra. A protagonista não surpreende: é Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ela tentou anular uma decisão do Tribunal de Justiça de Goiás que, em 2013, autorizou uma mulher em tratamento de um câncer maligno no pulmão a interromper a gestação. Jéssica da Mata Silva passou por cirurgia para retirar o tumor. Foi depois do procedimento que ela descobriu a gravidez. Como precisava fazer radioterapia e quimioterapia, tratamentos que trazem riscos de má-formação, Jéssica procurou a Defensoria Pública. O órgão entrou com pedido de aborto terapêutico por entender que ela corria risco de morte caso não fizesse o tratamento. 

O pedido foi negado na primeira instância e acatado na segunda. Assim que saiu a decisão, Jéssica se internou em um hospital do SUS para fazer o procedimento, mas a indução por medicamentos não fez efeito. Ela ficou internada nove dias. Enquanto ela estava no hospital, Damares Alves moveu a liminar no Supremo Tribunal de Justiça para anular a decisão favorável à Jéssica. “O principal argumento da advogada-pastora era de que o feto estava ‘ameaçado no seu direito de ir e vir e, mais que isso, em seu direito à vida”, conta a reportagem.  Fica pior: Damares argumentou que “tampouco o aborto serviria para ‘curar’ o tumor da mãe, sendo errôneo denomina-lo ‘terapêutico'”. O relator do caso no STJ votou contra o pedido de Damares. Jéssica sequer ficou sabendo da movimentação da pastora. Descobriu ao ser procurada pelo repórter, semana passada. 

Atestado de ignorância

Outro ministro que dá o que falar é o do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Piauí sistematizou os episódios suspeitos da sua trajetória, ainda como titular da secretaria estadual de Meio Ambiente de São Paulo no governo Alckmin, e compilou as declarações sem sentido que ele têm dado à imprensa.

Em detalhes

Nexo detalhou o perfil de gênero, renda, escolaridade, cor, idade, orientação sexual e preferência política por trás da pesquisa do Datafolha que, dentre várias perguntas, questionou se deveria haver orientação sexual nas escolas e se vítimas de estupros deveriam receber ajuda financeira para ter o filho (como propõe Damares Alves). Por exemplo: 80% dos que se declaram bissexuais concordam que educação sexual deve ser debatida na sala de aula. Não é surpresa, certo? Em terceiro lugar como o grupo que mais concorda com a afirmação estão os espíritas, com taxa de mais de 75%. Já em relação à proposta de Damares, o grupo que mais concorda é o que declarou o PSDB como o partido de preferência.

SEM TRANSPARÊNCIA

São bastante graves as mudanças nas regras da Lei de Acesso à Informação feitas por decreto publicado ontem, assinado pelo presidente interino, Hamilton Mourão. De agora em diante, integrantes do segundo escalão poderão taxar dados e documentos públicos nos mais altos graus de sigilo: ultrassecreto (com embargo de nada menos do que 25 anos, renováveis por mais cinco!) e secreto (15 anos). Antes só o presidente, o vice, ministros, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões diplomáticas e consulares permanentes no exterior tinham esse poder. Com a alteração, o número de gente com tinta na caneta ultrapassa os 1,3 mil. É um retrocesso para todo mundo. Particularmente para a imprensa: não são poucas as reportagens que conseguem furar a barreira de proteção das assessorias de imprensa graças à LAI, sancionada em 2011 por Dilma.

OLHA A FACA

Está “tudo certo” para a cirurgia do presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, 28, afirmou o cirurgião Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, que vai comandar a equipe que realizará o procedimento para retirada da bolsa de colostomia, nos Hospital Albert Einstein, em São Paulo.  A cirurgia, de acordo com o médico, será realizada pela manhã. Procedimentos como esse levam de três a quatro horas, afirmou. No domingo, 27, Bolsonaro viaja à capital paulista para exames pré-operatórios. “Está tudo bem com ele, está tudo perfeito com ele. Ele está muito bem”, relatou o cirurgião. Ainda não é possível afirmar qual será o período necessário para recuperação.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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