19/03/2024 - Edição 540

Viver Bem

Dormir mal arruína saúde e relações sociais, mostram estudos

Publicado em 04/12/2018 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

A primeira lâmpada elétrica, inventada por Thomas Edison, veio ao mundo há 139 anos para revolucionar a noite. Com a vida noturna liberta da escuridão, atividades que precisavam findar ao pôr do sol ganharam novos horizontes. E os resultados são tão brilhantes quanto dramáticos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 45% da população global têm alguma dificuldade para dormir.

Nosso estilo de vida tem esmagado o tempo dedicado ao descanso. De acordo com o Gallup, instituto americano de pesquisas de opinião, em 1942 desfrutava-se diariamente de um período de oito horas de sono nos Estados Unidos. Em 2013, a média de horas dormidas já havia caído para 6,8. No detalhe, o resultado é ainda mais assustador: 40% da população dorme no máximo seis horas por noite. Por aqui, não é diferente. Dados da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia apontam que 45% dos brasileiros dormem mal e 52% acordam cansados.

Para elucidar como a privação do sono afeta nosso bem-estar físico e mental, o neurocientista britânico Matthew Walker, professor da Universidade Berkeley, na Califórnia, escreveu o livro Por que Nós Dormimos (Intrínseca, 2018). Para ele, o sono e o sonho são fundamentais para nossa saúde física e mental — e tão intrínsecos à nossa natureza quanto respirar.

Efeito curativo

É comprovado: uma boa noite de sono é uma das principais fontes de saúde. E de juventude. Um estudo conduzido pelo Brain-Work Institute do Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, divulgado em 2007, mostrou que tanto dormir pouco quanto dormir demais encurtam a vida.

Mais de 20 mil gêmeos foram acompanhados durante um período de 22 anos. Dormir menos do que sete horas por noite aumentou o risco de morte em homens (+26%) e mulheres (+21%); já dormir mais do que oito horas significou uma redução de longevidade de 24% para homens e 17% para mulheres. O uso de remédios para dormir teve resultados ainda mais drásticos: 31% dos homens e 39% das mulheres morreram mais cedo. Os pacientes foram acompanhados entre 1982 e 2003.

Dormir entre sete e oito horas por noite não proporciona só uma vida mais longa, mas também uma vida mais interessante e inteligente. A criatividade, por exemplo, é intensificada após uma boa noite de sono, especialmente quando despertamos logo após a fase REM (Rapid Eye Movement, que tem esse nome porque nossos olhos ficam se movendo rapidamente). Essa é a fase mais profunda, em que os sonhos mais vívidos acontecem.

Um estudo da Escola de Medicina de Harvard, por exemplo, afirmou que acordar logo após essa fase do sono aumenta em 30% a habilidade de resolver palavras cruzadas de manhã.
Outros estudos também sugerem que dormir ajuda a resolver problemas complexos — em inglês, existe até uma expressão para isso, “let’s sleep on it”, que sugere dormir para conseguir solucionar melhor alguma questão.

Também já é bem consolidada entre os pesquisadores a ideia de que dormir é essencial para o aprendizado, para o desenvolvimento da linguagem e para a consolidação da memória.

Terapia noturna

Imagine se todas as vezes que você se lembrasse de algum evento que aconteceu na sua vida, como uma briga com alguém que você ama, a emoção do momento voltasse à tona. Seria impossível manter a sanidade, certo? Isso só não ocorre por uma razão: porque dormimos.

O pesquisador Matthew Walker, da Universidade Berkeley têm mostrado que é durante a fase dos sonhos mais intensos que a memória é processada e, nesse momento, os fatos são libertados das emoções mais traumáticas. Uma noite mal dormida pode impedir essa separação, e a memória mal processada continuará voltando, noite a noite, como uma bagunça ainda não arrumada dentro do sistema. Caso o erro persista por mais de uma semana de noites mal dormidas, aquela memória poderá ser armazenada mesmo corrompida.

É daí que, possivelmente, nascem os estresses pós-traumáticos. Os prejuízos à saúde mental não param por aí — afetam também a capacidade de se relacionar: pessoas cansadas sentem-se menos dispostas a manter relações sociais, além de ficarem mais irritadas, ansiosas e deprimidas.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *