20/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Será que seu chefe é um psicopata?

Publicado em 23/03/2017 12:00 - Rodrigo Amém

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

"Procura-se profissional comunicativo, avesso à rotina, orientado para resultados e aberto a novos desafios". Quem nunca se deparou com esse tipo de anúncio de emprego nos LinkedIn's da vida? Na verdade é quase impossível encontrar uma vaga (e ponto final!) que não inclua uma variação dessas características. Parece que só quem é assim tem espaço no mercado de trabalho. E só quem prova ser assim está apto a crescer na empresa.

Mudando de assunto, mas não muito: como você identifica um psicopata? Não pretendo praticar psiquiatria de bar. Não vamos entrar no mérito da diferença entre sociopata e psicopata.  Mas os atributos mais comuns de ambas patologias são justamente a capacidade comunicativa, a ausência de empatia, a impulsividade e o gosto pelo risco, que nasce da aversão à rotina.

Pois eu fico me perguntando quantos psicopatas foram contratados e promovidos no último ano fiscal.

A semelhança dos perfis de psicopatas e executivos não é um assunto novo. O clássico dos anos noventa Psicopata Americano já fazia esse alerta. Mas, saídos da era Reagan, os gringos acharam a coincidência engraçada, e apenas isso.

Eu sei que essa comparação parece esdrúxula. Afinal, psicopatas são loucos. Quando chegam à liderança, o fazem em seitas religiosos absurdos ou facções criminosas. Jamais num conselho diretor de uma empresa multinacional. Bem, amigos.

O livro de 2006 "Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work" (livremente traduzido como "Serpentes de Terno: Quando Psicopatas vão Trabalhar"), dos doutores Paul Babiak e Robert Hare oferece uma extensa pesquisa sobre como psicopatas são eficientes no ambiente de trabalho.

Todo mundo em posição de poder é psicopata? Não, claro que não. Mas que os sorrisos estampados nos cadernos de economia e política estão cada vez mais assustadores, isso ninguém pode negar.

De acordo com os pesquisadores, muitas habilidades requeridas pelas empresas tornam mais difícil enxergar a verdadeira natureza de um psicopata. Primeiro, ele tem a habilidade de "ler" pessoas rapidamente, o que faz com que ele seja percebido como um "excelente comunicador interpessoal". Em muitos casos, essas habilidades se tornam mais aparentes porque eles não possuem inibições sociais e se colocam sem maiores receios. Suas impressões sobre a psique dos outros combinada com uma superficial – mas convincente – fluência verbal faz com que eles estejam sempre aptos a se adaptarem à situação. E eles amam ser o centro das atenções.

De acordo com os autores, estima-se que a presença de psicopatas em posições de lideranças é três vezes maior do que na média da população.

Imagine o que um psicopata não diagnosticado em um cargo de liderança é capaz de fazer. Que ações sua corporação realizará para alcançar seus objetivos?

O documentário de 2003 "A Corporação" explora essa questão: se as corporações fossem analisadas como indivíduos, apresentariam um comportamento típico de um psicopata: atitudes agressivas na busca por seus objetivos e uma comunicação eficiente mascarando a falta de empatia em relação à sociedade.

Isso fica ainda mais notável com o lobby que determinadas empresas fazem para mudar as leis em seu benefício. Usam e abusam de seu poder econômico para influenciar políticos e favorecer seu modelo de negócio. Que tipo de Executivo pensaria em financiar a terceirização para criar empresas atravessadoras entre o salário e o servidor público? Que tipo de deputado votaria contra aposentadorias e benefícios trabalhistas para garantir verba de reeleição? Que tipo de político acha que a Justiça do Trabalho "não deveria existir"?

Estou insinuando que todo mundo em posição de poder é psicopata? Não, claro que não. Mas que os sorrisos estampados nos cadernos de economia e política estão cada vez mais assustadores, isso ninguém pode negar.

Leia outros artigos da coluna: Meia Pala Bas

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *