20/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Neymar não importa. Marta não importa.

Publicado em 13/08/2016 12:00 - Redação Semana On

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Para começar, uma confissão franca: eu não sei quase nada sobre futebol. Mas eu sei uma coisa: futebol não é basquete.

Vamos comparar craques da cesta e do gol: Messi contra Jordan. No auge de sua carreira, Jordan era capaz de garantir que pegaria a bola no fundo da quadra e faria uma cesta. O resto do time era quase irrelevante. MJ não precisava de assistência, necessariamente. Caso um companheiro de equipe cometesse um erro e entregasse a bola ao adversário, Jordan estava a postos para reparar a presepada no lance seguinte. É o que os especialistas chamam de esporte de elo forte. O importante é o craque.

Messi é tão bom que, às vezes, ele desequilibra. Mas na maior parte do tempo, ele precisa que alguém passe a bola. E a qualidade desse passe é diretamente proporcional ao desempenho do Messi na partida. Sabe quando o locutor diz "parece que Messi não entrou em campo"? Pois é: se alguém erra o passe, a bola não chega no super craque. O Messi no Barcelona é um. Na seleção argentina é outro.  

No futebol, a qualidade do seu pior jogador influencia mais o desempenho da equipe do que a do seu melhor jogador. É o que os estudiosos de estatística chamam de esporte de elo fraco. O importante é a qualidade do time como um todo.

Acontece que Futebol tem onze jogadores. Suponhamos que seu time tenha uma estrela, um super craque. E que seu pior jogador tenha um desempenho que seja, digamos, 45% inferior ao da estrela. Como se trata de um esporte colaborativo e de baixa pontuação, o pior jogador tende a comprometer o rendimento do super craque. Basta que seu pé de chipa faça um passe errado para alterar o resultado da partida. No futebol, a qualidade do seu pior jogador influencia mais o desempenho da equipe do que a do seu melhor jogador. É o que os estudiosos de estatística chamam de esporte de elo fraco. O importante é a qualidade do time como um todo.

A teoria dos esportes de elo forte e elo fraco foi criada pelo estatístico Chris Anderson e o especialista em estratégias David Sally. O livro deles "Os Numeros do Jogo – Por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado" é uma leitura fantástica para quem quer superar o papinho de "entrar em campo de salto alto", "amor à camisa" e outras bobagens que as pessoas decoram para recitar nas mesas de bar.
Entre muitas revelações esclarecedoras sobre futebol, o livro apresenta um estudo realizado com os maiores clubes da Europa. Se as equipes investissem na melhoria dos seus piores jogadores, haveria um aumento considerável no saldo de gols e de vitórias. Moral da história: um cartola preocupado com a qualidade do time não compra um super craque de 50 milhões. Compra cinco ótimos jogadores de 10 milhões cada e manda os pés de chipa para casa.

Mas não é isso que acontece no mercado da bola. Os dirigentes preferem o glamour da estrela. O super craque traz mídia, merchandising, contratos de publicidade. Os cartolas preferem investir em um ídolo porque esta ostentação é muito mais lucrativa do que um vitorioso time de desconhecidos. Sabe aquela famosa ladainha de "investir na base", de ser "celeiro de talentos"? Isso é tudo muito bonito na nota da assessoria de imprensa, mas não é como o dirigente pensa. O dirigente quer craque no camarote, whisky e energético e comissão de contrato publicitário no bolso. Quem leva o futebol a sério como competição esportiva é quem gasta dinheiro com ele, não quem lucra.

Assim, sob a ótica do dirigente, Marta não é negócio. Pelo menos ainda não. Neymar é. Pelo menos por enquanto. Agora, para o torcedor, a discussão Neymar x Marta não faz sentido. Deveríamos estar na mesa do bar discutindo Marquinhos x Rafaelle.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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