True Colors
Publicado em 13/08/2016 12:00 - Guilherme Cavalcante
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Novembro de 2011. Fui solenemente convidado pelo Victor Barone para escrever para o público LGBT na recém criada Semana Online, atual Semana ON. Naquele mês, com 26 anos, a única certeza que tinha é que eu era, de fato, gay, e que gostava de ser. Sem traumas, sem dúvidas. Algumas inseguranças, confesso. Como assinar esta coluna, a primeira LGBT de Mato Grosso do Sul. Tanto por medo de não saber o que falar. Tanto por medo de perder oportunidades.
E perdemos. Defender a todo custo a True Colors – coluna cujo nome 'encontrei' com meu namorado em alusão à ONG pró-LGBT homônima de Cindy Lauper – trouxe revéses à Semana. Anúncios deixaram de ser publicados, agências desconversaram propostas. Mas, a revista comprou a briga. E comprou bonito. Em todo este tempo, e até hoje, a Semana ON não só blindou a True Colors como editorialmente abraçou a causa LGBT (a revista dos bichos e das bichas, como às vezes brincava meu editor, Victor Barone).
E com isso, pude me dedicar sem medo de represálias a conhecer meu próprio universo. Sim, muito embora lutemos para estar na superfície junto a vocês, temos uma forma diferente de ver o mundo. E eu mal sabia qualquer coisa sobre isso. Tive que estudar, desligar o computador e sair um pouco de casa, conhecer o gueto e as histórias por trás dele.
É isso que é um Adeus? Prefiro dizer, com lágrimas nos olhos, que a gente se vê por aí. E a todas e todos que leram até aqui, ou que leram qualquer coisa que escrevi, muito obrigado.
E Campo Grande foi ideal para isso. Numa cidade em que o movimento LGBT é historicamente liderado por travestis e transexuais, soube compreender quase imediatamente meus privilégios enquanto gay e cisgênero. Diria até que foi a maior descoberta, para além do óbvio (de que eu nada sabia sobre a nossa luta). Descobri também que casamento, adoção e direito à pensão são apenas um 'plus' diante da nossa necessidade de sobrevivência, da criminalização da homotransfobia. Aprendi sobre protagonismos. Aprendi também que não dá para ter uma opinião sobre tudo.
A True Colors – aqui digo sem medo, sem pieguice, sem insegurança alguma – mudou minha vida. Fez de mim uma pessoa mais esclarecida e menos preconceituosa, porque a partir da minha nova vivência LGBT consegui exercitar a empatia sobre outras bandeiras: feminismo, movimento negro, pessoas com deficiências, pessoas sem terra, sem teto… Não tem exagero em dizer que a True Colors fez de mim alguém de quem me orgulho. Eu sou, basicamente, o que foi lido nestes quatro anos. Eu sou a True Colors.
É por isso que não acho que este seja um adeus, já que não se distingue mais criador e criatura, já que não há limites entre meu discurso e minha prática, uma vez que eles estão consolidados e impressos nestas páginas. História viva do meu aprendizado e do meu amadurecimento enquanto ser humano.
Por mais que o compromisso da coluna não caiba mais dentro da minha rotina, a True Colors continua a existir, sempre e bela, com as cores do arco-íris. É meu maior orgulho, meu maior triunfo. Então… É isso que é um Adeus? Prefiro dizer, com lágrimas nos olhos, que a gente se vê por aí. E a todas e todos que leram até aqui, ou que leram qualquer coisa que escrevi, muito obrigado. Vocês também fazem parte desta história.
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