19/04/2024 - Edição 540

Eles em Nós

No futuro, o minúsculo será alvo de estudos

Publicado em 20/01/2021 12:00 - Idelber Avelar

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Para a galera que está pendente dos editoriais do Estadão, saiu uma boa notícia hoje, um contundente editorial pró-impeachment do minúsculo. Cito trechos:

"Em geral, grandes adversidades oferecem aos governantes a oportunidade de exercer uma liderança que, em tempos normais, dificilmente ocorreria. Não é preciso realizar feitos extraordinários. Muitas vezes um comportamento mediano é capaz de assegurar, numa grande crise, novo patamar de reconhecimento a muitos governantes. Jair Bolsonaro, no entanto, conseguiu o exato oposto.

[…]

No futuro, historiadores vão querer estudar e entender como o presidente Jair Bolsonaro realizou esse feito. O fato é que ele conseguiu. No meio de uma pandemia, com inúmeras preocupações e desafios a serem enfrentados, cidadãos das mais diversas orientações políticas e ideológicas, bem como partidos e entidades, viram-se na obrigação de denunciar o presidente da República por crime de responsabilidade.

[…]

A maioria das denúncias contra o presidente da República por crime de responsabilidade ocorreu precisamente em função de sua conduta no enfrentamento da crise sanitária. Depois de quase um ano de pandemia, Jair Bolsonaro deu mostras mais que suficientes de que não vai mudar. O Direito e a Política dispõem de instrumentos para sanar essas situações. Que o presidente da Câmara não tenha receio de usá-los. O País não pode ficar refém de alguém que despreza não apenas a Constituição, mas a vida e a saúde de sua população."

ESTRAGO

Para que se imagine o estrago feito pelo minúsculo, pense rápido: quais os três países com quem seria especialmente importante manter boas relações? Não é absurdo dizer que três escolhas óbvias seriam o nosso maior vizinho, o país que bem ou mal é a superpotência das Américas, e o nosso maior parceiro de negócios e maior potência comercial do mundo, certo?

Pois bem, eis o resultado do bolsonarismo nas nossas relações com:

Argentina: insultou a nação vizinha, desrespeitou seu presidente, previu hecatombes por sua eleição, e agora amarga a humilhação de ver até brasileiros de classe alta querendo emigrar para a Argentina, um país indubitavelmente mais vulnerável a crises econômicas externas que o Brasil. Esses insultos foram dirigidos ao mais buena onda dos vizinhos, com quem não temos problemas há 2 séculos, em uma relação bilateral na que até figuras tão diferentes como José Sarney e Raúl Alfonsín se entendiam bem.

EUA: lambeu o saco, em troca de nada, de um presidente que não se reelegeu, não soube pular do barco e felicitar o eleito enquanto era tempo, continuou alimentando teorias da conspiração de que o derrotado havia vencido o pleito, e agora condenou o Brasil ao fim da fila nas conversas com os EUA, país com quem, para o bem ou mal, temos mantido relações razoáveis.

China: insultou, vilipendiou, tripudiou, vomitou e urinou sobre a reputação de uma das mais admiráveis e antigas empreitadas do homo sapiens, dotada de milênios de sabedoria e, nos últimos anos, de grana à beça, com a qual ela compra do Brasil commodities que pode comprar em outros lugares. Para ganhar pontos fáceis com bate-bumbo racista ante sua base lobotomizada, o bolsonarismo enviou à sarjeta as nossas relações com ninguém menos que o gigante chinês. Ainda por cima com brincadeirinhas racistas feitas por presidente, chanceler e família presidencial!

Imagine o cara que consegue nos foder com a Argentina, com os EUA e com a China.

Não dá para medir o tamanho do buraco diplomático.

FALANDO PARA CARTAGENA

Sempre um prazer falar na Universidade de Cartagena, mesmo que virtualmente. Deixo com vocês o convite para o próximo congresso da instituição, no qual sou palestrante convidado, junto com duas feras queridas, Laura Catelli, da Universidade Nacional de Rosario, e Larry LaFountain-Stokes, da Universidade de Michigan.

A quem quiser ser inscrever para o Crítica práctica/Práctica crítica: un coloquio 2020: acredito que ainda há umas vagas. Eu falo no dia 1˚ de fevereiro, às 17h de Cartagena (19h de Brasília), sobre meu tema dos últimos anos, que é a catástrofe que nos aconteceu. É a sua chance de me ver xingar o minúsculo em espanhol.

Leia outros artigos da coluna: Eles em Nós

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *