29/03/2024 - Edição 540

Eles em Nós

Inacreditável, até pros moldes brasileiros

Publicado em 09/12/2020 12:00 - Idelber Avelar

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Isso aqui, salvo engano meu, é inédito: a Abin, órgão de inteligência, fez relatórios para defender Flávio Bolsonaro na investigação de seus crimes. Trocando em miúdos: um órgão policial do Estado está ensinando a um bandido como fugir da polícia. É inacreditável até para padrões brasileiros!

DESENCALHE

O governo do asno minúsculo e do milico "especialista em logística" vai despejar R$ 250 milhões em um "kit covid" fake, com remédio para malária sem qualquer eficácia para coronavírus, porque eles precisam desovar os milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhados.  Só com esse dinheiro, daria para imunizar, vacinar duas vezes, o município do Rio de Janeiro inteirinho. Criminosos, assassinos.

FINALZINHO

O asno miliciano corrupto e criminoso que governa o Brasil disse que o país "está vivendo um finalzinho de pandemia".

No Brasil realmente existente, a situação é esta: 21 estados em alta, incluindo os 8 mais populosos (SP, MG, RJ, BA, PR, RS, PE e CE).

Nos três últimos dias:

08/12: 51.088 novos casos, 842 mortes.

09/ 12: 53.453 novos casos, 836 mortes.

10/12: 53.347 novos casos, 770 mortes.

E nenhum plano do governo federal, evidentemente, além de continuar o bate-bumbo mentiroso e produtor de morticínio.

QUEDA

Caiu Marcelo Álvaro Antônio, o Ministro do Turismo envolvido no escândalo dos laranjas do PSL. Mas ele não caiu por corrupção e sim por … bater boca com um milico no Whatsapp.

Bons tempos em que ministros brasileiros caíam por algo feito em um fórum internacional ou por algo dito na televisão. Agora, os ministros caem por bate-boca de Whatsapp. Reproduzo abaixo os trechos relevantes do bate-boca.

Marcelo Álvaro Antônio acusou Ramos de ser traíra e de pedir a sua cabeça para facilitar o acordo com o Centrão. Bolsonaro ficou ao lado de Ramos e demitiu Antônio, substituindo-o por Gilson Machado, o sanfoneiro. Antônio saiu agradecendo a "generosidade" do "presidente Bolsonaro".

O bolsonarismo também é isso: essa fábrica de vermes sem o menor amor próprio.

VACINA

Tô vendo aí gente que sempre disse “biscoito” e sempre pôs ketchup na pizza querendo tirar onda de paulistano só pra ser vacinado primeiro. Coisa feia! Que vergonha! Estão parecendo a magistocracia.

Só para deixar claras minhas credenciais:

1. Sempre disse “bolacha” (não espalhem que, para mineiro, bolacha e biscoito são COISAS diferentes).

2. Nunca pus ketchup na pizza.

3. Ao falar, nunca, nem em ambientes cultos, jamais fiz o plural da palavra “pastel”.

4. Nunca chamei o Minhocão de “Elevado Costa e Silva”.

5. Meu café da manhã favorito, depois do pão de queijo, é pão na chapa.

6. Já declarei várias vezes que considero a padaria paulistana, junto com o futebol e os arranjos de Pixinguinha, uma das 10 maiores invenções do homo sapiens desde que ele começou a zanzar pelas planícies da Etiópia.

7. Frequento o sarau da Cooperifa, na Zona Sul, há uma década. Aliás, sei chegar à M'Boi Mirim sem precisar de táxi ou Uber.

8. Sei usar “meu” como vocativo, aposto ou interjeição sem forçar.

9. Com imensa cara-de-pau, é verdade, mas também com trabalho, lecionei uma vez uma aula sobre a importância histórica e cultural do Bixiga.

10. Ao lecionar modernismo, nunca deixei de incluir “Brás, Bexiga e Barra Funda", na minha opinião um dos melhores livros de contos da língua.

11. Nunca na vida disse "Sampa".

12. Mais importante: eu estava em São Paulo em 13 de junho de 2013. Na rua. É verdade que não apanhei. Mas também é verdade que, para não apanhar, tive que correr, o que é sempre desagradável.

13. Já assisti a jogos de futebol em: Morumbi, Pacaembu, Parque São Jorge, velho Parque Antártica, atual Allianz (nesse eu tenho cadeira cativa), Itaquerão (esse é o pior de todos, PQP, que presente de grego do Lula), Moisés Lucarelli, Anacleto Campanella (meu deus, a esse não quero voltar nunca), Brinco de Ouro da Princesa e, atenção, RUA JAVARI e CANINDÉ.

Aliás, deveríamos começar por aí: quem nunca assistiu futebol na Rua Javari ou no Canindé não conta como paulistano, vacina depois.

Nós, que já fomos, temos mais vírus de toda espécie no corpo, é bom que nos imunizemos primeiro

NOS STATES

É inacreditável o que está acontecendo nos EUA.

Uma Suprema Corte entupida de conservadores, com três ministros nomeados pelo próprio Donald Trump, recusa a liminar que tentava impedir a certificação dos votos na Pensilvânia com UMA PALAVRA (via Mark Tough), na que deve ter sido a decisão mais sucinta da história da corte. O relator era Samuel A. Alito, um católico apostólico romano que deve estar uns 50 km à direita de Aureliano Chaves.

Não houve desacordo de minoria. A inicial eram 50 páginas de lorota sobre suspeita de fraude.

SAÚDE MENTAL

Destaco:

"Embora ainda de maneira imperfeita, a chamada Reforma Psiquiátrica foi estabelecida como um programa ininterrupto de Estado que passou pelos governos Collor, Franco, FHC, Lula, Dilma e Temer, um projeto relatado como exitoso no periódico médico Lancet em 2007.

Tudo sugere que a gestão Bolsonaro, em conluio com entidades médicas, queria ‘passar a boiada’ na saúde mental enquanto estamos preocupados com a vacina. Mas um governo ideológico e incapaz de estabelecer uma política decente de imunização em plena pandemia teria alguma competência na saúde mental?"

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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