18/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Mourão ameaça golpe, Villas Bôas acha bonito e sociedade se cala

Publicado em 22/09/2017 12:00 - Victor Barone

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Pouco adiantou o jogo de cena promovido pelo ministro Defesa, Raul Jungmann, e pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. A nota emitida pelos militares após reunião com o governo na noite de quinta (21), “desautorizando” o general Hamilton Martins Mourão a falar em intervenção militar, não resolve o problema. A fala de Mourão, durante uma palestra em uma loja maçônica, sugerindo que as Forças Armadas estariam estudando uma intervenção militar para “moralizar o país”, é apenas a ponta de um grotesco iceberg que ganha corpo no Exército, na Marinha e na Aeronáutica. Não é a primeira vez que um militar brasileiro fala em intervenção como panaceia para a crise moral da política brasileira, como se o autoritarismo fosse o remédio para a liberdade e a cidadania. Mas este não é o principal problema. O que assusta de verdade é a reação morníssima do alto escalão, a pasmaceira dos Poderes diante da ameaça velada, e, principalmente, o silêncio da sociedade. “Nós temos planejamentos, muito bem feitos”, avisou Mourão há uma semana. “Chegará a hora que nós teremos que impor uma solução. E essa imposição não será fácil, trará problemas, podem ter certeza disso aí.” Precisa ser mais claro?

Batendo palma prá maluco dançar

Já não bastasse o descalabro que impera nas Forças Armadas, a fraqueza das instituições e a mudez da sociedade diante da ameaça de golpe militar, um deputado desmiolado fez jus a alguns minutos de infâmia. Trata-se de Daciolo Fonseca dos Santos, deputado federal pelo PTdo B do Rio de Janeiro, eleito em 2014 como Cabo Daciolo. No plenário da Câmara, ele endossou a tese da intervenção das Forças Armadas e chegou mesmo a pedir o fechamento do Congresso Nacional.

Cala boca Zezé

Para completar a disenteria verbal que tem assolado parte da sociedade brasileira em relação ao tema “intervenção militar”, o filósofo e cientista social – cantor nas horas vagas – Zezé Di Camargo, disse, em entrevista à jornalista Leda Nagle, que a ditadura militar no Brasil não foi ditadura… Vale a pena ler e assistir a barbaridade. “Muita gente confunde militarismo com ditadura. Nós não vivíamos numa ditadura, vivíamos num militarismo vigiado. Ditadura é Venezuela, Cuba viveu com Fidel Castro e até hoje vive (…) Coreia do Norte, China, esses são realmente ditadores. O Brasil nunca chegou ser uma ditadura daquela de ou você está a favor ou está morto”. Leda argumentou que houve prisão e tortura. “Exato. Mas não chegou a ser tão sangrenta, tão violenta, como a gente vê até hoje. Mas eu acredito, aqui dentro comigo – as pessoas vão me achar maluco – não quero isso jamais para o Brasil, mas eu acho que o Brasil hoje precisa passar por uma depuração. Até pensar no militarismo para reorganizar a coisa, pra botar doutrina de novo e entregar o Brasil democrático de novo como a gente queria”. Vai vendo…

Um pouco de luz

Depois de tanta treva, um pouco de luz. O historiador Leandro Karnal nos lembra a importância da democracia. “A democracia não é o sistema onde todos são éticos, mas o sistema onde os não éticos podem ser punidos. A democracia não é o sistema onde todos são bons. Mas o sistema onde alguns ruins podem ser punidos. A democracia não é o sistema que garante o paraíso na terra, mas o sistema que impede que o inferno se instale. A democracia não é o sistema perfeito – usando a frase de um conservador, Churchill –  é o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros.”

Pulando do barco

O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira anunciou a decisão de renunciar à defesa do presidente Michel Temer (PMDB-SP) na segunda denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Foi Mariz quem conduziu a defesa de Temer na primeira denúncia feita pela PGR e rejeitada pelo Congresso em 2 de agosto deste ano. O afastamento do advogado se deve ao fato de ele ter defendido no passado o doleiro Lúcio Funaro, um dos delatores citados na nova denúncia, o que configuraria conflito ético. Mariz continuará trabalhando para o presidente em outros casos.

Casa vazia

O terceiro-secretário da Câmara, JHC (PSB-AL), tentou abrir a sessão de sexta-feira (22). Mas faltou quórum para que o Plenário recebesse oficialmente o pedido de nova investigação contra o presidente Michel Temer (PMDB-SP), enviado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Além de JHC, só registrou presença o deputado Celso Jacob (PMDB-RJ), que cumpre pena de 7 anos e 2 meses de prisão em regime semiaberto. Os outros 511 não compareceram. Jacob cumpre pena desde junho por falsificação de documento público e dispensa de licitação. Desde então, o deputado deixa o Complexo Penitenciário da Papuda todos os dias pela manhã e trabalha na Câmara até o início da noite, quando retorna à prisão. Ou seja, na prática, a presença dele é obrigatória. Se não comparecer ao Congresso, ele tem de passar o dia todo na Papuda.

Mui amigo

Em rápida visita ao plenário da Câmara na noite de quarta-feira (20), o presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez declarações sobre a relação com o governo – leia-se, PMDB – que, às vésperas da apreciação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB-SP), configura-se como um fator extra de preocupação para o Palácio do Planalto. Queixando-se da ação de “dois ministros” de Temer em relação a membros de um PSB dividido, alguns deles dispostos a apoiar o governo, Maia disse que o PMDB tem disputado parlamentares com o DEM. E avisou:  “Nós queremos saber qual é a verdadeira posição do PMDB e do governo em relação ao Democratas. Tem parecido um tratamento de adversário. Espero que não vire uma relação entre inimigos”.

Só no sapatinho

Após as críticas que fez ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), participou, na quarta-feira (20), de um jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), suspensa do partido e uma das principais críticas do governo Michel Temer (PMDB-SP). O jantar também contou com outros críticos ao governo Temer: Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado da oposição Orlando Silva (PCdoB-SP). O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), também esteve no encontro. "A situação política é crítica. Então, naturalmente, críticas foram feitas", disse Maia sobre a pauta do convescote. Interlocutores de Michel Temer avaliaram que veem as novas críticas de Maia com desconfiança, em meio ao processo que vai discutir a segunda denúncia contra o presidente na Câmara dos Deputados.

Diga-me com quem andas

Em entrevista à Reuters, em Nova York, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) mandou um tremendo jaguané para os jornalistas norte-americanos. Disse estar levando a culpa por mera associação. Sem citar nomes, declarou: “O que aconteceu comigo foi exatamente isso. Você é presidente da República, da Câmara, vice-presidente, presidente de um partido, você encontra pessoas que tiram fotos com você, recebe bilhetes, pessoas convivem com você, e aí praticam um ilícito qualquer, aí você também é delituoso. Isso está acontecendo com muita frequência no Brasil.” Rodeado por correligionários denunciados —Moreira Franco e Eliseu Padilha— ou presos —Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Rodrigo Rocha Loures— Michel Temer não explicou aos coleguinhas gringos o motivo pelo qual está cercado destas figuras tenebrosas.

Micro presidente

A avaliação pessoal e do governo do presidente Michel Temer (PMDB) atingiu o pior índice da série histórica da pesquisa CNT/MDA, iniciada em 1998, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O levantamento foi divulgado na terça-feira (19) pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Foram 75,6% de avaliação negativa em setembro. O desempenho pessoal do peemedebista é reprovado por 84,5%. Segundo a pesquisa, a aprovação ao governo do peemedebista é ainda pior que a pessoal. Apenas 3,4% consideram a atual gestão federal “positiva”. Para 18%, a atual administração é regular. Já 3% não opinaram.

Dono dos mandatos

O operador financeiro Lucio Funaro afirmou nos depoimentos do acordo de delação premiada que firmou com a Procuradoria Geral da República (PGR) que o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha era uma espécie de "banco de propina" de deputados, ou seja, pagava para os parlamentares e depois se tornava "dono" dos mandatos deles.

110% de certeza

O operador financeiro Lúcio Funaro disse em depoimento ter "certeza" que o presidente Michel Temer (PMDB-SP) recebia parte da propina paga no esquema que atuou na Caixa Econômica Federal e envolvia políticos do PMDB. Segundo ele, o ex-deputado Eduardo Cunha era quem recebia os recursos ilícitos e enviava ao presidente Temer. A propina, acrescentou o delator, era administrada por José Yunes, ex-assessor especial de Temer, e pelo coronel Lima, amigo do presidente. "[Funaro disse] que sabe que Eduardo Cunha redistribuía propina a Temer com '110% de certeza'", diz outro trecho do relatório.

Mudar o nome não muda nada

Pesquisa encomendada pelo DEM aponta que o nome "Mude" é o mais aceito entre os eleitores para a legenda passar a se chamar. Outro nome estudado era "Centro", que não teve tanta aceitação, segundo o levantamento. A mudança no nome do partido tem sido discutida paralelamente ao movimento para incorporar dissidentes do PSB e renovar a imagem da legenda. O DEM tem origem na antiga Arena, que virou o PDS e, posteriormente, se tornou o PFL.

PT sem rumo

O Partido dos Trabalhadores (PT) está sem rumo. O descompasso cresce à medida que aumentam as chances de Lula se tornar um político ficha-suja, inabilitado para disputar eleições. Como Plano, o PT ameaça adotar estratégia do avestruz:  enfiar a cabeça na terra. O partido discute a sério a ideia de boicotar as eleições de 2018. Sem Lula, o PT deixaria de lançar candidatos ao Planalto, à Câmara e ao Senado e adotaria o discurso da “fraude”.

Bora rezar pelo Brasil?

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez um apelo inusitado em vídeo divulgado nas redes sociais no último dia 18. Em mensagem direcionada para o público evangélico, Meirelles pede a todos que orem para a economia brasileira sair da pior recessão de história. “Nossa meta é de fato fazer com que o país volte a ter emprego para todos. Para isso, preciso contar com a oração de vocês”, afirmou o ministro. O vídeo, gravado de maneira amadora, termina com a inscrição: “Outubro, mês de oração pela economia”. Saca só…

Vingança a Jato

A Comissão Parlamentar De Inquérito (CPI) criada no Congresso para investigar os imbróglios entre a JBS e político está de apelido novo: CPI da Vingança a Jato. Ao perceber o ensaio para uma teatralização da investigação, dois senadores pediram para sair: Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Otto Alencar (PSD-BA). “Estão saindo por medo”, atacou o relator da CPI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), pau mandado do presidente Michel Temer (PMDB-SP). Ao justificar sua opinião, Marun mandou recado: “Nós vamos investigar quem nos investigou. Vamos interrogar quem sempre nos interrogou. Esse é um paradigma que será quebrado.”

Se gritar pega ladrão…

A cerimônia de posse de Raquel Dodge como nova procuradora-geral da República ajuda a entender o Brasil. Havia delatados, investigados e denunciados em toda parte, inclusive na mesa reservada aos presidentes dos Poderes. Pelo Executivo, Michel Temer (PMDB-SP), que já coleciona duas denúncias criminais. Pelo Legislativo, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), cada um com dois inquéritos. Dois dos três poderes são comandados por políticos que têm contas a acertar com a Justiça. Bastava a Raquel Dodge olhar ao seu redor para perceber o tamanho do desafio que tem pela frente.

Aposentadoria

Motivado por uma decisão do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, que concedeu liminar que autoriza psicólogos a oferecerem terapia de “reversão sexual” por pessoas homossexuais, o diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI, Toni Reis, afirmou que ingressará com pedido de aposentadoria compulsória retroativa por homossexualidade. “Uma pessoa doente não pode trabalhar. É claro que esse requerimento tem um fundo de ironia, pois se formos considerados doentes, a Previdência Social vai ter que arcar com essa despesa, assim como o SUS [Sistema Único de Saúde]. Vamos ter que ir para os hospitais e Upas [unidades de pronto atendimento de saúde] para fazer a cura gay”, disse Toni.

Sem fiscalização

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Irregularidades Fiscais e Tributárias de Mato Grosso do Sul na quarta-feira (20), o secretário estadual de Fazenda, Marcio Monteiro, afirmou que a fiscalização baseada na análise de documentos não foi eficiente para comprovar irregularidades da JBS. “Vamos aprimorar isso para que se torne mais eficiente, pois já temos lição que a sistemática adotada não teve eficiência”, destacou, completando que outros mecanismos foram adotados, “aumentando a responsabilidade das empresas que gozam do benefício fiscal”. A CPI apura denúncia de Joesley Mendonça Batista, Wesley Mendonça Batista e Ricardo Saud, da JBS, de pagamento de notas fiscais frias emitidas por pessoas físicas ou jurídicas no valor de R$ 45,6 milhões, sem o devido fornecimento de bens ou serviços, em contraprestação à suposta concessão indevida de benefícios fiscais pelo governo do estado.

Picarelli do Céu!

Denúncia contra o deputado estadual Maurício Picarelli (PSDB), dando conta de que ele teria usado o filho como laranja à frente da direção da emissora de televisão TV Interativa (leia matéria no link), levou o juiz Alexandre Antunes da Silva, da Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, a intimar o parlamentar para responder à ação civil pública por improbidade administrativa movida pelo promotor de Justiça Marcos Alex Vera de Oliveira, da 30ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social. Picarelli tem 32 anos consecutivos – ou oitos mandatos – como deputado estadual

Capo di tutti capi

Com o intuito de homenagear o ex-governador André Puccinelli (PMDB), o deputado estadual Eduardo Rocha, do mesmo partido, apresentou o Projeto de Resolução que concede a Comenda do Mérito Legislativo ao ex-chefe do executivo de Mato Grosso do Sul. Puccinelli nasceu em Viaregio (Itália) e veio para o Brasil com menos de um ano. Segundo a justificativa do projeto, desde que assumiu o governo, André tem sido homenageado em reconhecimento aos trabalhos prestados a diversas instituições do Estado, além disso, “o histórico de vida do homenageado, capacita-lhe a receber tão honrosa Comenda do Mérito Legislativo e dispensa outras justificativas”. Menos Rochinha menos…

Leia outros artigos da coluna: Ágora Digital

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *