19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Não falem mal de mim

Publicado em 17/03/2021 12:00 - Victor Barone

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O governo federal dá cada vez mais mostras de que não tolera críticas e responderá com repressão autoritária a manifestações contrárias ao presidente Jair Bolsonaro. Ontem tivemos mais um exemplo.

No começo da tarde, cinco manifestantes foram detidos pela Polícia Militar com base na Lei de Segurança Nacional após estenderem uma faixa em frente ao Palácio do Planalto. Na faixa, estava estampada a charge do cartunista Renato Aroeira – que também foi enquadrado pela LSN a pedido do Ministério da Justiça pela autoria da imagem onde se vê Bolsonaro com rabo e chifres, transformando uma cruz vermelha, que simboliza a saúde, em uma suástica nazista. Chegando à Polícia Federal, o delegado Franco Perazzoni não concordou com a PM – ainda bem. Mas a serpente já está solta.

Bernardo Mello Franco resume o quadro: “A escalada autoritária é liderada pelo Planalto. O ministro da Justiça, André Mendonça, ressuscitou a Lei de Segurança Nacional para enquadrar os críticos do chefe. Já mandou a Polícia Federal instaurar inquéritos contra jornalistas, advogados e até cartunistas. Agora o exemplo do pastor inspira bolsonaristas nas polícias civis e militares. Num país governado por um fã do AI-5, há sempre um guarda da esquina disposto a rasgar a Constituição. O professor Conrado Hübner Mendes, da Faculdade de Direito da USP, considera que o Brasil já vive sob um ‘estado de intimidação’. ‘O objetivo das investidas policialescas é gerar um clima de medo e autocensura. É uma forma de repressão preventiva’, define.”

Como que servindo de ilustração da tese do jurista, eis a constatação de uma das 25 pessoas intimadas a depor para a Polícia Federal também com base na Lei de Segurança Nacional: “Às vezes não damos a devida gravidade ao que postamos na nossa rede social”. O caso aconteceu em Uberlândia (MG) após um morador publicar uma mensagem em que citava a visita do presidente à cidade e questionava se alguém gostaria de se tornar “herói nacional” na ocasião. Várias pessoas foram intimadas apenas por interagir com o post.

"Fiquei muito espantado quando vi que estava sendo acusado de crime contra a segurança nacional", disse o comunicador Felipe Neto, intimado pela Polícia Civil do Rio, a pedido filho do presidente da República, depois de chamar Jair Bolsonaro de genocida na condução da pandemia. Neto não foi o primeiro. Órgãos do governo e instituições de Estado têm avançado contra professores universitários, estudantes, jornalistas e blogueiros.

É sintomático do momento de estresse vivido pelo clã Bolsonaro a intimação recebida por Felipe Neto. O presidente, como é notório, tem sido um dos maiores aliados do coronavírus. Ostentando um comportamento irresponsável, levou o Brasil a 280 mil mortos, com potencial para outros 280 mil.

Ironicamente o Tribunal Penal Internacional está examinando uma denúncia apresentada contra Bolsonaro por incitar genocídio contra povos indígenas. Dependendo do resultado, a Polícia Civil vai precisar juntar umas milhas para ir até Haia, na Holanda, a fim de entregar nova intimação. Quando Bolsonaro fica acuado, ele joga uma cortina de fumaça que serve para duas coisas. Primeiro, desviar a atenção do que realmente importa.

Felipe Neto divulgou em suas redes sociais um vídeo que ataca e ironiza a família Bolsonaro por seu vínculo de anos com a política no Brasil. Intitulado “Bolsofamília”, o vídeo faz uma paródia das campanhas publicitárias do governo, citando o “Bolsofamília” como um dos projetos da atual gestão. “Toda família merece proteção, mas como toda família é muita gente, o governo Bolsonaro criou o Bolso Família, o maior programa de transferência de dinheiro público para o bolso de apenas uma única família: a família Bolsonaro”, diz o locutor da peça humorística.

Partiu do ministro André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) a ordem para que a Polícia Federal abrisse inquérito que investiga um sociólogo e um microempresário por duas placas de outdoor com críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Uma das mensagens, instaladas em agosto numa avenida de Palmas (TO), diz que Bolsonaro vale menos que um "pequi roído", que no Tocantins significa algo sem valor ou importância.

ALTA REJEIÇÃO

O Datafolha publicou mais uma pesquisa de avaliação do governo Bolsonaro pela população Brasileira. É um momento-chave. Além do coronavírus em completo descontrole, temos o auxílio-emergencial parado há três meses, prestes a retornar com valores mais baixos e chegando ao bolso de menos pessoas.

A taxa de rejeição a Jair Bolsonaro é recorde: segue tendência de alta, cresceu 12 pontos percentuais em três meses e chegou a 54% – ao mesmo tempo, 44% dos entrevistados reprovam o governo como um todo. A avaliação negativa supera a positiva em mais de 20 pontos percentuais entre os que se autoclassificam pretos,  os que têm nível superior de escolaridade, os mais ricos, as mulheres e os moradores das regiões metropolitanas do país. E, para 43% dos entrevistados, o presidente é o maior culpado pela crise da covid-19. 

Apesar disso, nas palavras dos diretores do instituto de pesquisa, o cenário descrito é incerto. É que a popularidade do presidente seguiu estável, oscilando levemente de 31% para 30%; a parcela da população que o julga “regular” também não se alterou muito, caindo de 26% para 24%. Quanto aos ‘bolsonaristas fiéis’, eles representam cerca de 14% da população.  

GATO E RATO

Questionado pela imprensa sobre o que se alteraria na sua gestão, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que mudanças já estão em curso: “Já está sendo feito. O diferente é seguir as recomendações da ciência. O presidente escolheu um médico para o ministério, um médico que é oriundo de uma sociedade científica, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, que foi sempre quem protagonizou a medicina baseada em evidência”. Essa declaração foi dada na entrada do Palácio do Planalto na tarde de ontem, antes de uma reunião com Jair Bolsonaro

Poucas horas depois, durante a transmissão ao vivo que sempre faz às quintas-feiras, o presidente anunciou que o governo federal entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo contra governadores e prefeitos que estabeleceram medidas restritivas à circulação de pessoas, como reza a cartilha da ciência. 

De tarde, Queiroga também tinha dito aos jornalistas que Bolsonaro havia determinado que ele dialogasse com os gestores locais. De noite, o presidente chamou governadores e prefeitos de “projetos de ditadores”.

Bolsonaro foi além e voltou a comparar os toques de recolher instituídos por vários gestores ao estado de sítio – que é quando os direitos políticos da população e a liberdade de imprensa são suspensos. Sem citar quais, informou que a ADI do governo mira os decretos de três governadores. “Isso é estado de sítio, que só uma pessoa pode decretar: eu”, disse.

Marcelo Queiroga repetiu ontem que a vacinação não será suficiente para conter o tsunami de mortes atual e, de modo oblíquo, falou em “isolamento social inteligente”. Seu chefe, ao contrário, foi bem mais direto e objetivo. Bolsonaro informou que vai enviar ao Congresso um projeto de lei com indicação de tramitação em regime de urgência para definir quais atividades devem ser consideradas essenciais durante a pandemia. “É toda aquela que serve para o cidadão botar pão na mesa. Então, tudo passa a ser atividade essencial”, sentenciou.

Calma que não para por aí porque o presidente comparou o isolamento social a férias. “Vejo que a população está dividida: uns que querem o ‘fica em casa’ e outros que querem trabalhar por necessidade. Eu acho que ficar em casa é uma coisa bacana. Quem não quer ficar de férias em casa aí? Mas pouquíssimas pessoas têm poder aquisitivo para ficar sem trabalhar”.

A semana mais mortífera da crise sanitária brasileira fecha com novos dados do Datafolha que apontam erro no diagnóstico presidencial. O apoio popular às restrições impostas para conter as transmissões passou de 61% em dezembro para 71% agora. O fechamento de lojas, bares e restaurantes tem o apoio de 59% – mesmo percentual de quem concorda que templos religiosos não podem seguir funcionando neste momento. 

A pesquisa mostra uma adesão ainda maior à avaliação de que a pandemia está sem controle no Brasil: em janeiro 62% da população pensava assim, número que subiu para 79%. Apenas 2% acham que a crise está totalmente controlada. E 18% acham que está parcialmente controlada. O levantamento foi feito entre segunda e terça-feira, portanto já reflete a movimentação para trocar o comando do Ministério da Saúde.

Ao longo da semana, o Datafolha mostrou que 56% dos brasileiros consideram Bolsonaro incapaz de liderar o país e 54% avaliam como ruim ou péssima a atuação do presidente na semana em que foi apresentado o quarto ministro da saúde. Para o vice-presidente Hamilton Mourão, os números serão revertidos a favor do capitão reformado quando a vacinação avançar e as novas parcelas do auxílio emergencial chegarem ao bolso da população.

Marcelo Queiroga mal assumiu o comando do Ministério da Saúde, mas já se sucedem os episódios que demonstram que sua gestão será do tipo algo deve mudar para que tudo continue como está. Na quarta (17), ao lado de Eduardo Pazuello, ouviu o general repetir à imprensa o que o próprio presidente tinha dito quando anunciou sua escolha: que a nomeação do médico significa apenas a continuidade do trabalho do militar da ativa. Segundo Pazuello, Queiroga “reza na mesma cartilha”. Queiroga parece estar de acordo: “A política pública do governo, não só do Ministério da Saúde, é a política do governo federal, do presidente da República eleito pelos brasileiros.”

Alinhado a Jair Bolsonaro e sem poder criticar o general, o futuro ministro já escolheu seu bode expiatório para o caos sanitário: a população. “Não adianta o governo recomendar uso de máscara, que é simples, e as pessoas não terem condições de aderir. O governo recomenda o fim de aglomerações fúteis e as pessoas ficam fazendo festa. Não adianta esperar que o governo resolva tudo”, criticou, deixando de lado os fatos exemplos de aglomerações sem máscara dados pelo governo federal. 

À colunista Monica Bergamo, o médico sem querer demonstrou a que ponto chegamos: caberia a ele “convencer o presidente” sobre fatos há muito superados. “Ele está sensível para a questão das máscaras“, exemplificou. No meio da pandemia, é esse o trabalho do ministro da saúde do país com o maior número de mortes do mundo… 

Mas o bolsonarismo não admite nem mesmo um simulacro de mudança no projeto de livre circulação de vírus e pessoas que é a marca deste governo. “[Bolsonaro] Já colocou outros e errou feio. [Augusto] Aras, Kassio [Nunes Marques] e agora mais um totalmente avesso às ideias do governo?”. O post deu o tom da recepção dos apoiadores de Jair Bolsonaro nos grupos de WhatsApp, segundo a colunista Malu Gaspar.

Esse equilíbrio impossível entre ciência e bolsonarismo tem tudo para ser um belo faz de conta. Queiroga afirmou ontem que pretende aplacar os sucessivos recordes de mortes a partir de um protocolo nacional de distanciamento social que leve em conta… a economia. O pedido para que o Ministério da Saúde estabeleça parâmetros gerais foi feito há semanas por secretários estaduais e, depois, foi reforçado por governadores que agora pedem uma reunião com o novo ministro para debater o assunto. Ontem mesmo, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), reforçou: sem restrições, país terá quatro mil mortes. Mas, aparentemente, o lockdown estará fora de cogitação no cardápio do futuro ministro – o que só torna mais difícil sua adoção, apesar da farta evidência indicando que a medida funciona bem para frear a epidemia. 

MORTES NA ESPLANADA

Ontem, o Brasil perdeu seu terceiro senador para a covid-19. Major Olímpio (PSL-SP) tinha 58 anos e estava internado desde 3 de março. A morte causou comoção entre os congressistas que compartilharam um vídeo em que o político – que chegou a participar de manifestações contra o fechamento do comércio em SP –defendia a vacinação. “Não se trata de defesa de ideologia, partido político ou preferência pessoal. O único caminho para combater o coronavírus é a vacinação da população. Vidas brasileiras importam. Quero ser vacinado”, afirma Olímpio na gravação.

O assessor de imprensa do Major – de apenas 33 anos – está internado em estado grave. Diego Freire foi hospitalizado quatro dias depois da internação de Olímpio. 

É para essas milhares de pessoas que trabalham na Praça dos Três Poderes que uma excelente reportagem do El País olha. O site pediu dados sobre contaminações e óbitos de funcionários de todos os ministérios e do Congresso Nacional nos últimos 12 meses. A primeira coisa que choca é que o próprio Senado se recusou a responder. No governo, entre 23 ministérios, 19 se negaram a passar as informações. Das quatros pastas que responderam, total ou parcialmente, somados aos dados enviados pela Câmara dos Deputados, o site chegou à conclusão de que ao menos 91 servidores públicos perderam suas vidas para a covid-19. 

E as contaminações continuam em ritmo acelerado, com quase 80 atestados de licença para tratar a doença enviados à Câmara em 48 horas. 

Ontem, Jair Bolsonaro admitiu que, no início do mês, um sargento lotado em seu gabinete pessoal morreu em decorrência do novo coronavírus. Dias antes, ele tinha afirmado em relação ao Palácio do Planalto: “Desconheço que uma só pessoa deste prédio tenha ido ao hospital para se internar”. O reconhecimento da morte, contudo, não foi feito para expressar solidariedade à família do assessor – mas para defender a hidroxicloroquina & cia. Bolsonaro comentou na transmissão ao vivo que, se fosse autorizado a conversar com os parentes do auxiliar, perguntaria se ele havia feito uso do “tratamento inicial” contra covid-19.

BOLSONARISMO EM ESTADO BRUTO

A lei que autoriza estados, municípios e o setor privado a comprar vacinas entrou vigor no dia 10. Ela determina que, enquanto durar a vacinação dos grupos prioritários, as empresas precisam doar ao SUS integralmente as doses que adquirirem. Todo um debate foi feito no Congresso Nacional sobre isso, mas os empresários bolsonaristas Luciano Hang, dono da rede Havan, e Carlos Wizard, da Sforza, não concordam. E, por isso, lançaram campanha para que se aprove uma outra lei. O mais irônico de tudo é que Hang está colocando na conta da “burocracia brasileira” as mais de duas mil mortes diárias que o país vem registrando. 

EM MOVIMENTO

Adversário mais forte de Jair Bolsonaro, o ex-presidente Lula falou com a CNN dos Estados Unidos. Elogiou Joe Biden e pediu para o governo do país avaliar o envio de sobras de vacina para o Brasil ou outras nações “ainda mais pobres” (não que o Brasil seja exatamente pobre…). Ele sugeriu que Biden convoque uma reunião do G-20 para discutir a questão: “É importante chamar os principais líderes mundiais e colocar em volta da mesa uma só coisa, uma questão: vacina, vacina e vacina”. 

Esse não foi o primeiro movimento de Lula para tentar destravar a vinda de imunizantes para o Brasil. A colunista do Globo Bela Megale escreveu na semana passada que essa atuação começou há tempos. Três meses atrás, o líder foi convidado por Kirill Dmitriev, diretor do Fundo de Investimento Direto Russo, para conversar sobre a Sputnik V. Três ex-ministros da Saúde dos governos PT (José Gomes Temporão, Alexandre Padilha e Arthur Chioro) participaram da videoconferência. Segundo Padilha, a reunião “abriu a relação do fundo russo com o Consórcio do Nordeste” – que, por sua vez, anunciou a compra de 37 milhões de doses do imunizante ontem.

E quando a China atrasou o envio de matéria-prima para a produção de vacinas no Brasil, em janeiro, Lula e Dilma Rousseff mandaram uma carta diplomática para o presidente Xi Jinping: “Consideramos oportuna essa mensagem, como forma de manifestar a nossa certeza de que a antiga e sólida amizade entre os nossos povos não será abalada pelo negacionismo, pela incivilidade e pelas grosserias proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e seu governo. A amizade e a parceria entre a China e o Brasil são inabaláveis, porque os governos passam, mas os laços que unem os povos são permanentes”. E sinalizaram, delicadamente, a necessidade de que o envio de insumos fosse destravado: “Em nome desta grande amizade que brilha em qualquer circunstância e que soubemos construir entre esses nossos dois países e nossos povos, não faltará ao Brasil insumos indispensáveis para dar continuidade à recém-iniciada produção de vacinas que salvem a vida do povo brasileiro”.

Voltando aos Estados Unidos: tem muita gente de olho nas 30 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca que estão encalhadas no país – a FDA, agência reguladora de lá, está esperando o fim do ensaio com voluntários americanos para avaliá-lo e autorizar o uso do produto, o que deve acontecer em abril. Biden disse mais de uma vez que não pretende doar nada antes de ver sua população toda coberta. Mas eles já têm muito mais doses do que precisam, e a própria AstraZeneca pediu ao governo que considere realizar as doações. Esta semana, o presidente disse que está conversando com  “diversos países” sobre o assunto e vai anunciar alguma decisão “muito em breve”. 

O MAIOR DA HISTÓRIA

Em mais um boletim extraordinário, o Observatório Covid-19 da Fiocruz trouxe na quarta (17) um mapa do Brasil quase completamente pintado de vermelho: é o símbolo do alerta crítico. Só dois estados – Rio de Janeiro e Roraima – estão amarelos, em alerta médio. É a pior figura desde julho do ano passado; mais grave mesmo do que a apresentada quatro dias antes, quando a instituição advertiu que vivíamos o pior momento da pandemia. Estão se esgotando as palavras que deem conta de descrever o que se passa. Ontem, os pesquisadores responsáveis pelo boletim usaram as mais duras e diretas possíveis: este já é o “maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”

E deve piorar. A evolução dos últimos números mostra essa tendência, muito difícil de ser freada. São agora 25 unidades federativas com taxas de ocupação de UTI acima de 80% (na avaliação anterior, do dia 12/3, eram 20), sendo que 15 delas estão acima de 90% (antes eram 13). Se antes 16 capitais estavam com mais de 90% dos leitos de UTI ocupados, agora são nada menos que 19. “A situação é absolutamente crítica”, diz o documento. 

Por Outra Saúde

LULA

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) admitiu pode votar em Lula nas eleições de 2022 caso o adversário seja Jair Bolsonaro. “O Lula foi calejado pela vida. Isso conta. Não é nenhum principiante. Ele deu uma entrevista agora e acertou em uns pontos fundamentais, ele tem jeito para a coisa. Acho que Lula tem experiência do mundo, do Brasil, da pobreza e enriqueceu”, afirmou o tucano em entrevista ao UOL. Na conversa, FHC classificou Lula como o menos pior em relação a Bolsonaro. “Não sei se Lula vai ter condições para ser candidato, ou se seria o melhor candidato, mas acho que se ficar entre ele e Bolsonaro, voto em quem for menos pior”.

GOLPEANDO A DEMOCRACIA

Por quatro votos a um, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região aprovou um recurso da Advocacia-Geral da União que defendia o direito do governo de fazer atividades em alusão ao golpe militar de 1964. O assunto chegou à Justiça depois que a deputada Natália Bonavides (PT-RN) pediu que fosse retirada do site do Ministério da Defesa a uma nota que reproduzia a Ordem do Dia de 31 de março de 2020, recomendação militar que celebrava o golpe.

A 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte determinou, ainda em 2020, a retirada da publicação do site do ministério argumentando que o texto exaltava o “Movimento de 1964”. Na decisão, a magistrada disse que o texto "é nitidamente incompatível com os valores democráticos insertos na Constituição de 1988”.

A União recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Além de argumentos técnicos – como dizer que a ação não causou lesão ao patrimônio nem seria a Ação Popular o instrumento jurídico adequado para a querela – a Advocacia-Geral da União (AGU) defendeu o direito do governo de celebrar a data.

“Com efeito, o que a presente demanda procura fazer é negar a discussão sobre qualquer perspectiva da história do Brasil, o que seria um contrassenso em ambientes democráticos, visto que o Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, Constituição da República) pressupõe o pluralismo de ideais e projetos. Querer que não haja a efeméride para o dia 31 de março de 1964, representa impor somente um tipo de projeto para a sociedade brasileira, sem possibilitar a discussão das visões dos fatos do passado – ainda que para a sua refutação”, diz trecho do recurso.

VERA VERÃO

A jornalista Vera Magalhães, durante entrevista concedida ao Jornal da Cultura, da TV Cultura, na quinta-feira (18), deu um show de preconceito regional e de classe ao se referir aos profissionais da saúde que atuam no Nordeste. Ao comentar sobre o colapso de saúde que o Brasil vive diante da pandemia do coronavírus, ela afirmou que conversou “com um médico do Sírio-Libânes, um hospital da elite de São paulo, não de um hospital público no meio do Nordeste”.

A professora e pesquisadora, Maria Frô, fez um fio onde ela explica que, a jornalista poderia ter buscado uma série de meios para falar do colapso da saúde, mas, optou pelo preconceito regional e de classe.

GENDE DE BEM

Com camisa e bandeira do Brasil e uma arma em punho, o bolsonarista José Sabatini, da cidade de Artur Nogueira, interior de São Paulo, usa fake news sobre “roubo de R$ 84 milhões” do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) para ameaçar Lula. “Não tenta transformar o meu país numa Venezuela. Eu vou derramar meu sangue, mas vou lutar por meu país. Está entendendo o recado? A minha parte eu vou fazer. […] Você vai ter problema, hein cara”, diz Sabatini, mostrando o armamento.

Uma equipe especializada da Polícia ouviu o valentão. Ele foi ouvido na presença de seu advogado e acabou liberado em seguida. Como o caso está em segredo de Justiça, a pasta da Segurança não confirma o que o empresário alegou em sua defesa. Também não há informação se a arma dele foi apreendida. Além da ameaça ao ex-presidente, o empresário é investigado pela suspeita de incitação ao crime e calúnia contra Lula, mais porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e disparo de arma de fogo. Segundo policiais ouvidos pela reportagem, Sabatini ainda não teria sido indiciado por nenhum desses crimes.

GENTE DE BEM 2

A fotojornalista Paula Fróes, do Jornal Correio, foi agredida verbalmente durante a manifestação bolsonarista ocorrida no último dia 14 no bairro da Mouraria, em Salvador. Ao registrar imagens do evento, a repórter foi chamada de “palhaça” e “vagabunda“, entre outras ofensas. Ela também foi cercada no local pelos manifestantes pró-governo de Jair Bolsonaro.

GENTE DE BEM 3

Bolsonaristas enfurecidos agrediram um repórter fotográfico do jornal Estado de Minas, no último dia 15, durante uma manifestação em favor do presidente Jair Bolsonaro, contra as medidas de isolamento social e contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), realizada em Belo Horizonte. O ato acontecia em frente ao 12º Batalhão de Infantaria do Exército, no bairro Barro Preto.

FRASES DA SEMANA

“Quando vi que Biden tem 77 anos, pensei que eu que tenho 75 também posso fazer como ele”. (Lula, em entrevista à CNN americana)

“Eu fiquei feliz, o Brasil todo gostou, mostra que o povo está vivo… Os sentimentos democráticos estão aí valendo, queremos a nossa liberdade, queremos que todo mundo respeite a Constituição”. (Bolsonaro, ontem, sobre os protestos de seus eleitores contra medidas de isolamento) 

“Lula tem sido objeto de uma perseguição ridícula. O governo de Lula foi bastante bom. Deixemos Lula ser candidato se for a vontade do povo. E com o meu voto, ele voltará à presidência”. (Delfim Netto, ex-xerife da Economia à época da ditadura militar de 64).

“Uma coisa é você estar em reunião de família. Outra, em ambiente sem controle. A gente deveria ter falado disso o tempo todo. Assim como do uso de máscara, lavar as mãos com álcool. Foi uma falha do governo que podia ter trabalhado melhor”. (Hamilton Mourão, vice-presidente)

“Não tenho vínculo partidário. Não sou ligada politicamente a ninguém. Sou médica”. (Ludhmila Hajjar, do Instituto do Coração de São Paulo, depois de reunir-se com Bolsonaro na condição de cotada para substituir o general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde)

“Não acho que qualquer aumento de desmatamento ou de queimada seja culpa do governo. Foi uma circunstância”. (Carla Zambelli, deputada bolsonarista e nova presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara. Perguntada sobre recentes fenômenos climáticos, preferiu não responder)

“Não vou sair no grito, não adianta ofender. Estou mais preocupado com os 200 milhões de brasileiros do que com os militantes que ficam atacando e inventando narrativas falsas.” (Paulo Guedes, ministro da Economia e avalista de Bolsonaro junto ao mercado financeiro)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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