28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Para o fascismo, educação e ativismo são monstros perigosos

Publicado em 24/10/2018 12:00 - Victor Barone

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A universidade (ainda mais a pública) é espaço para livre circulação e debate de ideias, não uma repartição pública convencional com regras restritas. O estranho seria se uma determinada posição política (à esquerda ou à direita) não pudesse se manifestar livremente nelas. Mas vivemos tempos invertidos nos quais o que assusta é exatamente o exercício da liberdade. Liberdade que deveria ser sinal de que a democracia segue saudável – apesar das ameaças cotidianas à sua existência.

Um clima de macarthismo à brasileira vai se estabelecendo, ferindo direitos civis e políticos com a ajuda de quem enxerga doutrinação em todo o lugar. E chama de ''ideológico'' qualquer ideologia que não a sua – que é vista apenas como ''bom senso''.

O cerceamento de aulas, debates, atividades e manifestações baixado pela Justiça Eleitoral e pela polícia em dezenas de universidades públicas nos últimos dias assustam não apenas pelo que representam – censura – mas também pelo que apontam: atores públicos dispostos a reprimir a liberdade de expressão caso considerem a expressão equivocada.

O que vem acontecendo nessas instituições de ensino superior não é apenas retrato de um período eleitoral ultrapolarizado em que a democracia é espancada diariamente mas, insistente e tola, teima em ficar de pé. Mas uma amostra do que podemos enfrentar a partir de janeiro de 2019 caso as instituições, como o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República não consigam garantir o respeito aos direitos. Mas também se o candidato vencedor não sair de seu silêncio e condenar veementemente esse tipo de ação.

Gostaria de entender a cabeça de quem passa a vida inteira reclamando que jovens fogem da escola, não dão a devida importância à educação e não se importam com o futuro do país e, agora, tacha de ''baderneiros'' os estudantes que realizam atos, aulas, debates, reuniões, manifestações sobre o momento político que o país está vivendo, não se furtando a lutar contra aquilo que toda sociedade civilizada deveria ter como um de seus principais objetivos: evitar que formas autoritárias de governos se estabeleçam.

Uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que possam colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar. Se seu filho ou filha estava na universidade discutindo política ou protestando em nome do próprio futuro, parabéns. Você deu a eles uma boa educação.

Este texto foi montado com base em dois artigos do jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto (Brasil teve amostra do que pode ser 2019 com censura em universidades e Censura nas universidades: Não esperaram nem o corpo da democracia esfriar)

Eu sou Jair Bolsonaro

Antes de votar no dia 28 de outubro, entenda "o Mito" ouvindo suas próprias palavras.

Antes tarde que nunca

As instituições, que dizem, funcionam plenamente no país, demoraram a se posicionar em relação a invasão de universidades promovida pela Polícia Federal e agentes dos tribunais eleitorais. Depois de um silêncio incômodo, perceberam que também estão na alça de mira do totalitarismo.

Só para estudar

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso falou: "Não me pronuncio sobre casos concretos. Mas o modo como penso a vida, a polícia, como regra, só deve entrar em uma universidade se for para estudar".

Incabível, pero no mucho

O ministro Marco Aurélio, do STF, afirmou que a interferência externa nas universidades é "de início, incabível". Ele ressaltou que seu posicionamento não se refere especificamente sobre a série de ações em universidades públicas por todo o país que despertaram reação da comunidade acadêmica e de entidades da sociedade civil. "Universidade é campo do saber. O saber pressupõe liberdade, liberdade no pensar, liberdade de expressar ideias. Interferência externa é, de regra, indevida. Vinga a autonomia universitária", disse o magistrado por meio de nota. "Toda interferência é, de início, incabível. Essa é a óptica a ser observada", acrescentou.

Posição forte de Duprat

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) divulgou nota em que afirma ver como incompatíveis com a democracia as ações realizadas, a mando da Justiça Eleitoral, em universidades públicas pelo país. O texto é assinado por Deborah Duprat, procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Marlon Weichert, Domingos Sávio da Silveira e Eugênia Gonzaga, procuradores federais dos Direitos do Cidadão adjuntos. A PFDC é ligada à Procuradoria-Geral da República. “Conceber que o repúdio ao fascismo possa representar o apoio a uma determinada candidatura seria admitir que a Constituição brasileira endossaria tal forma de regime, o que é inaceitável […] Uma interpretação em favor da proibição de manifestações dessa natureza é uma ladeira escorregadia e, em breve, se poderia alegar que qualquer símbolo ou manifestação solidária ou trivial está associado a candidaturas”, continua a nota.

Ditadura, que ditadura?

Percebendo que estava feio o silêncio, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, elaborou nota em defesa da “autonomia e a independência das universidades brasileiras”. “O Supremo Tribunal Federal, como guardião da Constituição Federal, sempre defendeu a autonomia e a independência das universidades brasileiras, bem como o livre exercício do pensar, da expressão e da manifestação pacífica”, diz Toffoli. “Essa Liberdade é o pilar sobre o qual se apoia a própria noção de Estado Democrático de Direito. No julgamento da ADPF 130, o Tribunal reafirmou que ‘a Lei Fundamental do Brasil veicula o mais democrático e civilizado regime da livre e plena circulação das ideias e opiniões'”, concluiu.

Censura e violência

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Claudio Lamachia, afirmou, por meio de nota, condenar "toda forma de censura e violência política", em reação aos mandados de busca e apreensão dentro de universidades. "A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reforça sua posição em defesa do direito de livre manifestação. Ele é limitado apenas pela necessidade de ser exercido de modo pacífico e sem incitação ao ódio e à violência.

Repressão suspensa, por enquanto

Neste sábado (27), a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, concedeu decisão para suspender os efeitos judiciais e administrativos que determinaram o ingresso de agentes da Justiça eleitoral e de policiais em universidades públicas e privadas.  Ela também suspendeu o recolhimento de documentos, de depoimentos e a interrupção de aulas, debates ou manifestações de alunos e professores. O caso ainda será analisado pelo plenário da Corte. Cármen Lúcia, em sua decisão, disse que “toda forma de autoritarismo é iníqua” e que é “pior quando parte do estado”. 

Excessos…

A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, afirmou que a Corregedoria eleitoral vai apurar se houve excessos nas ações dos Tribunais Regionais Eleitorais. "A legislação eleitoral veda a realização de propaganda em universidades públicas e privadas, mas a vedação dirige-se à propaganda eleitoral e não alcança, por certo, a liberdade de manifestação e de expressão", disse. 

Cumunista!

Basta criticar Jair Bolsonaro, que lá vêm eles, seus fãs. Rapidamente, recebe-se a alcunha de "comunista". Ou de "socialista". Recebe-se a recomendação de voltar à Alemanha. Ou à Venezuela. Ou a Cuba. O argumento mais frequente dos apoiadores de Bolsonaro é o PT. Até quando a legenda nem é mencionada, para não dizer elogiada, é-se acusado de ser petista. Os autores dos comentários então escrevem que o PT destruiu o Brasil e que a corrupção e a criminalidade estão por toda parte.  Mas agora, segundo os bolsonaristas, a lei e a ordem finalmente serão restabelecidas. Com Bolsonaro, dizem, os cidadãos de bem chegarão ao poder.  Eu me pergunto que aparência terão essa lei e essa ordem sob Bolsonaro. Porque nem o próprio Bolsonaro, nem seus apoiadores as respeitam. 

Golpista

A mesma Rosa Weber, que celeremente mandou invadir universidades, ficou quietinha diante do descalabro representado pela fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), segundo quem, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse pela impugnação da candidatura de Jair Bolsonaro por eventual abuso de poder econômico, como doações ilegais, bastaria fechar a Corte. “Você não manda nem um jipe. Manda um solado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”, ironizou. E foi além: “Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, milhões na rua?”. De início, questionou: “Não acho improvável, não, mas aí vai ter que pagar para ver. Será que vão ter essa força mesmo?”.  Ele falou tudo isso no dia 9 de julho, numa aula para concurseiros que desejam entrar na Polícia Federal.

Para Weber, as “instituições estão funcionando normalmente”. Ela se furtou a fazer críticas mais contundentes ao filho de Bolsonaro, caracterizando a manifestação como algo que “eventualmente possa ser compreendida conteúdo inadequado”.

Fala golpista

Mas a fala é “golpista” na avaliação do decano do STF Celso de Mello: “Essa declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que se deve ter pela supremacia da Constituição da República!!!! Votações expressivas do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem político-jurídica fundada no texto da Constituição! Sem que se respeitem a Constituição e as leis da República, a liberdade e os direitos básicos do cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão do arbítrio daqueles que insistem em transgredir os signos que consagram, em nosso sistema político, os princípios inerentes ao Estado democrático de Direito”.

Repúdio dos democratas

"As declarações do deputado Eduardo Bolsonaro merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF", afirmou, nas redes sociais. "Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra leis, a Constituição."

Ameaça

O IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros) emitiu nota repelindo com veemência "declarações estapafúrdias" do deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre o possível fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal). O IAB afirma que não compactua com o e estará ao lado de todos os democratas na defesa dos valores constitucionais. Neste momento, em que se apregoam ameaças às instituições democráticas do País, o IAB reafirma sua posição de não transigir com o autoritarismo político e estará ao lado de todos os democratas na defesa dos valores constitucionais", diz a nota.

Irresponsável

A Ajufe (Associação dos Juízes Federais) divulgou nota criticando "declarações irresponsáveis" que têm surgido durante o segundo turno da eleição presidencial. "Nesse momento em que o Brasil assiste a uma disputa política acirrada e polarizada pela Presidência da República, com atitudes radicais e declarações irresponsáveis por parte dos apoiadores das duas candidaturas, fica evidente o desrespeito ao Estado Democrático de Direito e a própria população brasileira", diz a nota.

Foi infeliz…

Em mensagem postada nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro afirmou que o vídeo em que cogita o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) "não é motivo para alarde". "Se fui infeliz e atingi alguém, tranquilamente peço desculpas e digo que não era a minha intenção", afirmou em mensagem nas redes sociais.

Pinel

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) negou a jornalistas que exista a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) ser fechado, conforme aventou seu filho (leia as notas acima). "Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra", disse Jair Bolsonaro.  O candidato do PSL afirmou que desconhecia o vídeo e que duvidava que Eduardo tivesse feito a afirmação. "Alguém tirou de contexto." Tirou nada…

Advertência

Jair Bolsonaro (PSL) disse ter advertido seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por declaração sobre fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal). "Eu já adverti o garoto, o meu filho, a responsabilidade é dele. Ele já se desculpou", disse.  "Ele aceitou responder uma pergunta que não tinha nem pé e nem cabeça e resolveu levar para o lado desse absurdo aí. Nós temos todo o respeito e consideração com os demais poderes e o Judiciário obviamente é importante", disse Jair.

Como as democracias morrem

Em entrevista à BBC Brasil, o cientista político Steven Levitsky – um dos autores do best-seller Como as democracias morrem – responde de que forma podemos esperar que o regime democrático degringole por aqui com a eleição de Bolsonaro caso diversos sinais dados por ele se concretizem:

“Muito provavelmente de uma maneira diferente da de 1964. Não deve haver regime militar, cassação de partidos, ou censura. Mas pode-se esperar a eliminação de direitos civis básicos, especialmente das minorias, dos pobres, dos trabalhadores rurais. No pior cenário, o aparelhamento do Estado e do Judiciário para perseguir pessoas politicamente, seja por corrupção, fraude fiscal ou por qualquer outro tipo de crime. Bolsonaro já disse que quer enquadrar o Judiciário, aumentando o tamanho do STF e indicando seus aliados (para a corte). Mas pode ser pior. O Brasil tem um problema grande de violência e de crime organizado, com facções como o PCC e o Comando Vermelho. Se Bolsonaro lançar uma guerra contra essas organizações, o Brasil se tornará muito violento rapidamente. Ele pode usar isso como desculpa para acabar com a democracia e suspender a Constituição. É muito improvável que ele faça isso no dia seguinte a sua posse, mas as chances aumentam se ele estiver enfrentando uma crise.”

Inconstitucional

O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), que representa membros do Ministério Público Federal de todo o país, José Robalinho Cavalcanti disse que há propostas “claramente inconstitucionais” no plano de governo de Jair Bolsonaro (PSL). No entanto, ele afirmou que é preciso esperar para ver como elas serão encaminhadas em um eventual governo do militar reformado.

Trump de tanga

No segundo editorial seguido em que tratou do país, o New York Times publicou "A escolha triste do Brasil", em que destaca que "Jair Bolsonaro, o candidato de direita dura descrito como 'um Donald Trump brasileiro', parece estar a caminho da presidência". Segundo o jornal, Bolsonaro tem ideias "repulsivas" e é nostálgico dos "generais e torturadores", em um país "desesperado por mudança". Diz que seu protagonismo não se deve só à mensagem de "boi, Bíblia e bala", mas ao fato de que Lula foi tornado inelegível pela Justiça e o substituto, Fernando Haddad, não conseguiu vencer a "associação de seu partido com corrupção". Encerra o editorial: "A escolha é dos brasileiros. Mas é um dia triste para a democracia quando a desordem e o desapontamento levam os eleitores à distração e abrem as portas para populistas ofensivos, cruéis e truculentos".

Ciro cansado

Ciro Gomes andava tranquilo na sexta (19) com a mulher, Gisele, na estação Chatelet do metrô de Paris —até se encontrar com uma brasileira, Érika Campelo. Diretora de uma associação cultural, ela é contra a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) e perguntou a ele: "Por que você não está no Brasil?". Cordial, Ciro disse, segundo Érika, que "realmente está muito difícil" e que o Brasil "está doente". "Mas eu estou muito cansado. Estou batalhando há três anos. E não dá mais", seguiu. Ainda segundo Campelo, Ciro disse também que o PT "errou" porque preferiu "disputar com Bolsonaro no segundo turno". Questionado por Érika se ele gostaria de ter tido o apoio do PT, o pedetista elogiou Fernando Haddad. Mas afirmou que a esquerda deveria ter debatido para saber quem seria o melhor candidato para o momento.

Comentarista

Em manifestação enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu que seja mantida a proibição para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê entrevistas na prisão. “Foge à finalidade da pena permitir entrevista que objetive obter do entrevistado opinião sobre a ‘situação política, social e econômica do país, especialmente no contexto atual da disputa democrática eleitoral’. O fato é que ele é um detento em pleno cumprimento de pena e não um comentarista de política”, escreveu a procuradora.

Roger Waters e o Bananistão

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, acusou o roqueiro Roger Waters, líder da banda Pink Floyd, de receber R$ 90 milhões para fazer propaganda política disfarçada de show no Brasil. Na mesma mensagem, publicada em sua conta no Twitter, Sérgio também defendeu o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), chamado de “insano” e “corrupto” pelo artista inglês, da denúncia de caixa dois feita pela Folha de S.Paulo.

“Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno. Na Folha, chamou Bolsonaro de ‘insano’ e ‘corrupto’. Sem provas, claro. Disse aos fãs que não voltará ao Brasil caso ele ganhe. Isso sim é caixa 2 e campanha ilegal!”, escreveu o ministro.

Em entrevista publicada na Folha no fim de semana, Roger Waters criticou o ministro por ter dito que estava de “saco cheio” de shows políticos no país. Em sua turnê no Brasil, o músico aderiu à campanha #EleNão e associou Bolsonaro a líderes fascistas. Com a atitude dividiu o público, entre vaias e aplausos. Para o ídolo do Pink Floyd, Sérgio Sá Leitão deveria abrir mão do cargo por desconhecer o componente político que há na cultura.

“Esse cara está no emprego errado, tem de achar um novo trabalho. Não sei o ele que faz, mas não deveria estar numa posição de poder sobre questões culturais se dá uma declaração dessas. Porque cultura inclui música, e ela pode expressar muito da condição humana. Acho que ele deveria renunciar”, defendeu.

Demarcações

O MPF (Ministério Público Federal) vai ajuizar ações contra o eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL) caso ele cumpra as ameaças de interromper demarcações de terras indígenas. O subprocurador-geral da República Antonio Carlos Alpino Bigonha diz se tratar de uma imposição constitucional, à qual qualquer mandatário tem de se curvar. "Como candidato, essa afirmação é muito bombástica, mas, como presidente da República, ela é um impossível jurídico", declarou. "Quando o poder público não cumpre o papel dele [de demarcar], cabe ao MPF provocar a Justiça para obrigar a fazê-lo, cumprir o dever de constitucionalidade."  Bolsonaro tem dito que não pretende delimitar terras para índios se for eleito. Em eventos públicos, defendeu a exploração econômica dessas áreas pelas próprias comunidades ou, se não for o caso, até por terceiros, interessados em suas riquezas. Propôs também que essas porções do território nacional possam ser vendidas.

Contra a lei

Uma tropa de policiais militares de Goiás fez campanha, em via pública, em favor de Jair Bolsonaro (PSL). Os militares da ativa são proibidos por lei de se envolver em atividades político-partidárias. Durante uma corrida, em uma rua vicinal paralela à Avenida Alfredo Nasser, na cidade de Luziânia, a 60 quilômetros de Brasília, os policiais conclamam os eleitores a votarem em Bolsonaro. “Ei, cidadão, por favor, não se esqueça, dia 28 é Bolsonaro na cabeça. Ei, cidadão, por favor, fica contente, ano que vem é Bolsonaro presidente”, cantam. O artigo 73 da Lei 9504/1997 (Lei Eleitoral) estabelece uma série de proibições para a participação de agentes públicos em campanhas eleitorais.

Ficaram de apurar

A Polícia Militar de Goiás disse que vai apurar o caso em que policiais militares foram gravados fazendo manifestação em favor de Jair Bolsonaro (PSL) em Luziânia, a 60 quilômetros de Brasília, e que manifestações políticas e eleitorais de militares em serviço não são autorizadas. Veja acima.

“O Comando da Corporação não autoriza qualquer manifestação política e eleitoral realizada por militares da instituição, quando em serviço, instrução, e principalmente com a utilização de fardamento, quer seja administrativo ou operacional”, disse a PM em nota.

Moro ministro

A sinalização de Jair Bolsonaro (PSL) de que pode indicar o juiz Sergio Moro para o STF (Supremo Tribunal Federal) não caiu bem nas cortes superiores. Segundo um magistrado, não é “normal” a indicação de um juiz de primeira instância para o mais importante tribunal do país. Em geral, quando a escolha recai sobre a magistratura, a disputa se dá entre ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou desembargadores de tribunais regionais e de justiça dos estados. Levar o juiz ao STF furando fila, diz outro ministro, é como colocar um soldado para comandar os generais. Bolsonaro ainda cria arestas no STJ: vários dos ministros da corte sonham um dia ir para o STF.

Faxina

O discurso de Jair Bolsonaro (PSL) no último dia 21 a apoiadores fere os princípios da Constituição de 1988, afirmam organizações não governamentais. "Vamos varrer do mapa os bandidos vermelhos do Brasil", disse. “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia”, afirmou. "Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês", afirmou, acrescentando que as "Forças Armadas serão altivas" e que ações do MST serão tipificadas como terrorismo.

Bolsonaro diz que "esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria", que o país "não é dessa gangue que tem uma bandeira vermelha e tem a cabeça lavada" e menciona nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad. "Você vai apodrecer na cadeia. Brevemente, você terá Lindbergh Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai chegar aí também. Mas não será para visitá-lo não. Será para ficar alguns anos ao teu lado. Já que vocês se amam tanto, vocês vão apodrecer na cadeia. Porque lugar de bandido que rouba o povo é atrás das grades", disse Bolsonaro no domingo.

Ódio

Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, o teor do discurso feito por Jair Bolsonaro no último dia 21 (veja a nota acima) remete a 1968. "Ele faz discurso desconectado do que está previsto na nossa Constituição em termos de garantias de direitos, usurpando funções que são da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. Ele precisa olhar o debate político com olhos de 2018 e não com olhos de 1968, ano do AI-5", disse, em alusão ao decreto emitido na ditadura militar que endureceu a repressão.

Respeito à diferença

Segundo o diretor-adjunto da ONG de direitos humanos Conectas, Marcos Fuchs, o candidato do PSL "desafia os princípios de associação e assembleia garantidos pela Constituição, à qual o próximo presidente da República deve obrigatoriamente se submeter", afirmou, citando direitos que só são subtraídos em estados de exceção. "Uma democracia pressupõe o respeito às divergências políticas e partidárias, bem como uma sociedade civil forte, atuante e livre para denunciar abusos e cobrar melhorias do Estado."

Peitudo

O jornalista – escritor, tradutor e professor universitário – Juremir Machado da Silva, recusou-se a continuar participando da bancada de entrevistadores do programa “Bom Dia com Rogério Mendelski”, da Rádio Guaíba (RS) – parte do grupo Record, que pertence a Edir Macedo -, após ter sido impedido de fazer perguntas ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), em entrevista que o mesmo concedia, ao vivo à rádio.

Foi o próprio Bolsonaro quem exigiu que o único que fizesse perguntas fosse o apresentador, Mendelski, que acatou a exigência. Juremir, um dos mais respeitados jornalistas gaúchos, se retirou no ar, após a entrevista. “Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui durante dez anos”, declarou.

Talvez o mais chocante neste episódio não seja a atitude de Juremir, mas a de seu colega de bancada, o jornalista Voltaire Porto, que, pressionado por Mendeski por uma palavra de apoio, disse, no ar, que “precisava trabalhar, precisava do emprego”.

Jornalistas como alvo

O caso do jornalista Juremir Machado da Silva (veja a nota acima) é simbólico e sintomático do que já está acontecendo nos veículos da mídia tradicional, onde jornalistas estão sendo intimidados a aceitar a “nova ordem” bolsonariana para não serem demitidos.

O caso Juremir não é o único registrado nas últimas semanas. A jornalista Patricia de Campos Mello foi perseguida e ameaçada por conta da reportagem que mostrou o esquema criminoso e sujo da campanha digital de Bolsonaro. Miriam Leitão foi ameaçada. Os Jornalistas Livres foram ameaçados de censura e a revista Fórum foi intimada a retirar reportagem que apontava o voto de Bolsonaro no caso das pessoas com deficiência.

A chefe de redação do Jornal da Record pediu demissão por não suportar a pressão dos bispos. A Folha foi ameaçada pelo próprio candidato em discurso na Avenida Paulista e só faltou Bolsonaro dizer que vai fechar o jornal. O Sindicato dos Petroleiros de Macaé foi invadido e o jornal Brasil de Fato foi recolhido de forma absurdamente covarde e agressiva pelo TRE do Rio de Janeiro.

O jornalista Renato Rovai, bem resumiu: “O primeiro ato do fascismo é calar pela intimidação e o medo seus adversários. Em especial aqueles que têm voz na imprensa. Ou seja, os jornalistas sérios”.

Barbosa apoia Haddad

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa declarou na manhã deste sábado (27), véspera da eleição, que votará no candidato do PT, Fernando Haddad.  A intenção de voto de Joaquim Barbosa foi publicada em sua conta no Twitter. "Votar é fazer uma escolha racional. Eu, por exemplo, sopesei os aspectos positivos e os negativos dos dois candidatos que restam na disputa. Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso, votarei em Fernando Haddad", diz o texto.


Doria na suruba

O candidato a governador de São Paulo João Doria (PSDB) negou a autenticidade de um vídeo que circula nas redes sociais em que ele supostamente aparece em uma orgia. "Uma produção grotesca, fake news. Pedi a um perito criminal que verificasse essas imagens. Pedi também medidas judiciais criminais contra os autores desse vídeo", afirmou o tucano em vídeo gravado ao lado da mulher, Bia Doria.

O candidato disse que as imagens foram produzidas por "alguém que só quer seu mal". "Não imaginei que pelo fato de estarmos liderando a campanha, o vale-tudo começasse, principalmente nesse nível nos últimos dias", afirmou.  "Lamento muito que a campanha em São Paulo tenha chegado a essa nível, de ferir a nossa família, de ferir o conceito que eu sempre preservei."


É ou não é?

O vereador Camilo Cristófaro (PSB), do partido do governador Márcio França, gravou vídeo em que afirma que a divulgação de supostas imagens de João Doria (PSDB) na cama com mulheres ocorreu devido a falta de pagamento de programa.  "Isso aí está sendo posto na internet por uma das meninas que não recebeu o cachê do João Doria no swing", afirmou.  Ele afirma que mensagem que mandou com o vídeo não é invenção. "E deixar bem claro: não é Camilo que inventou e não é montagem. Isso quem pôs na internet é uma das moças, que moça não faltava nessa cama".  Camilo já foi aliado de Doria quando ele era prefeito, mas rompeu com o tucano. 

Duelo de titans


Tempos sombrios

O New York Times publicou em sua versão online do dia 24 um artigo de opinião do compositor e cantor Caetano Veloso intitulado "Tempos sombrios se aproximam de meu país", no qual ele liga a provável eleição de Jair Bolsonaro (PSL) com uma onda de "medo e ódio".

O artigo, no qual ele assina também como ativista político e que ganhou versão em espanhol além do inglês, associa a ascensão de presidenciável do PSL à eleição de outros políticos populistas de direita.

"Como outros países, o Brasil enfrenta uma ameaça da extrema direita, uma tempestade de conservadorismo populsta", afirma, citando o americano Donald Trump e o filipino Rodrigo Duterte, conhecido por ter liberalizado o assassinato de narcotraficantes e usuários de drogas.

Boquirroto

A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para investigar um vídeo no YouTube no qual um homem que se identifica como coronel Carlos Alves refere-se à presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, como “salafrária e corrupta”, além de criticar e fazer ameaças a outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

"O primarismo vociferante desse ofensor da honra alheia fez-me lembrar daqueles personagens patéticos que, privados da capacidade de pensar com inteligência, optam por manifestar ódio visceral e demonstram intolerância radical contra os que consideram seus inimigos. Todo esse quadro imundo que resulta do vídeo, que, longe de traduzir expressão legítima da liberdade de palavras, constitui verdadeiro corpo de delito comprobatório da infâmia perpetrada pelo autor", afirmou Celso de Mello.

No vídeo de 29 minutos, o homem faz ainda ameaças ao TSE, caso o tribunal leve adiante uma ação que possa resultar na cassação do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. "Se aceitarem essa denúncia ridícula e derrubarem Bolsonaro por crime eleitoral, nós vamos aí derrubar vocês aí, sim", diz.

Medo da cela

Faltam dois meses e alguns dias para Michel Temer deixar o Palácio do Planalto. Em condições normais, Temer estaria agora sonhando em obter um lugar confortável na história ou articulando os seus próximos movimentos políticos. Mas a posteridade não é um lugar seguro para Temer. E as preocupações do presidente e dos seus principais auxiliares não estão voltadas para a política, mas para a polícia. Auxiliares de Temer discutem a sério o risco de o atual presidente ser preso depois que perder as imunidades do cargo, a partir de janeiro. A julgar pela movimentação do Ministério Público, o receio é justificável. Submetido à primeira instância, Temer pode ser alvo de medidas cautelares. A esse ponto chegamos: Temer gerencia a transição de governo e, simultaneamente, inquieta-se com a perspectiva de receber a visita dos rapazes da Polícia Federal.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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