29/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

A foto oficial e o clima parcialmente tormentoso

Publicado em 10/11/2017 12:00 - Victor Barone

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Em janeiro, a foto oficial escolhida pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP) gerou memes e piadas nas redes sociais. Era uma montagem na qual o presidente aparecia com a faixa presidencial. Na quinta-feira (9), o Palácio do Planalto divulgou a foto oficial do presidente. Segundo a assessoria de Temer, ela foi feita em maio deste ano na biblioteca do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, pelo fotógrafo Beto Barata. Como fotógrafo não faz milagre, o pancake e a pose não esconderam o clima que rege o país.

Brasileiros de primeira classe

O Congresso terá cinco dias de folga na semana que vem, apesar de apenas a quarta-feira (15) ser feriado. A Câmara dispensou os deputados do dia 13 ao dia 17. No Senado, o presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) disse que não dispensará os parlamentares e que haverá deliberação na segunda (13) e na terça-feira (14). Porém, uma consulta à previsão de pauta mostra que não há projetos para serem votados na segunda. Na terça não há previsão da deliberação de textos de grande preocupação do Congresso e do governo. Na semana passada, com o feriado de finados (2), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e mais nove deputados se ausentaram entre o dia 27 de outubro e 5 de novembro para fazer um tour por três países da Europa e Oriente Médio. As despesas foram pagas com dinheiro público.

Cisão

Para Marina Silva (REDE-AC), o Brasil mudou de patamar. Foi do fundo do poço para o poço sem fundo. Chegou às profundezas porque tomou gosto pela polarização. Prestes a decidir sobre sua participação na terceira campanha presidencial consecutiva, a pajé da Rede Sustentabilidade disse que Lula (PT-SP) e Jair Bolsonoro (PSC-RJ), que lideram as pesquisas, reforçam a cisão do país. Afirma que eles “acabam sendo cabos eleitorais um do outro”.

O tropeço de Waack

Que William Waack é um dos mais importantes e talentosos jornalistas do país, não há dúvidas. De que ele expôs uma faceta deprimente de sua personalidade, também não.
Muita gente tentou – especialmente jornalistas – justificar a última afirmação com base na primeira. O fato é que um jornalista do porte de Waack não poderia, em hipótese alguma, ser inocente ao ponto de imaginar que um comentário com tal conteúdo ofensivo pudesse ser emitido em público sem consequências.

Vazamento

O operador de TV Diego Rocha Pereira e o amigo, Robson Ramos, foram os autores do vazamento do vídeo em que o jornalista William Waack faz comentários racistas (veja acima). Pereira, que era funcionário da Globo até janeiro deste ano, conta que, ao ver o que Waack disse em um monitor, nos bastidores da emissora, decidiu gravar a imagem com um celular. Pereira a compartilhou com Ramos, que ajudou a compartilhar o vídeo em grupos de WhatsApp. Na terça-feira (7), as imagens caíram em um grupo de editores de TV. Às 14h28 da quarta (8), entrou no Twitter pela primeira vez e, de lá, se espalhou em grande velocidade. À noite, a Globo anunciou que o jornalista seria afastado da bancada do Jornal da Globo.

Buarque no labirinto

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) está desesperado para encontrar uma saída no labirinto em que se meteu por causa de suas recentes posições — especialmente pelo voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT-RS) — e da amizade política e do apoio que dá a deputados distritais acusados de corrupção: perdeu apoio na esquerda, que hoje critica, e nada ganhou da direita, que não confia nele. Consciente das dificuldades que terá para se reeleger senador e sabendo que com sua extrema vaidade não suportará uma derrota, Cristovam faz de tudo para viabilizar sua candidatura a presidente da República. Acredita que pode ser o “novo” desejado pelo eleitorado e perder, nesse caso, não será desonroso.

Tudo dominado

A indicação do novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, foi acertada com o presidente Michel Temer (PMDB-SP) em encontro fora de sua agenda oficial, no último sábado (4), com o ex-presidente José Sarney. Alvo da Operação Lava Jato, Temer é apontado pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como o chefe do “Quadrilhão do PMDB”, em denúncia realizada em setembro deste ano ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ao lado dele, também são acusados o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os ex-ministros Henrique Alves (PMDB-RN) e Geddel Vieira Lima (PMDB) – ambos presos na Operação Lava Jato. Além dele, seus atuais ministros Eliseu Padilha, Casa Civil, e Moreira Franco, Secretaria-Geral da Presidência, foram denunciados por organização criminosa e obstrução de Justiça. Sarney também era um dos alvos da Operação Lava Jato, denunciado por obstrução da Justiça, ao lado dos senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR). No entanto, em outubro o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, arquivou o inquérito.

Crise no ninho

Na quarta-feira (8) o senador Tasso Jereissati (CE) lançou oficialmente a sua candidatura à presidência do PSDB. Como adversário na disputa, terá o governador de Goiás, Marconi Perillo, apoiado por Aécio Neves (MG). Na quinta (9), Aécio destituiu Jereissati da presidência interina do partido. Afastado do comando da sigla desde maio, quando foi atingido pela delação premiada do empresário Joesley Batista, Aécio alegou que, com a decisão, garante a “isonomia” do processo que escolherá o novo comandante do ninho. O mineiro luta pela sobrevivência. O cearense, para que o partido seja competitivo em 2018.

Tucanos atônitos

A decisão de Aécio Neves (PSDB-MG) de destituir o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) da presidência interina do partido irritou caciques do tucanato. Um dos postulantes pela candidatura do PSDB à Presidência em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assim reagiu: “Eu não fui consultado. E se fosse, teria sido contra, porque não contribui para a união do partido”. “Desse jeito, vamos entregar a Presidência para o Lula, em 2018”, disse o governista Aloysio Nunes Ferreira, ministro das Relações Exteriores. O senador Cássio Cunha Lima (PB), vice-presidente do Senado, disse que a destituição de Tasso tem as digitais de Michel Temer. “O governo interveio no partido. Isso é muito grave”, opinou.

Grão-duque

O grão-duque do tucanato, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (SP), quer ver o seu partido longe de Michel Temer (PMDB-SP). Em artigo veiculado no último dia 5 no jornal O Globo, FHC disse que os tucanos precisam “passar a limpo o passado recente”, aprofundar o “mea-culpa”, pacificar suas “facções internas” e descer do muro para encarar o seu dilema: ou o PSDB desembarca do governo em dezembro ou se cofundirá com o PMDB, tornando-se definitivamente um ator coadjuvante na disputa presidencial de 2018, disse. As manobras de Aécio Neves (PSDB-MG), no entanto, (leia as notas acima), parecem demonstrar que a banda, digamos, mais rota, do partido é mais forte do que se imaginava. Pode ser tarde para que os tucanos da banda do bem retomem a batuta.

Baleia não gosta de tucano

O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), afirmou que, para ele, o PSDB já decidiu deixar o governo do presidente Michel Temer (PMDB-SP) e, por isso, "não tem por que esperar" até dezembro para entregar os cargos que ocupa nos ministérios. "Eu acredito que o PSDB já tomou uma decisão política de sair do governo e não tem por que esperar até dezembro", disse Baleia Rossi.

Nos olhos dos outros é refresco

Os partidos do chamado Centrão fazem com Michel Temer (PMDB-SP) o que o PMDB fazia com Dilma Rousseff (PT-RS): usurpam a autoridade presidencial. Dilma fez cara feia, e foi destituída pelo PMDB. Temer fez o jogo: escapou duas vezes. Agora, é ameaçado por quem o salvou. Descobre da pior maneira uma fatalidade da política brasileira: quem com fisiologismo fere com fisiologismo será ferido. A extorsão do Centrão ocorre a luz do dia. O bloco que inclui partidos como PR, PP, PRB, PSC exige que o presidente lhe entregue pelo menos dois dos quatro ministérios do PSDB.

Frango azedo

A cúpula do PSDB analisa que o fenômeno João Doria está em declínio. Os caciques da legenda dizem que o prefeito de São Paulo foi com muita sede ao pote, mas não conseguiu manter Geraldo Alckmin contra a parede. Há meses, o governador mostrava tensão sobre o assunto. Agora se diz tranquilo. O plano de lançar Doria ao governo do Estado de São Paulo esbarra em José Serra, que tem dito que “é candidato”.

A base é que sofre

O Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), que mede a variação de preços da cesta de compras de famílias com renda até 2,5 salários mínimos, registrou inflação de 0,42% em outubro, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).

Perseguidos e perseguidores

O empresário Wesley Batista, um dos controladores do grupo J&F, negou ter descumprido as cláusulas do seu acordo de colaboração judicial e se disse injustiçado por estar preso enquanto pessoas que delatou estão soltas. “Estamos vendo colaboradores sendo punidos e perseguidos pelas verdades que disseram. Isso fez o Brasil se olhar no espelho, mas como ele não gostou do que viu, temos delatores presos e delatados soltos”, disse.

Stalinistas felizes

A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) oficializou sua pré-candidatura à presidência em 2018. Cercada por parlamentares do seu partido na Câmara e no Senado, Manuela negou que o PCdoB possa recuar por uma eventual pressão do PT, ao lado de quem o partido tem caminhado nas últimas duas décadas. Nas últimas sete eleições presidenciais, desde 1989, o PC do B integrou a coligação encabeçada pelo PT e apoiou como candidatos os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Lindbergh vai pro Gulag

Ministro do governo petista, o deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP) respondeu com ironia às críticas feitas pelo líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), à decisão do PC do B sobre lançamento da pré-candidatura da deputada Manuela D'Ávila à Presidência (leia acima). "Quando encontrar meu amigo Lindbergh vou perguntar: por que não te calas?", brincou Orlando Silva. Lindbergh afirmou que o PC do B comete erro ao lançar um candidato em um momento em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alvo de ataques.

Bonitinha, mas…

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou na terça-feira (7) denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a deputada federal Shéridan de Anchieta (PSDB-RR). A acusação é por suposta compra de votos na eleição de 2010, conduta que também teria beneficiado o ex-governador Anchieta Júnior (PSDB) na campanha ao governo de Roraima. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, a deputada diz refutar as acusações e afirma que o assunto é "requentado".

Vergonha alheia

A participação da filósofa Judith Butler em um seminário em São Paulo reuniu um grupo de manifestantes de extrema direita e burrice extrema na frente do Sesc Pompeia. Professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos), Butler é um dos principais nomes no estudo de gêneros e na teoria queer. Os manifestantes chegaram a atear fogo num boneco com o rosto de Butler, aos gritos de “queima, bruxa”. “Não está claro se estamos vivendo no mesmo tempo político. Em várias partes do mundo nos perguntamos: em que século vivemos?”, questionou a filósofa, do lado de dentro.

De volta a idade média

Não bastasse o vexame do protesto contra sua palestra no Brasil (leia acima), a filósofa e escritora Judith Butler foi agredida no aeroporto de Congonhas, na manhã de sexta-feira. Judith foi abordada por uma mulher que portava uma placa contra a sua presença no Brasil. Wendy Brown, esposa da escritora, e uma outra mulher que saiu em sua defesa também teriam sido agredidas. De acordo com o Twitter, a agressora teria sido detida no aeroporto. A assessoria de imprensa da Infraero, que administra Congonhas, ainda não confirmou o ocorrido. As agressões verbais começam aos 7 minutos e 30 segundos do vídeo abaixo, divulgado por uma fanpage de extrema direita.

Huck…

Em meio às especulações sobre sua entrada na disputa pela Presidência da República em 2018, o apresentador Luciano Huck tratou de esfriar ânimos dos entusiastas de uma eventual campanha. Ele afirmou na terça-feira (7) em São Paulo que não é candidato, embora venha mantendo conversas com partidos, lideranças e movimentos que buscam “renovação política”. Diz ele: "Neste momento da minha vida eu não sou candidato a nada". Que bom.

Corrupção espantosa

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso esteve em Buenos Aires, onde deu uma palestra sobre corrupção na Universidade Metropolitana pela Educação e o Trabalho (UMET). O público era composto essencialmente por juristas de vários países da América Latina. Barroso disse que a corrupção no Brasil se espalhou de modo "espantoso". E acrescentou: "onde você destampa, vê coisa errada, seja na Petrobras, Caixa Econômica Federal, BNDES". Disse ainda que as evidências "saltam de qualquer compartimento que se abra", referindo-se a "áudios, vídeos, malas de dinheiro, apartamentos".  O juiz disse, por fim, que o direito penal brasileiro havia sido "incapaz de punir a criminalidade de colarinho branco que criou um país de ricos delinquentes".

Fazendo o Lula

Condenado a mais de 15 anos de prisão, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) resolveu “fazer o Lula”. Disse em depoimento que não se lembra de pagamento de propina para o presidente Michel Temer (PMDB-SP) – que, a exemplo de Cunha, é investigado na Operação Lava Jato e foi apontado como membro do chamado “quadrilhão do PMDB”.

Quinto poder

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, manifestou-se contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 412/09 que pretende dar autonomia funcional e administrativa à Polícia Federal (PF), órgão atualmente subordinado ao Ministério da Justiça. A proposta está sendo analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Dodge enviou o documento por meio do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), que aprovou a comunicação de rejeição da proposta por unanimidade. De acordo com ela, há “uma situação clara em que um quinto poder ressurgiria desse modelo constitucional se essa PEC vier a ser aprovada, um modelo em que um desses poderes teria a força e certamente a força armada”.

Moleza

Autorizado a deixar o Complexo Penitenciário da Papuda em Brasília (DF) apenas durante o dia para exercer seu mandato parlamentar na Câmara, o deputado Celso Jacob (PMDB-RJ), preso desde 6 de junho, continua recebendo R$ 4,2 mil, mensais, referente ao “auxílio-moradia”. Apesar de passar o dia no Congresso, de segunda a sexta-feira, o deputado é obrigado a se recolher à prisão após o expediente.

Esquerda do PT. Tem isso?

O grupo Democracia Socialista, tendência, digamos, “mais à esquerda” do Partido dos Trabalhadores, divulgou comunicado contra a estratégia política de alianças que o ex-presidente Lula tem realizado com vistas às eleições presidenciais de 2018. O PT, com Lula à frente dos acordos, tem articulado parcerias com o “golpista” PMDB – como os próprios petistas chamam o ex-aliado – em pelo menos seis estados.

Mais papagaiadas dos Bolsonaros

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), publicou no Twitter uma foto em que seu pai segura um cartaz com a seguinte frase: “Direitos humanos, esterco da vagabundagem”. A imagem faz referência a um tuíte com o mesmo teor escrito pelo deputado em 16 de agosto de 2016. Segundo Carlos, a mensagem de seu pai é uma “dica para a redação do Enem quando Bolsonaro for eleito presidente em 2018”. O tuíte do vereador foi publicado horas antes de a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, liberar redações que ferem os direitos humanos no Exame Nacional do Ensino Médio.

Itália x Suplicy

O cônsul geral da Itália em São Paulo, Michel Pala, reagiu com palavras duras ao apelo do vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT) para que o ex-ativista italiano Cesare Battisti seja julgado novamente antes de ser extraditado para a Europa. Em tom duro, Pala acusou o ex-senador e o jurista Dalmo Dallari, também defensor de Battisti, de se utilizarem de má-fé e de argumentos “delirantes” e de “total ignorância”. O embate foi travado em troca de mensagens eletrônicas entre o vereador e o cônsul geral no último dia 24.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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