28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

A mamata natalina dos Bolsonaro

Publicado em 20/12/2019 12:00 - Victor Barone

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O senador Flávio Bolsonaro está assando em praça pública após a operação de busca e apreensão do Ministério Público do Rio de Janeiro vasculhar endereços vinculados a ele, ao "faz-tudo" da família, Fabrício Queiroz, e a ex-assessores dele na Assembleia Legislativa do Rio. Entre os alvos, parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro.

A expectativa seria a de que o presidente da República estivesse sentindo, com toda essa movimentação, um misto de ansiedade e remorso. Ansiedade por que a "pica do tamanho de um cometa", prevista por Queiroz, está chegando com potencial cataclísmico contra seu governo. Remorso pelo fato de a origem da relação entre o clã Bolsonaro e o ex-assessor ser Jair, não Flávio. Teria sido o, agora, presidente que o colocou lá para ajudar a organizar a coisa toda. Teria, portanto, ajudado a jogar o próprio filho na fogueira.

Mas pelas declarações dadas, na quinta (19), remorso foi substituído pelo reflexo de auto-sobrevivência. Bolsonaro não quis comentar o caso e tirou o corpo fora. "Eu falo por mim. Problemas meus podem perguntar que eu respondo. Dos outros, não tenho nada a ver com isso". Os "outros", no caso, são seu primogênito que "herdou" um problema chamado Queiroz do pai.

O ex-assessor atuava, a partir do gabinete da Alerj, para organizar o esquema que tomava de volta parte dos salários de funcionários. A imprensa já mostrou, diversas vezes, a existência de fantasmas que "trabalhavam" nos outros mandatos do clã. A hipótese é de que Queiroz estaria cuidando de uma holding dos gabinetes do clã. De acordo com dois deputados do Rio, o agora presidente utilizava, eventualmente, o gabinete do filho 01 na Alerj para despachar, às sextas-feiras, enquanto deputado federal. Não cabe a ele, portanto, nem o benefício da dúvida quanto às atividades ilícitas que ocorriam no gabinete onde Queiroz trabalhava.

Duas histórias merecem foco especial. Primeiro, o depósito no valor de R$ 24 mil na conta da, hoje, primeira-dama, Michelle Bolsonaro, por Fabrício Queiroz. Bolsonaro disse que era a devolução de parte de um empréstimo de R$ 40 mil, mas não deu provas e nem mostrou como o resto dos recursos foram devolvidos. Isso reforça que estamos diante de um esquema familiar de "rachadinha", envolvendo crimes de peculato, lavagem de dinheiro (usando loja de chocolates e compra de imóveis) e organização criminosa. E, provavelmente, de um assessor que pagava contas.

A segunda história é a relação do gabinete de Flávio e, portanto, do clã Bolsonaro com milícias e, mais especificamente, com o Escritório do Crime. A especialidade desse grupo não é vender "gatonet", mas matar por encomenda para quem tem bastante dinheiro. Queiroz era próximo de Ronnie Lessa, preso pela acusação de executar a vereadora Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes, e do foragido Adriano Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime. Até agora a investigação não trouxe o mandante das execuções.

Investiga-se o repasse de recursos, via Queiroz, a milícias em Rio das Pedras, à rede do grupo de matadores. Adriano e Ronnie, contudo, não são pés de chinelo, cobram caro pelo serviço. Não é, portanto, apenas o dinheiro de rachadinha que conectaria ambos grupos.

Há uma proximidade ideológica, tornada explícita nas condecorações que Flávio fez a eles, quando deputado na Alerj, e nos discursos de defesa de sua atuação criminosa que Jair proferiu no Congresso Nacional. O compartilhamento de visões de mundo pode ter aberto caminho também para o apoio político. Imagine as possibilidades trazidas a grupos de extermínio com amigos no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto?

A prisão de Flávio Bolsonaro, que já está sendo pedida por deputados federais da oposição, segue algo difícil, mas o início de um processo de cassação de mandato é mais plausível – com capacidade de travar um governo que não conta com uma vistosa recuperação econômica para ampará-lo. Depende daquilo que ainda será revelado e a consequente ojeriza a isso por parte da população nos próximos meses.

A repercussão disso é incalculável. E a contaminação, irreversível. Porque, nas responsabilidades do esquema familiar, onde se lê "Flávio", deveríamos ler também "Jair".

Por Leonardo Sakamoto

As consequências jurídicas vão demorar para se concretizar. Mas o estrago político do escândalo é instantâneo e devastador. A encrenca mudou de patamar. Onde havia uma rachadinha abriu-se uma 'rachadona' com aparência de abismo.

O discurso ético de Jair Bolsonaro, que já cambaleava, caiu no precipício. Sumiram em definitivo a diferença heroica que o presidente atribuía a si mesmo e a presunção de que a poltrona presidencial era ocupada pela superioridade moral. Bolsonaro encolheu.

No intervalo de um ano, o primogênito Flávio Bolsonaro fugiu dos investigadores. Durante quatro meses, escondeu-se atrás de um escudo fornecido pelo Supremo Tribunal Federal. Seus receios revelaram-se plenamente justificáveis.

Num intervalo de apenas 24 horas, vieram à luz informações que confirmam as piores suspeitas: a desenvoltura do PM Fabrício Queiroz, os vínculos com milicianos, o repasse à mulher do presidente, a lavagem de dinheiro nas transações imobiliárias e na loja de chocolates do primeiro-filho, o diabo.

Até aqui, Bolsonaro notabilizou-se pelo entusiasmo com que cai em cima do menor pecado dos seus adversários. O escândalo da 'rachadona' tem potencial para nivelar o capitão à culpa comum dos políticos brasileiros. É como se a diferença hipotética se integrasse à baixeza geral, desautorizando o discurso ético.

Aliados do presidente começam a entoar a tese segundo a qual os pecados da família Bolsonaro são menores, como se a dimensão da transgressão fosse uma forma aproveitável de inocência.

A percepção de que os Bolsonaro não estão imunes a nenhuma tentação dos outros desautoriza a terceirização das culpas. O rosto dessa crise não é o de Flávio, mas o de Jair Bolsonaro. Confrontado com o precipício, o presidente precisa redefinir sua estratégia para impedir que a crise passe a influenciar o rumo do seu governo. Bolsonaro precisaria estampar a imagem da tranquilidade. Essa é, para ele, a parte mais difícil.

Jair Bolsonaro disse não ter nada a ver com o escândalo que carcome a biografia do filho Flávio Bolsonaro. Neste caso, nada é uma palavra que ultrapassa tudo. Há digitais do presidente da República por toda parte. Há um ano, quando o caso chegou às manchetes, Bolsonaro chamava Fabrício Queiroz de "nosso assessor". Enaltecia a amizade de três décadas que o unia ao personagem. E não excluía a hipótese de ter de expiar algum tipo de culpa.

Eis o que disse Bolsonaro numa transmissão ao vivo pela internet em 12 de dezembro de 2018: "Se algo estiver errado —seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz— que paguemos a conta deste erro. Não podemos comungar com erro de ninguém. (…) O que a gente mais quer é que seja esclarecido o mais rápido possível, que sejam apuradas as responsabilidades, se é minha, se é do meu filho, se é do Queiroz. Ou de ninguém."

Quatro dias antes, Bolsonaro tentara explicar, sem sucesso, o repasse de R$ 24 mil de Queiroz para a conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ele dissera que a cifra se referia ao pagamento de empréstimo não declarado de R$ 40 mil que fizera ao correntista milionário. Alegou que o "amigo" Queiroz lhe teria repassado dez cheques de R$ 4 mil como pagamento. Nessa versão, os depósitos foram feitos na conta de sua mulher porque Bolsonaro não teria tempo de ir ao banco. Nessa ocasião, a poucos dias de assumir a Presidência, Bolsonaro soava como um político destemido. "Não sou contra vazamento", ele dizia, sobre a divulgação de detalhes sigilosos das investigações. "Tem que vazar tudo mesmo. Nem devia ter nada reservado. Tem que botar tudo para fora e chegar à conclusão."

Agora, o presidente concluiu que não tem nada a ver com seu amigo de três décadas, não tem nada a ver com a presença dele no gabinete do filho, não tem nada a ver com o dinheiro que escorreu da conta suja para a conta de sua mulher, não tem nada a ver com nada. Mais um pouco e Bolsonaro será obrigado a recitar o próprio RG e o CPF na frente do espelho para se certificar de que é ele mesmo e não um impostor que ocupa a Presidência da República.

O senador Flávio Bolsonaro divulgou nas redes sociais um vídeo sobre o escândalo da "rachadona". Pretendia se defender de acusações feitas pelo Ministério Público. Mas a defesa, por inconsistente, não foi o ponto alto do vídeo. O ponto alto foi a tentativa de plágio. Mimetizando Lula, o primogênito de Jair Bolsonaro atribuiu as investigações que o encrencam a uma grande conspiração.

"É muito claro pra mim que há uma perseguição absurda no Rio de Janeiro, porque querem me atingir para atingir o presidente da República", disse o Zero Um a certa altura. "Há, sim, um conluio de várias pessoas poderosas para —dia sim, dia também — atacar o presidente da República, causar uma instabilidade e tentar tirá-lo na força", repetiu Flávio noutro trecho.

Ironicamente, o filho recorreu ao pai horas depois de ter sido, por assim dizer, abandonado por ele. "O Brasil é muito maior do que pequenos problemas", dissera o presidente aos repórteres, defronte do portão do Alvorada. "Eu falo por mim. Problemas meus podem perguntar que eu respondo. Dos outros, não tenho nada a ver com isso".

Numa evidência de que quem sai aos seus não endireita, Flávio também tentou tomar distância do faz-tudo Fabrício Queiroz. Pronunciou uma versão bolsonarista da tese do "eu não sabia". Declarou: "O próprio Queiroz já botou no papel que eu não tenho nada a ver com o que ele fez ou deixou de fazer. Mas isso o Ministério Público não vaza."

A exemplo de Lula, Flávio escorou sua defesa numa tese cujo sucesso depende da disposição da plateia de se fazer de boba. É preciso aceitar a versão segundo a qual o filho mais velho do inquilino do Planalto não é o jovem inteligente que muitos supunham. Em verdade, é um sujeito que trata a si mesmo como um cego atoleimado. Além do inquérito do MP, pode ser processado por plágio.

Fustigados por Jair Bolsonaro ao longo do ano, líderes de partidos que integram o chamado centrão celebram em privado a ruína ética do clã presidencial. Enxergam no inquérito que investiga o senador Flávio Bolsonaro uma espécie de "ritual de rebaixamento" do presidente da República. Dois parlamentares da cúpula do centrão foram explícitos. "Estamos rindo por dentro", resumiu um deles. E o outro: "Fica mais difícil exigir ética na casa do vizinho quando a perversão escapa pelas bordas do tapete da sua casa". Ambos anteveem problemas para o governo caso Bolsonaro continue fazendo pose de "vestal".

Um ministro palaciano foi avisado de que a fase do sorriso interior tende a evoluir para um coro de "farsante" caso Bolsonaro continue atiçando a opinião pública contra o Legislativo. Mencionou-se na conversa a ameaça do presidente de vetar o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões.

Curiosamente, Bolsonaro ensaiou um recuo na noite desta quinta-feira. Horas depois de ter reiterado o plano de vetar, alegou que o cancelamento da verba reservada para a campanha de vereadores e prefeitos pode resultar na abertura de um processo de impeachment. Os deputados se divertiram com o pretexto. "Para deixar bem claro", disse Bolsonaro. "Nós temos uma Constituição, está lá no artigo 85 da Constituição: são crimes de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição Federal, em especial contra o exercício de direitos políticos, individuais e sociais. O Congresso pode entender que eu, ao vetar [o fundo], atentei contra este dispositivo constitucional e instalar um processo de impeachment contra mim."

Na interpretação dos líderes, Bolsonaro faz jogo de cena até na hora de recuar. O valor de R$ 2 bilhões foi proposto pelo governo, recordam os parlamentares. Bolsonaro executaria, portanto, um inusitado autoveto. Sua decisão seria revertida no plenário do Congresso, com prejuízos à já combalida imagem da instituição. O Planalto foi alertado para o risco de transformar numa prioridade do Legislativo federal a "rachadinha" que vigorava na folha do gabinete de Flávio Bolsonaro no Legislativo estadual. A prioridade estaria mais voltada para o Conselho de Ética do que para o pedido de impeachment.

Por Josias de Souza

MITOMANIA

Se nem o presidente Jair Bolsonaro acredita em boa parte do que diz, como pode pretender que os outros acreditem nele? E nem por isso ele deixa de mentir dia após dia – e, com certa frequência, mais de uma vez por dia, a depender da necessidade.

Cadê as ONGs que tocaram fogo na Amazônia? E o navio grego que poluiu o mar do Nordeste com petróleo venezuelano? E a caixa preta do BNDES que guardava segredos cabeludos de governos passados? Está vazia, segundo o presidente do banco.

Nunca teve ditadura no Brasil, disse Bolsonaro. Teve sim, e isso não é questão de ponto de vista, é fato. Fazer cocô dia sim, dia não, vai melhorar o meio ambiente, disse Bolsonaro. Não, não vai. Passar fome no Brasil é uma mentira, disse Bolsonaro. Não, não é.

Trabalho infantil “não prejudica em nada”, disse Bolsonaro. Prejudica, sim, as crianças. Como pode matá-las a falta de cadeirinhas nos carros. O nazismo era de esquerda, disse Bolsonaro. Jamais foi. Foi invenção da extrema-direita alemã.

O holocausto de 6 milhões de judeus na Alemanha de Hitler é perdoável, disse Bolsonaro. Não, não é. Mas como nesse caso trata-se de mera opinião, por mais reles que ela seja, Bolsonaro pode continuar pensando assim, se quiser.

Por Ricardo Noblat

O ENERGÚMENO E O EDUCADOR

Jair Bolsonaro chamou o educador Paulo Freire de "energúmeno" – segundo o dicionário Houaiss, um ignorante, boçal, imbecil – e relacionou a filosofia de ensino de um dos mais respeitados pedagogos do mundo ao baixo resultado que o Brasil teve no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).

Cada vez que xinga Freire, o presidente provoca orgasmos em sua militância que, como ele, entende tanto da filosofia de ensino do educador quanto de mecânica de foguetes espaciais e de engenharia genética. Como papagaios, repetem exaustivamente as críticas de militares da ditadura e de gurus e influenciadores da extrema direita sobre o pernambucano. Esses sim compreendem o poder da concepção de Paulo Freire para que as pessoas formem-se nas letras e sejam cidadãs de fato. E, por isso, desejam enterrá-lo.

A ideia é tão simples quanto genial. Consiste – grosso modo – a usar a realidade dos alunos para ensina-los. Para aprender a palavra "tijolo", discute-se o que ela representa para todos – quem sabe fazer um tijolo, quem o compra, quem o vende, quem lucra com ele. Para entender a palavra "trabalho", pode-se incentivar o aluno a conhecer a CLT, seus direitos e deveres. Isso encara a educação não apenas como um processo técnico de passar dados, mas como um caminho para que todos possam exercer sua cidadania plena. Por isso, é visto como subversivo por aqueles que preferem um povo que apenas diga amém.

Em abril, Marcelle Souza, da Repórter Brasil, publicou reportagem contando a história do povoado de Angicos, no Rio Grande do Norte, com altas taxas de pobreza e de analfabetismo. Nele, em apenas 40 horas, um grupo de professores liderado por Paulo Freire ensinou 300 adultos a ler e a escrever e fomentou a percepção sobre os direitos trabalhistas e o direito ao voto. Era 1963. Como houve o golpe no ano seguinte, os militares não deixaram que a ideia fosse implementada no plano nacional de alfabetização. Freire foi demitido e teve que se exilar para não ser morto.

O ódio de Bolsonaro contra o educador é antigo. Ele já disse que iria usar um "lança-chamas no MEC para expulsar Paulo Freire lá de dentro". O presidente pode não entender o que ele defendia, mas sabe que seu resultado significa um povo mais consciente e difícil de ser manipulado. E isso é algo que alguém que acredita que Messias não é só um sobrenome não pode admitir. Culpar o educador pela situação da educação é como culpar o brigadista que apaga incêndios pelo fogo na floresta.

Freire é nosso acadêmico mais citado e nosso professor mais traduzido para outras línguas. Sua concepção de ensino é respeitada por professores em todo o mundo. Por aqui, apesar de criticado, ajudou a reduzir o analfabetismo após a redemocratização. Mas trazer a realidade dos alunos para a sala de aula não é a única ferramenta para termos educação de qualidade. O Brasil conta com uma formação precária dos docentes e com alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais. Assiste a roubo, ausência e baixa qualidade da merenda escolar. Paga baixos salários aos professores e não fornece estrutura suficiente em todas as escolas.

E mesmo com essa situação, Jair Bolsonaro teve a irresponsabilidade de deixar a cadeira de ministro da Educação vaga desde que assumiu o mandato. Indicou dois gerentes que serviram para desperdiçar tempo do país, substituindo a busca pela melhoria da educação básica e superior por debates que reescrevem o passado.

Por isso, a frase mais paradigmática do presidente, nesta manhã de segunda, não foi o xingamento a Freire ou as críticas à TV Escola, mas dizer que essas ações tomadas agora "daqui a cinco, dez, quinze anos, vai ter reflexo".

Bolsonaro usa a área da educação para implementar um "Ministério da Verdade", como no livro "1984", de George Orwell. Quer castrar a liberdade de ensino com uma intervenção no significado e no sentido da educação pública, acabando com instrumentos que democratizam o conhecimento. Ricardo Vélez e, depois, Abraham Weintraub cumprem esse papel, declarando guerra às liberdades conquistadas desde a Constituição de 1988. Afinal, para a extrema direita, a sociedade está corrompida e degradada por conta delas, precisando de refundação. Buscam sua ressignificação.

Esqueçam o desvio do orçamento da educação para pagamento de juros da dívida pública, esqueçam a incapacidade administrativa e gerencial, o sucateamento e a falta de apoio para a formação dos profissionais, os salários vergonhosamente pequenos e atrasados, a falta de planos de carreira, a ausência de infraestrutura, de material didático, de merenda decente, de segurança para se trabalhar. Esqueçam os projetos impostos de cima para baixo que fecham escolas e desfazem comunidades escolares. Esqueçam o gás lacrimogênio e as balas de borracha contra professores que fazem greve.

Para o presidente, o problema da educação são mamadeiras de piroca fictícias, ilustrações de pipius e xaninhas em cartilhas voltadas a explicar a adolescentes cuidados de saúde com o próprio corpo e a presença de conteúdo didático destinado a explicar aos estudantes que não se deve bater em mulheres, homossexuais e transexuais.

E a culpa da situação da educação no Brasil é de Paulo Freire, da TV Escola, de estudante vagabundo (Bolsonaro disse, na última quinta (12), que estudante "faz tudo, menos estudar") ou "imbecil" e "idiota útil" (como se referiu aos jovens que protestavam pela educação em maio). Além, é claro, de professor "comunista".

Burrice não é desconhecer a norma culta da língua. Burrice é menosprezar o conhecimento, chegando a odiar quem o detém ou quem busca aprendizado. Burrice é encarar preconceitos violentos como sabedoria. Burrice é tentar destruir, de forma violenta, o conhecimento que ameaça jogar luz sobre a própria burrice. A burrice, como manifestação da negação do conhecimento, avança quando os governantes acham possível construir uma sociedade melhor jogando na lata do lixo os instrumentos usados para refletirmos sobre seus erros e acertos.

No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos. Centenas de milhares queimaram até as cinzas. Einstein, Mann, Marx, Freud, entre outros, foram perseguidos por ousarem pensar diferente. A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu.  E hoje vemos muitos se acovardarem diante de ondas intolerantes frente à livre circulação do conhecimento humano e a possibilidade de seu aprendizado. Não estou comparando nossa sociedade com a de movimentos totalitários. Apenas dizendo que a burrice é atemporal e universal.

Por Leonardo Sakamoto

Para reforçar: Paulo Freire é o terceiro autor mais citado no mundo na área de ciências humanas, superando Michel Foucault. O livro A Pedagogia do Oprimido tem mais 75 mil citações no Google Scholar e é a única obra brasileira que está entre as cem mais lidas nas disciplinas de países de língua inglesa. No Brasil, durante as eleições, foi chamado de “guru da doutrina satânica homossexual, feminista e marxista que reina em nosso sistema educacional”. Quando candidato à Presidência, Bolsonaro prometeu “entrar com um lança-chamas no MEC e tirar Paulo Freire lá de dentro”. Paulo Freire é a base de ensino pedagógico em Harvard, Oxford, e de muitas das melhores universidades do mundo.

Ana Maria Araújo Freire, educadora e viúva de Paulo Freire, aos 86 anos, deu uma resposta à altura a Jair Bolsonaro, que ofendeu um dos principais educadores da história do Brasil e reconhecido mundialmente. O presidente chamou Freire de “energúmeno”. “A palavra não se adequa a Paulo. Paulo não é isso. Paulo não é nenhum demônio que veio à Terra. Pelo contrário, Paulo veio à Terra para pacificar o mundo”, disse Ana Maria, em entrevista à coluna de Guilherme Amado, na Época.

 “No fundo, ele (Bolsonaro) pensa que Paulo é um grande homem, como é. Ele destrata dizendo que Paulo é um ser diabólico. Paulo foi um ser da paz. No fundo, ele tem um pouco de inveja também, queria ser como Paulo foi, mas não pode, não consegue. Tem de estar o tempo todo de pontaria armada para atingir alguém”, disse a educadora.

Ela afirmou, ainda, que o tipo de crítica feita por Bolsonaro não é “postura de um presidente” e que ele é um homem “nefasto”. “Paulo está lá sossegado no lugar dele, está lá no céu. Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter, sem nenhuma autocensura. Tudo o que ele tem na cabeça é contra as outras pessoas, ele só tira das ofensas os três filhos, nem os outros dois ele tira. É um homem nefasto, uma coisa absolutamente terrível”.

Quando se constata no dicionário o significado da palavra “energúmeno”, causa, no mínimo, estranheza que o presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro, tenha utilizado-a para se referir ao educador Paulo Freire. O energúmeno é um indivíduo possuído pelo demônio, uma pessoa violenta e brutal ou um ignorante boçal e imbecil. Não é o que a maioria dos congressistas da Câmara e do Senado pensa. Na primeira Casa foi aprovada uma moção de aplauso para Freire, que faleceu em 1997. Na Casa dos senadores foi aprovada a realização de uma sessão solene em homenagem ao pedagogo, que será no ano que vem. “Não são os muros das universidades que, apenas para dentro, precisam se indignar com essa tamanha agressão ao mestre da educação, mas, sim, qualquer homem e mulher que sabe que, um dia, nós podemos ser melhores se praticarmos o bem”, afirmou o senador Weverton (PDT-MA), responsável pelo requerimento.

Paulo Freire também será homenageado pela Câmara dos Deputados. Uma moção de aplauso para Freire, que faleceu em 1997, foi aprovada pela Casa nesta tarde, irritando os parlamentares bolsonaristas.  Logo depois da aprovação, deputados bolsonaristas não esconderam sua decepção com a aprovação da homenagem e criticaram sua legitimidade. “Em moção de aplauso a Paulo Freire na Câmara, mais da metade dos parlamentares não se manifestou. Os demais aplaudiram o fracasso dos resultados do índice PISA para a Educação”, disse o deputado Luiz Philippe D’Orleans e Bragança (PSL-SP).

ODEBRECHT: PROPINA DESDE OS ANOS 80

Terceiro entrevistado da série do jornal O Globo batizada de Década de Rupturas, Marcelo Odebrecht disse que a empresa de sua família pagou propina a políticos e governos desde os anos 1980. Ele reconhece uma cultura antiga e arraigada de tolerância com a corrupção. Questionado sobre se o caixa dois era necessário para fechar contratos, foi franco: “Se eu disser que era necessário, estaria mentindo. Havia empresas que corretamente não aceitavam fazer. Nós, porém, sempre fomos tolerantes com o caixa dois. E não faltavam motivos para justificá-lo. Seja porque o político tinha uma referência de orçamento oficial de campanha que não queria ultrapassar, seja porque o político não queria aparecer recebendo muito dinheiro de uma empresa com interesses na região, ou cujos projetos ele defendia”.

Ele acabou contrariando a tese do presidente do STF, Dias Toffoli, de que a Lava Jato quebrou as empresas. “É fácil dizer que o que quebrou a Odebrecht foi a Lava-Jato. Sim, a Lava-Jato foi o gatilho para nossa derrocada, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa crise menor, mas mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. Só que nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato. A Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato.”

Por Equipe BR Político

MAIS AMEAÇAS

O Professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, o brasileiro David Nemer, relata sofrer ameaças virtuais depois de divulgar resultados de sua pesquisa em andamento sobre grupos bolsonaristas no WhatsApp. Na última semana, Nemer deixou São Paulo às pressas, depois de receber email anônimo sugerindo que ele tomasse cuidado, e também uma foto sua em um parque que ele tinha frequentado dias antes.

Uma reportagem do UOL divulgou um print do email que o pesquisador recebeu enquanto esteve em São Paulo, onde tinha reunião marcada com outros pesquisadores. À imprensa, Nemer declarou que suspeita que o autor das ameaças faça parte de grupos bolsonaristas estudados por ele. “Eu venho pesquisando e monitorando a rede de fake news pro-Bolsonaro. Essa rede de fake news é mantida por um grupo chamado de MAV, Movimento Ativista Virtual, ou milícia virtual”, declarou.

Segundo o pesquisador, essa não é a primeira vez que recebe ameaças. “Toda vez que publico artigo, que sai uma entrevista minha, me mandam um e-mail de intimidação. Mas dessa vez mandaram uma foto (minha), me seguiram”, afirma. O pesquisador fez boletim de ocorrência e foi orientado a pegar o primeiro voo de volta aos EUA, onde mora.

Nemer costuma avaliar o comportamento dos seguidores dos perfis de Jair Bolsonaro nas redes, caso do post publicado no dia 31 de outubro em que fala sobre o crescimento de tweets de apoio ao presidente em um dia. Para o pesquisador, seus estudos devem irritar os bolsonaristas.

O objetivo das fake news não é somente desinformar ou forçar uma agenda política, elas também esgotam o seu pensamento crítico para alienar a verdade.

— David Nemer (@DavidNemer) December 11, 2019

O QUE BOLSONARO SABE SOBRE MARIELLE?

O universo tem mistérios que jamais vamos entender. Um deles é essa mania que Jair Bolsonaro tem de oferecer matéria-prima para os que tentam, sem sucesso, entender os seus mistérios. O que leva o presidente a parar o carro oficial na frente do Palácio da Alvorada para despejar sobre microfones e gravadores uma frase como essa? "No caso Marielle, outras acusações virão. Armações! Vocês sabem de quem."

Sem dar nome aos bois, Bolsonaro soou como se apontasse a língua para Wilson Witzel. Isso porque, em outubro, o presidente acusou o o governador do Rio de Janeiro de "vazar informações" e "manipular" as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco para incriminá-lo.

Naquela ocasião, irritado com uma reportagem da Rede Globo, Bolsonaro disse que, 20 dias antes da veiculação da notícia, recebera de Witzel a informação de que um porteiro havia enfiado seu nome no inquérito sobre a execução de Marielle Franco. Witzel desmentiu Bolsonaro. O porteiro se desdisse em novo depoimento. E ninguém falou sobre o assunto novamente.

De repente, Bolsonaro volta à carga para anunciar novas "armações". Na mesma aparição, o presidente disse a apoiadores que foram ao portão do Alvorada para festejá-lo que seu governo apresenta resultados, "apesar de grande parte da imprensa" e da "gente do mal".

Ora, um presidente que diz coisas definitivas sobre um assassinato —vêm aí novas armações contra mim—, mas não define muito bem as coisas, não precisa de imprensa ou de gente malévola para se enrolar. Bolsonaro tropeça na própria língua. Parece atormentado pela síndrome do que está por vir. E o país se pergunta: O que só Bolsonaro sabe sobre o caso Marielle?

Por Josias de Souza

O ex-deputado federal, Jean Wyllys, fez uma sequência de comentários nas redes sobre os escândalos envolvendo o clã Bolsonaro, em especial o senador Flávio, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) em um esquema de corrupção envolvendo ex-assessores de seu gabinete quando era deputado estadual. Para Jean Wyllys, o “espectro de Marielle” será o responsável por mostrar o “podre” do presidente, assim como de sua família.

Em outro tuíte, Jean compartilhou uma notícia que fala sobre a desconfiança do presidente com seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, nas investigações do esquema corrupto do filho na Alerj. Para o ex-deputado do PSOL, “as facções políticas que deram o golpe em 2016 e se aliaram em 2018 se conhecem bem. Entre elas, vai sempre pairar a desconfiança. E o risco de traição. Sina dos golpistas”. Jean também lembrou em outro tuíte que Jair Bolsonaro concorreu à presidência em 2018 alegando que a vida de sua família estava livre de corrupções na política. “À época já havia informação suficiente para desmenti-lo, mas optaram pelo silêncio para ajudar o candidato”, comentou o ex-deputado.

Um poderoso espectro – espectro de Marielle – ronda Bolsonaro e ainda vai mostrar a todos que há de podre nele, em sua família e em suas milícias, reais e/ou digitais.

— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) December 20, 2019

FISSURADO EM TORTURA

O Sub-Comitê das Nações Unidas para a Prevenção da Tortura condenou as políticas do governo de Jair Bolsonaro no que se refere ao combate à tortura. É a primeira vez que a ONU faz uma constatação formal de violação de tratados internacionais pelo Brasil. O Comitê havia recebido a queixa em setembro e, depois de uma avaliação, chegaram à conclusão de que as regras precisam ser revistas. Após denúncias de ONGs e ativistas, a entidade avaliou o decreto 9.831 de 10 de junho, como tendo desmantelado os sistemas de controle de tortura e prevenção no Brasil. O organismo também pede que as “autoridades brasileiras se comprometam sobre a melhor forma de fortalecer a eficácia de seu sistema de prevenção da tortura, incluindo quaisquer propostas de reforma para reforçar seu Mecanismo Nacional de Prevenção”. O sub-comitê da ONU afirmou ainda que “a adoção e entrada em vigor do Decreto Presidencial nº 9.831 enfraqueceu severamente a política de prevenção da tortura no Brasil”.

TUCANOS FAXO

Roberto Rocha, o novo líder do PSDB no Senado, tem vários cacoetes bolsonaristas: além de ter a bandeira do Brasil ao lado de seu nome no avatar do Twitter, o relator da reforma tributária na Casa adota palavras caras ao bolsonarismo, como “esquerdopatas”. Foi este o termo que usou para defender a gestão do ministro Abraham Weintraub (Educação), bombardeado até por setores do próprio olavismo. Foi bombardeado até por lideranças históricas do PSDB, como a economista Elena Landau, do Livres, que postou um comentário dizendo que ele “começou mal”.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, desagrada os esquerdopatas, mas agrada os cidadãos brasileiros de bem.
Ele tem nosso apoio e confiança para seguir mudando os rumos da política educacional brasileira. pic.twitter.com/1WSiIrSARd

— Roberto Rocha(@SigaRoberto_) December 15, 2019

Por Vera Magalhães

BOCA ROTA

A relação tortuosa que Jair Bolsonaro tem com os fatos e as versões é conhecida e histórica, mas nesta semana ele se superou: deu uma declaração, para depois desmenti-la menos de 24 horas depois. É sobre essa característica que Bruno Boghossian escreve em sua coluna na Folha.

Ele disse ter feito um exame para averiguar um possível câncer de pele e, depois, acusou a imprensa de mentir. “Poderia até parecer que, finalmente, Bolsonaro confessava ser um fabricante de notícias falsas. Mas era só o exemplo mais nítido de seu método de manipulação. O presidente da República adultera fatos e frauda todo tipo de informação sem corar”, escreve o colunista.

O colunista lembra que o método de falsear a realidade do presidente já rendeu desconfiança em pesquisas como a do Datafolha, que mostra que 43% não acreditam no que ele fala. “Bolsonaro costuma citar o versículo bíblico João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’. O trecho fala da libertação daqueles que aceitam a palavra divina, mas o presidente distorce até as Escrituras para explorá-las em sua guerra contra os fatos. Como se vê, o governo não busca apoio, mas veneração”.

Por Equipe BR Político

AH QUE BOM…

O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e hoje assessor especial da Presidência, afirma em entrevista a O Globo que não vê nenhum risco de ruptura da democracia. “O Brasil hoje é um país que conta com instituições amadurecidas, portanto dispensa o uso de mecanismos não constitucionais”, disse ele, quando questionado sobre declarações recentes como as de Eduardo Bolsonaro de que poderia haver um “novo AI-5”. Ele disse que “fomos repetidamente colocados à prova. Não vejo nenhum risco.” Na entrevista, a primeira de uma série sobre a década de rupturas encerrada agora, Villas Bôas revê episódios como o do impeachment de Dilma Rousseff. Confirma que houve sondagem por parte de parlamentares de esquerda a respeito de como o Exército reagiria em caso de decretação de Estado de Emergência, mas negou que a ex-presidente tenha cogitado adotar a medida.

Por Equipe BR Político

A CARA DO BRASIL

Outro dia, de passagem por Brasília, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ouviu de um presidente de tribunal:

– Viu como o Congresso perdeu qualidade depois da eleição passada?

Respondeu de bate pronto:

– Não. Ficou apenas com mais cara do povo brasileiro.

Por Ricardo Noblat

VELHO DA HAVAN

O ator, escritor, roteirista e humorista Gregório Duvivier conseguiu a segunda vitória na Justiça contra o empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, de acordo com informações da coluna de Lauro Jardim, em O Globo. Duvivier foi ao Twitter ironizar: “Se perder de novo, Luciano Hang pode pedir música no Fantástico!”, disse. A referência é ao quadro esportivo do programa dominical da Rede Globo, que permite que os jogadores que marquem três gols na mesma partida possam pedir para tocar uma canção de sua preferência. O motivo da demanda foi uma postagem de Duviver, no Twitter, que dizia o seguinte: “Tô tisti alguém mata o véio da havan”. O empresário, também conhecido como Véio da Havan, alegou que, além de ter sofrido injúria, houve incitação ao homicídio.

A juíza Maria Tereza Donatti, da Justiça do Rio de Janeiro, em agosto, já não havia aceitado a solicitação de Hang: “O que temos é a irresignação de um cidadão diante de uma piada formulada por um humorista, nada além disso”. Hang recorreu e os desembargadores da Primeira Turma Recursal Criminal do TJ-RJ recusaram o pedido do Véio da Havan. Na decisão, pesou o fato de há dois meses Hang ter assumido o apelido publicamente.

Se perder de novo @luciano_hang pode pedir música no fantástico! https://t.co/mXPX4yP5kZ

— Gregorio Duvivier (@gduvivier) December 16, 2019

VIZINHO CHATO

Após o presidente Jair Bolsonaro fazer críticas a medidas adotadas na Argentina e Venezuela que, segundo ele, refletem no Brasil, porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou nesta terça, 17, que o inquilino do Palácio do Planalto se preocupa com a “soberania” do Brasil. “O presidente tem preocupação com a nossa soberania, com o avançar do nosso país. Existem questões de recepção de refugiados na região Norte com a qual nós trabalhamos com afinco, incluindo as Forças Armadas; e existem questões referentes à estabilidade nos pontos de fronteira”, disse o porta-voz.

Por Equipe BR Político

COMUNAS DEBAIXO DA CAMA

Em artigo recheado de teorias da conspiração para o site bolsonarista Terça Livre, o chanceler Ernesto Araújo escreve sobre uma suposta volta da ameaça comunista na América Latina. O texto também está disponível no site do Itamaraty. Ernesto demonstra ter mais fé na volta do comunismo do que a própria esquerda.

Intitulado “Para além do horizonte comunista”, o artigo diz que não há dúvida de que a América Latina “viveu dentro de um horizonte comunista” desde 2005 ou desde as vitórias eleitorais do ex-presidente Lula, em 2002, ou do ex-líder venezuelano Hugo Chávez, em 1999. Nesse contexto, segundo ele, o “horizonte comunista” quer voltar a “estrangular” o Brasil, a Bolívia, o Chile, a Colômbia e o Equador e pretende levar “as trevas” para a Venezuela, Argentina e México.

O ministro das Relações Exteriores afirma que o globalismo é a ferramenta para a construção do comunismo. Segundo ele, globalismo é a “a captura da economia globalizada pelo aparato ideológico marxista através do politicamente correto, da ideologia de gênero, da obsessão climática, do antinacionalismo”. Eis o inimigo do governo Bolsonaro.

Não à toa, o chanceler afirma que “no Brasil estamos rompendo o horizonte comunista e reenquadrando o liberalismo no horizonte da liberdade”, diz. Segundo Ernesto, o “horizonte comunista” também está sendo rompido nos EUA, Reino Unido, Hungria, Polônia e alguns países da África.

Por Equipe BR Político

OLAVO, PELA FILHA

Prestes a lançar um livro em que conta o lado “confuso e desonesto” do guru do clã Bolsonaro, Heloísa de Carvalho, primogênita dos oito filhos de Olavo de Carvalho, disse que o pai criou uma seita de fanáticos. “Ele é um guru. Criou uma seita de fanáticos seguidores. Se ele falar que o céu é cor-de-rosa, vão acreditar. Mudou o grupo, o discurso, os hábitos, mas continua sempre sendo uma seita de zumbis cegos que não o questionam”, disse, em entrevista a Camila Brandalise, do portal Universa, no Uol.

Segundo ela, o objetivo de Olavo sempre foi ter “influência e poder”. “De repente, ele conseguiu, e eu me vi em uma questão pessoal e moral de falar: ‘Peraí, vocês estão comprando uma fraude'”.

No livro “Meu Pai, o Guru do Presidente – A Face Ainda Oculta de Olavo de Carvalho”, que será lançado no dia 15 de janeiro, Heloísa conta histórias da vida do pai, que segundo ela chegou a ter três esposas ao mesmo tempo quando montou uma seita esotérica islâmica na própria casa.

Heloísa diz ainda que foi obrigada a se converter à seita, sendo casada pelo pai aos 16 anos. Ela afirma ainda ter encontrado a mãe em uma banheira após tentativa de suicídio. “Ela tinha cortado os pulsos, tem marcas até hoje. Saiu de lá para o manicômio. Meu pai deu meus irmãos para minha avó, e eu fui morar com ele”.

FRASES DA SEMANA

“Vou vetar o artigo [do projeto de lei anticrime aprovado pelo Congresso] que fala em triplicar a pena para crimes na internet, de injúria, calúnia, difamação. Internet é território livre. Eu quero a liberdade de imprensa.” (Jair Bolsonaro, que ataca a imprensa quase diariamente) 

“Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter. Tudo o que ele tem na cabeça é contra as outras pessoas, ele só tira das ofensas os três filhos. É um homem nefasto.” (Ana Maria Araújo Freire, mulher do educador Paulo Freire, chamado por Bolsonaro de energúmeno)

“Karol aprendeu da pior maneira possível que os homofóbicos estão mais livres para cometer violências contra LGBTs desde que a extrema-direita se tornou hegemônica e Bolsonaro se elegeu”. (Jean Wyllys, ex-deputado, sobre a agressão homofóbica à youtuber bolsonarista Karol Eller) 

“Bolsonaro tem de entender que quando tratamos de questões científicas não existe autoridade sobre a soberania da ciência. Não conteste e não se coloque contra porque você vai ser ridicularizado”. (Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) 

“Não olhe para nós procurando o fim da desigualdade social. Nos dê um tempinho. Nossa tentativa é diferente. Eles [programas sociais] virão, estão sendo elaborados”. (Paulo Guedes, ministro da Economia)  

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblçat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

Leia outros artigos da coluna: Ágora Digital

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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