16/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Que fase…

Publicado em 28/08/2019 12:00 - Victor Barone

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Que fase… O Brasil tem uma criança de oito anos de idade na presidência. A inabilidade de Jair Bolsonaro na lida com representantes de outras nações, com a oposição, com aqueles que pensam de forma diferente já ultrapassou os todos os limites. A última “traquinagem” do bobalhão do planalto já é notícia velha, mas não poderia deixar de comentar aqui as trapalhadas do presidente e suas ofensas à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, que levaram o presidente da França, Emmanuel Macron, a responder ao comentário feito pelo presidente no Facebook.

O chefe de Estado francês afirmou que o comportamento do presidente brasileiro foi “triste” e “extremamente desrespeitoso”. Macron disse ainda esperar “muito rapidamente” que os brasileiros “tenham um presidente que esteja à altura do cargo”.

Para quem passou batido pelo tema em meio a avalanche de informações que circula pela rede, vale lembrar: no último dia 24 Bolsonaro respondeu ao comentário de um seguidor que comparou a beleza da primeira-dama da França à de Michelle Bolsonaro.

“Agora entende por que Macron persegue Bolsonaro?”, escreveu o seguidor, na legenda da foto dos casais. “Não humilha cara. Kkkkkkk”, respondeu Bolsonaro, em comentário ainda visível em seu Facebook.

Em uma coletiva de imprensa ao lado do presidente chileno Sebastián Piñera, durante a cúpula do G7 em Biarritz, Macron foi questionado por jornalistas sobre o comentário de Bolsonaro.

“O que eu posso dizer? É triste. É triste primeiro para ele, e para os brasileiros”, disse. “As mulheres brasileiras sem dúvida têm um pouco de vergonha [de seu presidente]”, afirmou o líder francês.

As imagens da Floresta Amazônica em chamas provocaram comoção global e impulsionaram o assunto na agenda das discussões do G7. Emmanuel Macron tornou a situação uma das prioridades da cúpula, apelando para uma “mobilização de todos as potências” para lutar contra as queimadas e em favor do reflorestamento.

A questão, contudo, despertou uma intensa troca de críticas entre os governos do Brasil e da França. Macron anunciou sua oposição ao acordo de livre-comércio assinado entre a UE e o Mercosul, acusando Bolsonaro de ter mentido sobre seus compromissos com o meio ambiente.

Sua posição foi apoiada pela Irlanda, que também usou as políticas ambientais brasileiras para criticar o pacto. Em seguida, a Finlândia, que atualmente detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu que os países do bloco avaliem a possibilidade de banir a importação de carne bovina do Brasil. 

As provocações do lado brasileiro se tornaram mais diretas. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, postou no Twitter uma mensagem atacando Macron e fazendo um trocadilho com seu sobrenome. “Mais fogo em Angola e Congo do que na Amazônia…. e o Mícron não fala nada …. por que será? Será que é por que eles não concorrem com os ineficientes agricultores franceses?”, escreveu Salles, acusando o presidente francês de se interessar pela proteção da Amazônia apenas para tentar enfraquecer o agronegócio brasileiro.

Já o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou Macron de “cretino” e disse que a França tem um líder sem caráter. “O Macron não está a altura deste embate. É apenas um calhorda oportunista buscando apoio do lobby agrícola francês”, escreveu no Twitter.

Como se não bastasse, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que almeja o cargo de embaixador brasileiros nos Estados Unidos, não foi nada diplomático ao criticar o presidente francês. “Quando um presidente tem baixa popularidade, o que ele faz? Tenta atrair um tema para unir seus nacionais. Não é à toa que ele (Macron) fez isso, ele quer fazer da nossa Amazônia uma questão política”, disse, durante sessão na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Em seguida, o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que irá assinar uma moção de repúdio ao francês. “Quero crer que governo e oposição estarão juntos aprovando esse repúdio a esse moleque presidente francês”.

Eduardo, que é presidente da comissão, fez questão de pedir ao deputado Aluisio Mendes (Podemos-MA) que assumisse seu lugar, para que pudesse fazer comentários sobre o assunto. “Nós temos queimadas, ninguém está virando a cara para isso. Agora, querer fazer fake news e exagerar isso para ter ganhos políticos, aí eu acho que o termo ‘molecagem’ ficou até barato”, afirmou. Na semana passada, o deputado compartilhou em seu Twitter um vídeo que chamava o presidente francês de ‘idiota’.

Para completar a lambança, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que Emmanuel Macron é de esquerda. Em seguida, Bolsonaro se declarou como “centro-direita”. Um repórter contrapôs a fala do presidente da República: “Na França, ele é considerado centro-direita”. Bolsonaro rebateu: “Para você, para mim não. Ele sabe que é de esquerda, até pelo seu comportamento”.

Depois de tudo isso, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o comentário ofensivo do presidente Jair Bolsonaro à primeira-dama francesa foi retirado de rede social “para evitar dupla interpretação”. “A fim de evitar dupla interpretação, o comentário foi retirado da rede social. Foi para evitar qualquer outra interpretação”, disse Barros. Bolsonaro negou que o comentário fosse ofensivo. A resposta do inquilino do Palácio do Planalto causou uma campanha nas redes sociais de desculpas a Brigitte.

A primeira-dama da França, Brigitte Macron, agradeceu o apoio que recebeu de brasileiros na sequência de um comentário ofensivo do presidente Jair Bolsonaro. Em português, ela disse "muito obrigada". "Apenas queria dizer duas palavras para os brasileiros e as brasileiras, em português: Muito obrigada! Muito, muito obrigada a todos que me apoiaram", disse a primeira-dama, durante uma cerimônia em Azincourt, no norte da França. Após os aplausos, ela acrescentou: "os tempos estão mudando".

"Existem aqueles que já embarcaram nessa mudança. As mulheres estão aí. Com vocês. Como vocês. Nem todos parecem ter compreendido isso, mas tenho certeza que não vai demorar para que eles também embarquem", finalizou. Mais tarde, ao sair do evento, ela disse esperar que os brasileiros escutem seu agradecimento. "É muito importante que escutem. Fiquei muito emocionada".

"Para além de mim, é por todas as mulheres. Todas as mulheres se viram afetadas. As coisas estão mudando. Todo mundo deve estar consciente disso. Há coisas que não se pode mais dizer e coisas que não se pode mais fazer", concluiu.

“O presidente Jair Bolsonaro só diz as barbaridades que diz porque não lhe são interpostos a contento os devidos freios, se não jurídicos, de natureza ética. A rigor, o que ocorre é exatamente o oposto. De seus fiéis apoiadores, uma parcela estimada em 30% dos eleitores, e de seu círculo próximo de colaboradores – alguns deles, na verdade, meros bajuladores –, o presidente tem recebido o incentivo incondicional e barulhento para agir exatamente como tem agido, ou seja, estimulando conflitos em vez de ser o agente primaz da pacificação de um país esgarçado.” Trecho de editorial do Estadão de quarta-feira, 28.

CRISE AMBIENTAL E SOBERANIA

A crise amazônica trouxe definitivamente de volta à pauta uma discussão dos anos 1960 e 1970: a da soberania nacional. Em sua coluna, Eliane Cantanhêde mostra que, ao lançar a tese de internacionalização da Amazônia, o presidente da França, Emmanuel Macron, deu um discurso poderoso a Bolsonaro e levou a que os militares se unissem de novo em torno de seu governo. “Com o escorregão de Macron, todos perfilaram, bateram continência e respiraram aliviados por ter bons motivos para reverenciar o capitão que virou “comandante em chefe.” Ele manda, eles obedecem. Ele cobra soberania e patriotismo, eles adoram. Ele grita “a Amazônia é nossa”, eles fazem coro. O resto é passado”, escreve ela.

A defesa da soberania também atiçou o guru Olavo de Carvalho. Ao receber uma homenagem em Washington, ele defendeu que os militares ocupem a Amazônia como forma de defesa da soberania e afirmou que o Brasil saiu “ganhando muito” com a crise internacional pelo meio ambiente, pois o assunto acabou unindo o Brasil em torno de Bolsonaro, informa a correspondente do Estadão Beatriz Bulla.

Por fim, a Coluna do Estadão mostra que o Planalto trata como perigo real a perda de soberania sobre reservas indígenas como Raposa Serra do Sol –algo de que Jair Bolsonaro falou na live semanal desta quinta-feira. De acordo com um conselheiro do presidente, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) abre brecha para que os índios pleiteiem a emancipação.

Por Vera Magalhães

AS QUEIMADAS

O governo aceitou uma oferta de R$ 50 milhões do Reino Unido para combater as queimadas na Amazônia. Mas Jair Bolsonaro continua negando os US$ 20 milhões oferecidos pelo presidente francês Emmanuel Macron durante o encontro do G7. Agora, porém, Bolsonaro diz que aceita se Macron “retirar os insultos” feitos a ele. Na reunião com governadores dos nove estados que integram a Amazônia Legal, as prioridades do mandatário brasileiro foram questionadas. “Estamos perdendo muito tempo com o Macron“, disse o governador do Pará Hélder Barbalho (MDB). Os governadores cobram um plano de ação do governo federal para conter o desmatamento.  

O local mais atingido pelas queimadas este ano no Pará é o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Terra Nossa, assentamento do Incra onde vivem 300 famílias. Segundo a Pública, foram 197 focos de incêndio só este mês – 319% a mais do que em agosto do ano passado. Em 10 de agosto (o “Dia do Fogo”), os focos quadruplicaram. 

Na mesma reunião com governadores, Bolsonaro resolveu levar o assunto que constrange seu governo para a seara da demarcação de reservas indígenas. De acordo com o presidente, que já culpou as ONGs pelos incêndios provocados por grileiros e produtores rurais, as reservas são uma tentativa de “inviabilizar” o país. “Muitas reservas têm o aspecto estratégico. Alguém programou isso. Uma das intenções é nos inviabilizar”. Bolsonaro também afirmou, sem base ou provas, que se fizesse a demarcação de terras indígenas, o fogo na Amazônia acabaria em minutos. 

E o Senado deve instaurar, ainda esta semana, a CPI da Amazônia, para investigar o desmatamento, as queimadas na região e os motivos que levaram o governo a perder os recursos que Alemanha e Noruega destinavam ao Fundo Amazônia. 

O Ministério Público do Pará alertou o Ibama, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, sobre as queimadas planejadas por fazendeiros da região, realizadas em 10 de agosto, como forma de manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, informa a Revista Globo Rural. O Ibama, no entanto, respondeu “que devido aos diversos ataques sofridos e à ausência do apoio da Polícia Militar do Pará”, não seria possível agir por causa de “riscos relacionados à segurança das equipes em campo”. O órgão ainda informa que haviam sido “expedidos ofícios solicitando o apoio da Força Nacional de Segurança”, mas que não havia obtido resposta. O ato dos sindicalistas, produtores rurais, comerciantes e grileiros foi combinado por meio de um grupo de whatsApp, afirma a publicação.

O patriotismo do governo Bolsonaro, que diz querer proteger a Amazônia de interesses estrangeiros, é interessante. Há pouco tempo o presidente revelou em entrevista: “Quando estive agora com Trump, conversei com ele que quero abrir para ele explorar a região amazônica em parceria”.  Bom, a matéria de Lee Fang no Intercept mergulha fundo nessa parceria. Traz informações sobre documentos que mostram como lobistas republicanos favoráveis ao governo Trump iniciaram conversas com o governo brasileiro para promover o investimento empresarial na Amazônia.

Em junho, o governador do Amazonas Wilson Lima (PSC) começou a trabalhar com o InterAmerica Group, uma empresa de lobby com sede em Washington DC, fundada por Jerry Pierce Jr., que foi chamado para representar o governo amazonense em reuniões com agências federais e o Congresso. O InterAmerica Group também já apresentou um pacote informativo montado para empresas americanas em nome do governador brasileiro, promovendo a região amazônica por seu potencial de desenvolvimento. Entre as “oportunidades” para empresas americanas estão mineração, agronegócio e indústria química de gás. 

Ex-ministro da Agricultura e uma das lideranças do agronegócio no Brasil, Blairo Maggi está receoso com as consequências da repercussão do aumento dos números de incêndios no país. Para ele, a imagem de um Brasil preocupado com a preservação ambiental está desgastada no exterior.  "Nos últimos anos, os setores exportadores do país tiveram grande trabalho de refazer essa imagem do Brasil e mostrar que temos controle de desmatamento e de todas questões ambientais. Tínhamos conseguido superar bem esse assunto. Mas agora teremos que refazer tudo isso", diz ele à BBC News Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro, ao menos por enquanto, vai ficar longe dos representantes do setor da agropecuária. Ele estaria sendo aconselhado a não ir até a Expointer, feira do setor que está acontecendo nesta semana em Esteio (RS). Segundo o jornal Zero Hora, o motivo do “conselho” dado por assessores próximos seria a falta de anúncios positivos para o setor, além da crise gerada pelas queimadas na Amazônia, que pode causar problemas ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

Os efeitos das queimadas para a saúde humana são o assunto de reportagem da BBC Brasil. A lista de problemas provocados pela inalação da fumaça inclui dor e ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, rouquidão, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos. Também agrava quadros de doenças prévias, como rinite, asma e bronquite. Além disso, as queimadas podem desencadear essas enfermidades, assim como as cardiovasculares, insuficiência respiratória e pneumonia. Provocam quadros de alergia e há o risco de desenvolvimento de câncer quando a exposição é permanente. Quem mais sofre são crianças e idosos. A ONG Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé denuncia que as queimadas feitas por grileiros nos últimos dias estão agravando a situação de saúde de indígenas Uru-eu-wau-wau, no Parque Nacional de Pacaás, em Rondônia.

E os efeitos do fogo nas cidades, que tanto espantaram paulistanos na semana passada, chamando atenção de todo o país, são comuns em partes ‘esquecidas’ do Brasil. Capitais como Cuiabá, Manaus, Rio Branco e Porto Velho convivem com a pluma de fumaça há anos. “O céu acinzentado por queimadas está presente, principalmente, em estados do Norte e do Centro-Oeste do Brasil, além do interior de São Paulo. Excepcionalmente [neste ano], até áreas do Sul têm obscurecimento do céu por queimadas”, explica à BBC Brasil a meteorologista Estael Sias.

TRUMP E AS QUEIMADAS

A notícia saiu primeiro no Intercept dos EUA, depois no do Brasil: duas empresas brasileiras que têm grande responsabilidade na destruição da floresta amazônica são controladas por um dos principais doadores da campanha de Donald Trump e do líder da maioria no Senado americano, Mitch McConnell. São a Hidrovias do Brasil e a Pátria Investimentos, controladas pela Blackstone – que, por sua vez, é um dos maiores grupos de investimento dos EUA. O co-fundador e CEO da Blackstone, Stephen Schwarzman, é “amigo próximo e consultor” de Trump. Ele e funcionários da Blackstone ainda doaram milhões de dólares para McConnell recentemente. E… a Blackstone também é firme no apoio a Bolsonaro. “O presidente brasileiro viajou a Nova York em maio para ser homenageado em um jantar de gala, patrocinado pela Refinitiv – uma empresa de que a Blackstone é acionista majoritária”, diz a reportagem de Ryan Grim. 

O MENOR DOS MENORES

The New York Times: “Jair Bolsonaro é o menor, mais maçante e mais insignificante dos líderes”. O jornal americano destacou mais uma vez a situação alarmante da floresta com a coluna "Uma devastação da Amazônia em todo o Brasil", publicada dia 26 na primeira página de seu caderno internacional. O jornal americano já havia ressaltado em outras reportagens que o desmatamento da Amazônia aumentou desde que Bolsonaro tomou posse e cortou subsídios para combater as atividades ilegais na floresta. “O presidente de extrema-direita acusou ONGs de colocar fogo na floresta depois que o governo cortou financiamentos, apesar de não apresentar nenhuma evidência”, afirma a reportagem.

A devastação na floresta também chamou a atenção de outros grandes jornais internacionais, que se empenharam nos últimos dias a contestar os pronunciamentos do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em sua maioria, os jornais têm associado o aumento do desmatamento na floresta à gestão do presidente, aos interesses do agronegócio e à falta de investimentos do atual governo em políticas ambientais. “Os ministros deixam claro que suas simpatias estão com os madeireiros, e não com os grupos indígenas que vivem na floresta”, diz o britânico The Guardian. Para o espanhol El País, o Brasil “arde em um ritmo recorde”. Enquanto isso, o também britânico Financial Times diz que o presidente facilitou o “boom do desmatamento”.

REPROVAÇÃO NAS ALTURAS

A desaprovação popular à pessoa de Jair Bolsonaro saltou de 28%, em fevereiro, para 53% em agosto. A avaliação negativa do governo também piorou: atingia 19% da população em fevereiro, está em 39,5%. Agora, exatos 29,4% acham o governo bom – o índice era 38,9% em fevereiro. Os achados são da pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes/MDA, que foi a campo entre os dias 22 e 25 de agosto, em 137 municípios e ouviu 2.002 pessoas. 

A saúde continua sendo o maior desafio do governo atual, com 54,7%, à frente até da educação (49,8%) e do emprego (44,2%). E também é o principal problema apontado pela população no governo (30,6%), à frente do meio ambiente (26,5%) e, de novo, da educação (24,5%). 

RUIDOSO SILÊNCIO

Jair Bolsonaro reagiu com um ruidoso silêncio à manifestação que seus simpatizantes fizeram no fim de semana passado em duas dezenas unidades da federação. Foi a terceira incursão dos bolsonaristas às ruas desde o início do governo. Os atos foram menores que os anteriores, atiçados e celebrados pelo presidente nas redes sociais. Dessa vez, Bolsonaro e seu clã tomaram distância do meio-fio. Até a madrugada desta segunda-feira, o capitão não esboçara reação no Twitter nem no Facebook. Nenhuma palavra.

Há método no silêncio do capitão. Bolsonaro e o pedaço do asfalto que lhe é fiel passaram a trafegar em faixas opostas. O presidente frita Sergio Moro, gruda em Deltan Dallagnol a pecha de esquerdista, hesita em vetar artigos da lei de abuso de autoridade. Tudo isso e mais a proximidade com Dias Toffoli. A rua enaltece Moro, sonha com Deltan na chefia da Procuradoria, pede o veto integral à lei anti-Lava Jato. E ainda exige o impeachment de Dias Toffoli.

Como não tinha nada a dizer sobre as demandas dos seus apologistas, Bolsonaro se absteve de demonstrar seus paradoxos em palavras. Ao longo do final de semana, inúmeros internautas postaram comentários nas redes sociais instando o presidente a sintonizar-se com a rua. Um deles, identificado como Bunny Sam, conseguiu arrancar meia dúzia de palavras do presidente. Não deve ter gostado do que leu.

"Cuide bem do ministro Moro", escreveu o internauta. "Você sabe que votamos em um governo composto por você ele e o Paulo Guedes." Em sua resposta, Bolsonaro não disse se irá retirar Moro do micro-ondas. E ainda insinuou que não se considera um devedor do ex-juiz. "Com todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha."

Se conversasse com seus botões, Bolsonaro talvez retornasse às redes sociais, nesta segunda-feira, para dar respostas às demandas de seus súditos. Sob pena de transformar dúvidas em hostilidade.

Na sexta-feira, nas pegadas de manifestações de rua em defesa da Amazônia, Bolsonaro ocupou uma rede nacional de tevê para tratar da encrenca das queimadas. Conseguiu ressuscitar as panelas. Se continuar desprezando a opinião dos seus adoradores, arrisca-se a juntar numa próxima manifestação a turma do panelaço com a tropa dos desiludidos.

Por Josias de Souza

SOBRE UM FIM

Por solicitação da ONU, um grupo do centro de pesquisas finlandês BIOS fez um estudo para contextualizar o relatório mundial da Organização sobre desenvolvimento sustentável. E os autores sustentam que “o capitalismo como o conhecemos” está chegando ao fim, porque depende de energia barata e ela está acabando. Vai ser preciso recorrer a fontes de energia menos eficientes que requerem “mais esforço e não menos” para serem produzidas, e o mercado não é suficiente para proporcionar soluções: os Estados precisam protagonizar a mudança. Mas isso esbarra em alguns governos – a matéria da BBC cita Trump (e podemos citar o nosso). O economista Paavo Järvensivu, um dos autores do estudo, considera que a ascensão desses governantes se deve em parte ao fato de os “partidos progressistas não terem proporcionado respostas suficientemente boas”: “Houve mais espaço para movimentos populistas que oferecem soluções fáceis – e que, na realidade, não são soluções”, sustenta.

RECORDE DE DESIGUALDADE

Neste segundo semestre, a desigualdade no Brasil registrou aumento persistente e superou o pico histórico observado em 1989. A conclusão é de um estudo da Fundação Getúlio Vargas: enquanto a renda da metade mais pobre da população caiu cerca de 18%, somente o 1% mais rico teve quase 10% de aumento no poder de compra. A principal causa é o desemprego. E os mais afetados são os jovens de 20 a 24 anos, os analfabetos, os moradores das regiões Norte e Nordeste e as pessoas de cor preta, que tiveram redução de renda duas vezes maior que a média geral. 

SEM INTERESSE

O programa Future-se apresenta o investimento privado como grande solução para as universidades públicas. Mas, como lembra o texto de Gergório Grisa no Intercept, o interesse das empresas em pesquisa é baixo: o dinheiro público representa mais da metade do investimento em P&D no Brasil. No resto do mundo, a tendência é a mesma. 

E o Nexo deu palco para Tiago Mitraud, deputado federal do Novo-MG, escrever que nossas universidades federais faliram. Ele diz que vê “com bons olhos” o Future-se: “A turma do contra, muitos dos quais estão diretamente envolvidos com o processo de falência do modelo atual, já está com o cabelo em pé. Preferem ignorar a existência do problema. Se recusam a fazer parte da solução e já se posicionaram contra o programa antes mesmo de sua versão final ser apresentada.” 

GAÚCHOS FASCISTAS

O encerramento da 47ª edição do Festival de Gramado foi marcado por um protesto de artistas contra os cortes de recursos para a Cultura e contra as mudanças na Agência Nacional do Cinema (Ancine) promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Ao passarem pelo tapete vermelho do Palácio dos Festivais antes da cerimônia de premiação do evento, um grupo de artistas realizou o ato, que contou com uma grande faixa com os dizeres “pelo cinema” e “contra a censura”. De acordo com o jornalista especializado em cinema Lucas Salgado, por causa da manifestação, os artistas foram alvo de vaias e tiveram jogados contra si restos de comida e pedras de gelo durante a passagem pelo tapete vermelho.

Apesar de ser palco de um dos mais tradicionais festivais de cinema do Brasil, que ajudou a transformar a cidade em um polo turística, Gramado é uma cidade politicamente conservadora. Nas últimas eleições presidenciais, Bolsonaro recebeu 82,5% dos votos válidos na cidade, contra apenas 17,5% de Fernando Haddad (PT). Contudo, a revolta da população local contra as críticas ao presidente não abalou os artistas, uma vez que a cerimônia foi marcada por novas manifestações de resistência. Durante a foto dos vencedores do Prêmio Kikito, foi estendida uma faixa com os dizeres: “Pelo cinema LGBT”.

HUGUINHO, ZEZINHO E LUIZINHO

Durou exatos 15 dias a abstinência do deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) das redes sociais. Depois de anunciar, no dia 10 de agosto, sua saída do Twitter, Facebook e Instagram por “problemas com a qualidade de vida”, o neo-tucano ativo um novo perfil no Twitter nesta segunda-feira (26) com o presidente Jair Bolsonaro e os filhos, Flávio, Carlos e Eduardo na mira.

Bunda suja. É como o deputado Pedro Tobias (PSDB-SP) e o ex-deputado federal José Aníbal (PSDB-SP) se referem a Alexandre Frota. Eles vão recorrer ao diretório nacional do PSDB para solicitar que a recente filiação do deputado, encomendada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), seja revista. Um dos argumentos que os deputados estão utilizando para justificar o impedimento de Frota é um vídeo de 2018 em que o ex-ator chama a sigla tucana de “suja como a bunda do PT”.

MUI AMIGO

Em meio a uma série de “cotoveladas” no ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro respondeu a um seguidor que lhe pediu para “cuidar bem” do ex-juiz da Lava Jato. “Jair Messias Bolsonaro cuide bem do ministro Moro, você sabe que votamos em um governo composto por você ele e o Paulo Guedes”, comentou um usuário na página oficial do presidente da República no Facebook. Bolsonaro respondeu, sem mencionar explicitamente o nome do ministro da Justiça: “Com todo respeito a ele (Moro), mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha, até que, como juiz, não poderia.”

Em visita ao Arquivo Nacional, o ministro Sergio Moro se blindou de seguranças para evitar a imprensa. O titular da Justiça chegou cercado de forte aparato policial, composto por quatro carros e 12 policiais militares em motos, e foi recebido pela diretoria do Arquivo e jornalistas. Sorridente ao chegar, fechou a cara ao ser perguntado sobre as manifestações ocorridas no domingo em todo o País contra o projeto de lei que limita o abuso de autoridade.

DE CARONA

Luiz Henrique Mandetta foi pego dando carona para um amigo num avião da FAB. Aconteceu nos dias 10 e 11 de março num voo que saiu de Mato Grosso do Sul, base eleitoral do político, passou por Macapá e pousou em São Paulo. O Ministério da Saúde respondeu que a carona a Wilson José Velasquez Maksoud fez parte de uma agenda de trabalho – embora não tenha esclarecido qual – e acrescentou que “pelas normas do Comando da Aeronáutica não existe impedimento” para a carona.  

TUDO CERTO…

Há quatro anos, membros da comunidade indígena de Guyra Kambi’y, que fica ao lado de uma fazenda de soja na região de Dourados (MS) foram contaminados por um avião de agrotóxicos. O MPF do estado ajuizou uma ação por danos morais coletivos no valor de R$ 286,5 mil contra o piloto, o proprietário rural e a empresa de aviação agrícola. Eis que, agora, a 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados considerou improcedente a acusação. “Há atividades que não podem ser suprimidas sem grave prejuízo à coletividade. O próprio combate à dengue, por exemplo, exige, muitas vezes, aplicação por pulverização de inseticida pelas ruas da cidade, para matar o mosquito”, declarou o juiz. Agência Pública e Repórter Brasil entrevistaram o procurador do caso, Marco Antônio Delfino de Almeida. “Na verdade a utilização dos agrotóxicos como armas químicas sempre ocorreu”, diz ele, que recorda outros casos e explica as dificuldades nesse tipo de processo. 

GENTE MÁ

A procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, publicou na noite o dia 27, na rede social Twitter, um pedido de desculpas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela trocou mensagens no aplicativo Telegram com outros procuradores da força-tarefa que tratava a morte de Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula, e o luto do petista com falecimentos de irmão e neto com ironia e tom conspiratório. No Twitter, Jerusa escreveu: “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”.

Jerusa Viecili aparece nos diálogos vazados em dois momentos. No primeiro deles, ela respondeu de maneira jocosa a notícia da morte de Marisa Letícia ao escrever “Querem que eu fique pro enterro?” Depois, ela compartilhou a notícia da morte do neto de Lula, Arthur, seguida da mensagem: “Preparem para nova novela ida ao velório.” Quando os procuradores comentavam sobre a ligação que Gilmar Mendes fez ao petista, durante o velório do menino Arthur, e que teria deixado Lula em prantos, Jerusa acrescentou: “GM (Gilmar Mendes) não dá ponto sem nó”.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou mensagem em que manifesta “extrema indignação” com o teor dos diálogos entre procuradores da Lava Jato a respeito das mortes de Marisa Letícia, de seu neto Arthur e de seu irmão Vavá. Os diálogos, obtidos pelo The Intercept Brasil e publicados pela Folha de S. Paulo, revelam desdém, desprezo, ódio e total falta de humanidade por parte dos integrantes do Ministério Público que produziram as acusações, “sem crime e sem provas”, como enfatiza Lula, que o levaram à prisão e a ficar fora da eleição de 2018.

“Há muito tempo venho dizendo que fui condenado por causa do governo que fiz e não por ter cometido um crime sequer. Tenho claro que Moro, Deltan e os procuradores agiram com objetivo político, pois me condenaram sem culpa e sem prova, sabendo que eu era inocente. Mas não imaginava que o ódio que nutriam contra mim chegasse a esse ponto“, diz a mensagem do ex-presidente.

O ministro Gilmar Mendes afirmou que é preciso reconhecer que o Supremo Tribunal Federal é cúmplice “dessa gente ordinária” e que a Corte participou de um grande vexame. O ministro se refere ao caráter dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, exposto pelas mensagens reveladas hoje pelo The Intercept Brasil por meio de reportagem da Folha de S.Paulo, jornal que integra o pool de veículos da mídia comercial que publica a série Vaza Jato.

Gilmar admitiu, segundo informações do editor Marcio Falcão, do site de notícias jurídicas Jota, que o Supremo foi conivente com a conduta abusiva dos procuradores, cujas ilegalidades vêm sendo desnudadas desde 9 de junho pelo Intercept. “É um grande vexame e participamos disso. Somos cúmplices dessa gente, homologamos delação. É altamente constrangedor. A República de Curitiba nada tem de republicana, era uma ditadura completa. (…) Assumiram papel de imperadores absolutos. Gente com uma mente muito obscura. (…) Que gente ordinária, se achavam soberanos”, afirmou o ministro do STF.

SUSPENSÃO

Na semana passada, o CNPq cancelou o apoio a cerca de 300 eventos científicos no Brasil. As propostas já haviam sido aprovadas pela agência estatal de incentivo, que sofre os efeitos do contingenciamento de verbas no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A suspensão repentina deixa vários organizadores em uma situação complicada para fechar as contas. Um dos eventos afetados pela mudança é o Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, que acontece no final de setembro em João Pessoa. O evento vai marcar a comemoração pelos 40 anos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Em entrevista ao Valor, João Luiz Azevedo, presidente do CNPq, nega os boatos de que o órgão vá cancelar todas as bolsas e pode ser fundido com a Capes, vinculada ao MEC. As negociações com o Ministério da Economia para a liberação de um crédito suplementar de R$ 330 milhões, necessário para pagar as 84 mil bolsas ativas, são ‘delicadas’, segundo ele, porque “pela lei d teto [EC 95], para o CNPq receber o aporte, outra área do governo terá de perder”. 

A CURA GAY E O CFP

Terminaram ontem as eleições para os conselhos regionais e federal de Psicologia, e não faltaram chapas apoiando tratamentos para mudar a orientação sexual de gays. A Agência Pública fala do grupo Psicólogos em Ação, que concorreu ao Conselho Federal e caiu no gosto da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves. A presidente da chapa, Rozângela Justino, já foi censurada pelo CFP por oferecer esse tipo de terapia. A vice, Deuza Avellar, visitou Damares em junho com outros psicólogos para apresentar o ‘Movimento Ex-Gays do Brasil’. 

Mas o discurso desses psicólogos mudou. Eles não falam mais em ‘cura’ nem chamam o ‘homossexualismo’ de doença. Agora, o termo técnico utilizado é “egodistônico”, que caracteriza alguém que está em conflito com o desejo e quer acabar com esse sofrimento psíquico. O problema é que, para a maioria dos pesquisadores, é justamente a tentativa de combater o desejo que causa o sofrimento. O fato é que o grupo Psicólogos em Ação não ganhou. Ficou em último lugar, com cerca de 5,4 mil votos, 5% do total. 

É PROIBIDO TER POSIÇÃO

E falando em Damares Alves, a ministra exonerou a coordenadora-geral do Conselho Nacional de Direitos Humanos, Caroline Dias dos Reis. A razão? O órgão de participação recomendou que o Senado rejeite a reforma da Previdência. A recomendação saiu no Diário Oficial na última segunda. No mesmo dia, Damares foi ao Twitter dizer: “Este conselho não é ligado a mim. Atua de forma independente. Aliás, recomendo que ignorem as manifestações ideológicas deste colegiado, que está longe de se preocupar com os direitos humanos.” No dia seguinte, resolveu interferir no Conselho, atacando a independência do órgão. O governo se defende dizendo que Damares “tem autonomia para nomear e exonerar” servidores. O presidente do CNDH, Leonardo Pinho, acredita que a retaliação seja por conta não só da posição do colegiado de 22 membros sobre a reforma, mas sobre outras propostas do governo.

NOVA ONDA

Vigiar fronteiras e fechar o cerco é uma estratégia para manter as drogas afastadas de um país – mas deve ser cada vez menos importante. A matéria da Vice fala sobre a venda de drogas sintéticas, feitas inteiramente em laboratórios, produzidas por indústrias químicas, vendidas online e contrabandeadas até pelo sistema postal: “Se essas tendências continuarem, a produção, venda e consumo de drogas sintéticas pode eclipsar as de drogas à base de plantas. Fronteiras vêm se tornando cada vez menos relevantes para traficantes e seus lucros, ao mesmo tempo em que comprometem a habilidade das autoridades de monitorar e regular o suprimento de drogas através de apreensões”. 

EXPLOSÃO DE ACIDENTES

Nos últimos dez anos, mais de 2,7 milhões de pessoas que se acidentaram de moto ficaram com invalidez permanente ou morreram. O número de pessoas envolvidas nesse tipo de acidente – incluindo os de menor gravidade, que não deixaram sequelas nas vítimas – é ainda maior: 3,3 milhões. No período, os acidentes com moto cresceram 72%, enquanto os acidentes com outros meios de transporte aumentou 28%. E o número de vítimas que sofreram algum tipo de invalidez permanente subiu inacreditáveis 142%. Os números são da seguradora Líder, responsável pela administração do seguro para danos causados por veículos, o DPVAT.

RECEBEU ALTA

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles recebeu alta do Hospital das Forças Armadas. Ele deu entrada na unidade na noite de terça-feira reclamando de “mal-estar”, mas segundo informações médicas, Salles “encontrava-se assintomático”. Ele foi submetido a exames e os resultados foram normais. Os médicos recomendaram ao ministro repouso pelo prazo de cinco dias.  Ministro do Meio Ambiente foi internado por ‘estresse ambiental’

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles desobedeceu as ordens médicas para “repousar” e foi às redes sociais protagonizar uma troca de acusações com o colega de partido Novo, o advogado Marcelo Trindade, que foi candidato da legenda ao governo do Rio.

“Fique tranquilo @mtrindadenovo que não entrarei contra vc no Conselho de Ética do partido”, tuitou Salles, compartilhando nota do site Antagonista, que diz que Trindade foi citado pelo ex-ministro Antonio Palocci, em delação “na suposta negociata envolvendo a disputa pelo controle do Pão de Açúcar”.

O advogado, no entnato, não deixou barato e retrucou na rede, acusando Salles de se colocar acima do partido. “@rsallesmma ao contrário de você, sei que o NOVO é muito mais importante do que eu, e portanto, apesar dessa baboseira, amanhã mesmo vou me desfiliar (mas não vou parar de apoiar), porque não aceito que minha presença prejudique o partido. Fica a dica. Melhoras da dor de barriga”, tuitou.

MENTIROSOS EM POLVOROSA

Eduardo Bolsonaro deu mais uma “rachadinha” na direita na tarde de quinta-feira (29). Ele fez questão de ir ao quase vazio plenário da Câmara para continuar a briga com Kim Kataguiri (DEM-SP) por causa da derrubada do veto presidencial ao parágrafo da lei que trata do endurecimento da legislação sobre fake news. A razão ele deixou claro: a lei, na visão de Eduardo, pode atingir em cheio a família Bolsonaro, além de outros influenciadores da “nova direita”. Ele avisou que o PSL irá ao tão criticado Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar a lei com uma ação direta de inconstitucionalidade.

Ninguém disposto a seguir aliado ao governo chama o filho do presidente da República de rato, moleque, mentiroso, covarde, “leãozinho de Twitter” que só posa de macho nas redes sociais, e de parlamentar relapso que vota projetos de lei sem tê-los lido. De tudo isso o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi chamado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), em discurso na Câmara.

DEMOROU

O vice-presidente Hamilton Mourão e outros militares do Exército estão no centro de uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a lisura de um contrato de compra, em outubro de 2010, de um sistema de simulação de artilharia. Mourão era gerente do contrato. A área técnica do tribunal pretende concluir a instrução da auditoria já em setembro. As informações são do Valor Econômico. De acordo com a reportagem, a conclusão das apurações depende do envio de informações complementares pelo Exército, que já pediu cinco prorrogações de prazo para mandar a documentação restante. As punições previstas vão de multa à inelegibilidade para o exercício de cargos públicos. A análise técnica dos auditores serve para instrução dos ministros, que podem ou não acolher as indicações em seus relatórios.

ONDE NÃO TEM SUS

No início do mês, um homem de 77 anos matou sua mulher, de 76, e se matou em seguida na Costa Oeste dos EUA. Não foi um crime passional, nem motivado por briga, nem por nenhuma razão que se possa imaginar intuitivamente: foi pelo desespero de não poder pagar dívidas médicas. Noticiado em todo o país, o episódio dá mais gás à discussão sobre a saúde nos EUA, que tem sido central por lá. E é mote para uma didática matéria da Piauí sobre esse debate. 

No sistema público-privado dos EUA, tudo é baseado em seguros de saúde. Quem pode, paga. E o governo subsidia o seguro de alguns grupos específicos, com o Medicare, voltado para maiores de 65 anos, pessoas com deficiência e população de baixa renda. Porém, mesmo esses grupos precisam pagar por medicamentos, hospital e tratamentos especiais. E o Obamacare, que fez aumentar muito o número de pessoas cobertas, é alvo constante do governo Trump.

Os altos custos vêm levando pessoas à falência – principalmente idosos e aposentados, que têm suas vidas destruídas justo no momento em que mais precisam dos serviços de saúde. Quem não é suficientemente pobre para se receber ajuda do governo também se vê em maus lençóis. “Vi muitos casos em que as pessoas tiveram seus cadastros negados por ganharem 1 dólar, 5 dólares a mais do que deveriam. Poderiam ser casais de baixa renda com crianças, mulheres grávidas”, conta uma pesquisadora que já trabalhou para o governo. Ao mesmo tempo, tem gente com dinheiro que contrata advogados para esconder a renda e usar o benefício.

A matéria faz paralelos com o Brasil, onde o SUS nos protege desse tipo de coisa. Mas não sabemos até quando: “O governo Bolsonaro tem falado em rever normas do SUS e, ainda que mantendo o acesso universal, previsto na Constituição, quer discutir conceitos como a equidade em saúde, que obriga o governo a fornecer medicamentos de alto custo. Em julho, o Ministério da Saúde rompeu contratos com laboratórios de produção de dezenove remédios distribuídos gratuitamente no SUS”, diz o texto.

LETALIDADE MÁXIMA

Em El Salvador, o índice de homicídios provocados por policiais em serviço representa 10,3% de todos os assassinatos que acontecem no país. Na Venezuela, a fatia sobre para impressionantes 25,8%. Mas no Rio de Janeiro, esse número é de nada menos do que 29%. Em São Paulo, fica em 19%. Os números são de um documento da Open Society Foundation lançado no México ontem. A média brasileira é de 7,3%. 

MAIS UMA EXILADA

A professora, escritora e articulista do The Intercept Brasil Rosana Pinheiro-Machado anunciou na quarta-feira (28), em suas redes sociais, que está deixando o Brasil. Ela diz que não sabe se pode considerar o seu caso como mais um episódio de “auto-exílio” em tempos bolsonaristas, assim como o de outras pessoas contrárias ao governo que deixaram o País recentemente – como a professora Débora Diniz e o ex-deputado Jean Wyllys -, após receberem ameaças, mas afirma que estava a sua situação já estava ficando insustentável devido ao nível de mensagens ofensivas e ameaçadoras que ela vinha recebendo. Rosana conta que vinha sofrendo ataques há anos. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre, doutora e pós-doutora em Antropologia Social pela mesma universidade, com outro pós-doutorado pela universidade americana de Harvard, Rosana era professora visitante na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desde 2017 e teve o contrato encerrado recentemente.

JORNAL NACIONAL

“O Jornal Nacional recebia, e vamos reportar muito sobre isso logo, vazamentos da Lava Jato dizendo que tal político foi acusado em uma delação (…) A Globo lucrou muito sem fazer jornalismo. O papel do jornalismo era de parceria com a Lava Jato e Sergio Moro”, disse o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, em conversa com o apresentador Juca Kfouri, no programa Entre Vistas, da TVT.

ANALFABETO

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, escreveu duas vezes a palavra paralisação usando a letra z em ofício endereçado ao ministro da Economia, Paulo Guedes. No documento, Weintraub alerta que os recursos previstos para o ministério em 2020 são insuficientes para a prestação de serviços públicos, como a compra de livros escolares, e podem levar à interrupção das atividades em universidades públicas.

BOZOLÂNDIA

Durante sua live semanal no Facebook, Jair Bolsonaro alfinetou dois cotados a enfrentá-lo nas próximas eleições presidenciais: o governador de São Paulo João Doria (PSDB) e o apresentador de TV Luciano Huck. Voltando a citar a lista de beneficiados com financiamentos com juros subsidiados do BNDES para compra de jatinhos na época dos governos do PT, o presidente disparou: "Já apareceu aquela galerinha da compra do avião com 3% 3,5% ao ano. Luciano Huck, que teta hein? Sou o último capitulo do caos?! Não foi ilegal a compra, reconheço, mas poxa, só pra peixe. João Doria também comprou. Comprou também Doria? Explica isso aí. Só peixe, amigão do Lula e da Dilma. Depois eu vejo Doria falando 'minha bandeira jamais será vermelha'. É brincadeira. Quando estava mamando a bandeira lá, a bandeira era vermelha foiçasso e um martelo sem problema nenhum, né?" Veja aqui o vídeo.

Leia outros artigos da coluna: Ágora Digital

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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