29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

A Recessão dos Reaças

Publicado em 14/08/2019 12:00 - Rodrigo Amém

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Vamos supor que você quer investir seu dinheiro suado em títulos do Tesouro Americano. Aí tem duas opções: investir por cinco anos ou por um ano. Em qual das alternativas você receberá juros mais altos?

Se você respondeu "cinco anos", parabéns. Investimentos a longo prazo costumam pagar juros mais altos. É como uma recompensa por confiar no governo por mais tempo. Faz sentido ganhar mais por investir no governo mais tempo, não faz? Colocado num gráfico, essa diferença nos juros de curto e longo prazo cria o que se chama de Curva de Yield.

E o que acontece quando o investimento de curto prazo passa a pagar mais? A Curva de Yield inverte. E o que isso quer dizer? Nas últimas décadas, toda vez que o tal gráfico se inverteu serviu de presságio para recessão para o ano seguinte.

Foi uma dessas inversões que anunciou a crise de 1998, que desancou FHC e PSDB do poder, mesmo com plano Real e todas as benesses da reestruturação econômica do governo tucano.

Da última vez, em 2007, a invertida anunciou a crise que abateu o Brasil em 2009 e deu início ao movimento de exorcismo do petismo.

Por uma dessas coisas complicadas da vida contemporânea, o mercado norte-americano pauta muito os movimentos políticos da terrinha. Mesmo que seu grupo de Zap nacionalista minta que não é assim.

Mas o que está causando essa "inversão"? Muita coisa, na verdade. Resumidamente, essa onda de reacionarismo ocidental. Tem o Trump perseguindo imigrante, dificultando a produção interna e ainda fazendo guerra tarifária e a China retaliando. Tem o Reino Unido preparado para se jogar num Brexit sem acordo com a UE. Tem movimentos reacinhas nacionalistas em diversas partes do mundo.

A próxima recessão, senhores, vai ser a primeira consequência global do grupo de WhatsApp do seu tio bolsominion e seus pares ao redor do globo (ou da planície, se ele também for terraplanista).

2020 vai ser um ano muito pior que 2019. Assistiremos à impotência da direita populista diante do atoleiro que eles mesmos criaram. E vai ser curioso porque, ao contrário do que aconteceu nas edições anteriores, ninguém no comando terá a menor ideia de como reagir.

George Bush, por exemplo, era meio ignorante, mas é um doutor em economia se comparado com Trump, além de estar amparado por gente (horrível) de excelência técnica.  Donald não só é um completo apedeuta como se recusa a ouvir especialistas qualificados. Seu principal conselheiro, Lerry Kudlow, não é economista. Vou repetir: o expert em economia da Casa Branca não é economista. Ele foi contratado porque aparecia na TV falando de economia. É como contratar o Galvão Bueno para ser atacante do Barça. O segundo homem de confiança de Trump é Steve Mnuchin, cujo maior êxito empresarial é ser produtor do filme Lego Batman. Ju-ro.

Sem a mão invisível do capitalismo do norte para guiar, o povo aqui debaixo da linha do Equador vai ter que se virar. E a gente sabe que ninguém vira o disco mais rápido do que liberal pressionado. Haja vista nosso hermano Macri. Bastou perder uma prévia de eleição para jogar todos seus princípios neoliberais pela janela e interferir na economia como se fosse um cover do Maduro.

Não tenha a inocência de achar que aqui vai ser diferente. Depois do terceiro trimestre de crescimento negativo, nossos mandatários vão começar a recorrer a planos heterodoxos, decretos, congelamentos de preços. Viveremos um novo mergulho saudosista em peripécias estilo governo Collor.

Assim como o mais poderoso assessor econômico de Trump, também não estudei economia. Então, não tenho cacife (nem cara-de-pau) para dar conselhos econômicos. Mas vou compartilhar com vocês o que fiz com minha miserinha que tinha guardado. Apliquei em fundos atrelados à inflação. Não entendo de economia, mas conheço nossos políticos. Sei que não resistem à uma canetada para resolver problemas que requerem inteligência e experiência. Meu palpite é que, em dois anos, teremos um outro revival dos anos 80. E, dessa vez, não vai ser a pochete que vai voltar a ser onipresente no Brasil.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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